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São Paulo, quinta-feira, 06 de novembro de 2003

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Receitas do "Mestre Cuca" temperam reação do Goiás


Com tática de três volantes e três atacantes, treinador foge da mesmice, muda esquemas e faz da equipe do Centro-Oeste a melhor do segundo turno do Brasileiro


PAULO COBOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Seu último esquema tático é capaz de desagradar tanto a quem defende um time mais ofensivo quanto aos adeptos de um estilo com forte ênfase na marcação.
É assim, mudando receitas e desafiando convenções da bola, que Alexis Stival, o Cuca, 40, ajudou a transformar o Goiás de lanterna em sensação do Brasileiro-2003.
O dono da melhor campanha do returno, sob o comando do treinador paranaense, já atuou no 3,5,2, no 4-4-2 e no 4-3-3.
Cuca também trocou jogadores de posição. Foi o caso, por exemplo, do meia ofensivo Cléber, agora titular da lateral direita. Movimento inverso fez Leandro Smith, que deixou a lateral esquerda para atuar como meia-atacante em algumas partidas no Brasileiro.
Mas é agora, em uma série de cinco vitórias seguidas, que o Goiás mais foge dos padrões.
O time simplesmente joga sem meias. São três volantes, para desespero de quem não gosta dos jogadores dessa posição, e três atacantes, para desagrado de quem acha que um time fica desprotegido atuando dessa forma.
Cuca, respaldado pela campanha do time, não vê nenhum problema na sua escolha."Não existe mistério em jogar com três volantes, desde que eles não sejam só brucutus. É uma maravilha ter um jogador no meio-campo que crie e ainda consiga marcar", diz o treinador sobre Josué, Marabá e Simão, os escolhidos por ele para compor o meio-campo do Goiás.
Quanto ao uso de três atacantes, o treinador oferece uma explicação bem mais inusitada.
"Gosto de montar o Goiás com três atacantes. Os motivos são as peças que tenho e o campo grande do Serra Dourada [no qual o time manda seus jogos]", declara Cuca, apostando em muito espaço para a movimentação do trio Grafite, Araújo e Dimba.

Avestruz
Para explicar sua concepção de futebol, Cuca usou outra fórmula estranha. Segundo ele, o Goiás deveria jogar seguindo os movimentos de um avestruz.
"Quando estamos com a bola, ficamos igual a um avestruz quando ele abre as asas, leve. Isso porque ele não tem pena, e sim pluma, e tenta abranger os espaços. Quando perdemos a bola, ficamos do mesmo jeito quando o bicho fecha as asas, se protegendo", diz o treinador, pedindo que seu time ataque e defenda em bloco.
Tanto na defesa quanto no ataque as opções de Cuca funcionaram no segundo turno.
O time tem média superior a dois gols marcados por jogo e inferior a um sofrido. Assim, venceu 12 de 17 jogos e saltou da lanterna para a oitava posição antes do início da 41ª rodada.
A equipe é ainda dona de outras marcas importantes. A série invicta de 16 jogos foi a maior do Brasileiro. No domingo passado, ao vencer depois de começar perdendo por 3 a 0 para o Vitória, conseguiu a maior virada do torneio. É também a única agremiação que obteve duas séries de cinco triunfos seguidos. Por fim, quando ainda não tinha Cuca, fez a maior goleada do certame ao bater o Juventude por 7 a 0.
"Quando cheguei, nosso objetivo era não cair. Atingimos isso com dez rodadas para o final. Depois, partimos para uma vaga na Copa Sul-Americana e já estamos perto. Já a Libertadores é um objetivo bem mais difícil", diz Cuca sobre os passos da sua equipe. Para chegar ao principal torneio sul-americano, o Goiás precisa ficar entre os cinco primeiros.
Além da prancheta, o treinador aposta em sua personalidade para impulsionar sua equipe.
"Gosto que meu time tenha um estilo parecido da época em que jogava. Por isso, espero que os jogadores não gostem de perder nunca", diz o treinador, que promete com o tempo ficar mais tranquilo e deixar de gritar tanto bem na beira do gramado.
"Tenho só 40 anos. Quando ficar mais velho e a barriga crescer, vou ficar quieto no banco", afirma Cuca, que rejeita o rótulo de salvador da pátria. Segundo ele, a situação vivida pelo Goiás, com a troca de treinador e parte de elenco durante uma competição, combinam mais com o fracasso.
"No meio do campeonato é difícil arrumar um time. Não adianta a coisa apertar e contratar o Cuca, que não resolve", atesta ele.


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