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Ação pede a penhora da Timemania
Justiça recebe solicitação para que renda da loteria quite dívida trabalhista, em caso de ex-atleta contra o Botafogo
Advogados discordam sobre
chance de vitória da ação,
mas já prevêem enxurrada
de pedidos e dificuldades
financeiras para os clubes
RODRIGO MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
Aprovada pelo Congresso no
último mês, a Timemania tem
como objetivo resolver as dívidas dos clubes com o governo
federal, maior credor do futebol. Excluídos, os jogadores,
que representam o segundo
passivo em volume dos times,
iniciam movimento para dar
uma mordida no dinheiro que
será gerado pela loteria.
Isso pode obrigar os clubes a
pagarem o parcelamento da dívida fiscal de seu próprio bolso.
E pode até inviabilizar a loteria,
cuja expectativa é de arrecadação de R$ 500 milhões/mês.
Em ofício à 18ª Vara do Trabalho do Rio, ontem, o advogado do ex-atacante Donizete,
Luiz Roberto Leven Siano, pediu que recursos da Timemania
fossem usados para quitar a dívida do Botafogo com seu cliente. Decisão judicial diz que o valor é de cerca de R$ 8 milhões.
A ação dá início a uma briga
que o sindicato dos jogadores
previa para o próximo ano. A
entidade admite orientar os
atletas e seus advogados a entrarem com pedido igual ao de
Leven Siano, que também promete pedir a penhora da receita
do Fluminense.
Em sua petição, o advogado
diz que o artigo 186 do Código
Tributário Nacional (CTN) estabelece que as dívidas trabalhistas têm prioridades sobre
os outros débitos. Em segundo
na fila estão os débitos fiscais.
"O código tributário é complementar sobre a lei ordinária,
que é a da Timemania. Portanto, o código se sobrepõe na hierarquia das leis", afirma Leven
Siano. "O governo e os clubes fizeram uma lei para resolver
seus débitos fiscais, mas podem
ter dado um tiro no pé."
O advogado pede a penhora
integral do rendimento a que o
Botafogo tem direito para pagamento da dívida trabalhista.
E diz que juízes trabalhistas receberam com simpatia sua tese.
Procurado, o advogado do
Botafogo Vantuil Gonçalves
não respondeu as ligações. A
Folha apurou que ele questionará a tese de Leven Siano.
O advogado do Clube dos 13,
Celso Rodrigues, diz que ela
não tem fundamento. "Ele [Leven Siano] não tem como penhorar uma renda que não é
dos clubes. As receitas são direcionadas especificamente para
pagar os débitos fiscais."
Não é a opinião do vice da Federação Nacional de Atletas
Profissionais de Futebol (Fenapaf), Rinaldo Martorelli, que
orientará jogadores a buscarem
direitos sobre a Timemania.
"Se for possível, podemos até
entrar com uma ação coletiva
para requisitar a penhora", explica. "Já existe um precedente
para este caso no dinheiro da
loteria esportiva."
Martorelli reclama que,
quando foi discutida a Timemania, pediu ao governo que as
dívidas trabalhistas fossem incluídas. "Mas houve uma negligência em relação a nós."
Advogada especialista em defender atletas, Gislaine Nunes
entende que é difícil conseguir
penhorar rendas da Timemania. Para ele, o governo é o único beneficiário do dinheiro.
"Alguns jogadores já me ligaram para perguntar sobre isso,
mas tenho recomendado que
ninguém tente", comenta.
Gislaine, porém, admite que,
se a tese de Leven Siano for vitoriosa, gerará uma enxurrada
de ações de outros jogadores.
Procurado às 15h, o Ministério do Esporte ligou de volta,
via assessoria, às 19h, afirmando que não poderia fazer comentários sobre o assunto.
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