São Paulo, domingo, 06 de novembro de 2005

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FUTEBOL

A arte de simplificar

TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA

Para ser um excepcional meia ofensivo ou meia-atacante ou meia de ligação -pode escolher a terminologia-, é preciso unir a técnica com a habilidade, com a criatividade, com a participação coletiva e com a garra, como Petkovic.
Para ser um excepcional meia de ligação, é preciso jogar com a cabeça em pé e sem olhar para a bola, para enxergar melhor a movimentação dos companheiros e adversários, como faz Petkovic.
Para ser um excepcional meia de ligação, é preciso, antes dos outros, pensar, enxergar e executar a jogada, como Petkovic. Tudo ao mesmo tempo. "O olho vê, a lembrança revê e a imaginação transvê." (Manoel de Barros)
Para ser um excepcional meia de ligação, é preciso ter um passe preciso, rápido e inesperado. Não basta colocar a bola no pé ou na cabeça do companheiro. É preciso surpreender o adversário, como faz Petkovic.
Para ser um excepcional meia de ligação, é preciso economizar gestos, simplificar o lance, como faz Petkovic. Nada falta ou sobra nas suas jogadas. "O talento é a arte de tornar simples o que é complexo."
Para ser um excepcional meia de ligação, é preciso bater faltas e escanteios com precisão, como faz Petkovic. Ele não cruza para a área. Ele coloca a bola na cabeça do companheiro.
Para ser um excepcional meia de ligação, seria ainda melhor se o meia driblasse, passasse e finalizasse bem com as duas pernas, como faz Petkovic. Isso é raríssimo. Contra o Goiás, ele driblou com a direita e colocou a bola no canto com a esquerda.
Para ser um excepcional meia de ligação, é preciso ter garra e se movimentar bastante para sair da dura marcação dos volantes. Para isso, é necessário ter bom preparo físico, como tem mostrado Petkovic neste campeonato.
Para ser um excepcional meia de ligação, é preciso ter calma, não tentar jogadas impossíveis e saber o momento exato de brilhar, mesmo que seja nos últimos minutos do jogo, como tem feito Petkovic.
Para ser um excepcional meia de ligação, é preciso valorizar o seu talento, sem hipocrisia, como Pet. "A humildade não é o desconhecimento do que somos, e sim o conhecimento e o reconhecimento do que não somos."
Com tantas qualidades, por que o Pet nunca brilhou em um dos grandes times da Europa e não joga na boa seleção da Sérvia e Montenegro, que estará na Copa? Não sei.
Dizem que é por causa do seu mau humor. Ele teria brigado com todas as pessoas do esporte de seu país.
Será?! Ou seria porque ele é franco, luta por seus direitos, não participa de panelinhas nem agrada ninguém só para receber algo em troca?

Recusa
Muitos técnicos europeus, como Carlo Ancelotti, do Milan, escalam as suas defesas com dois zagueiros centrais, um lateral que marca e avança (Cafu) e um zagueiro pela lateral do outro lado, que só defende. São três zagueiros tortos.
Nos dois últimos jogos, Ancelotti trocou o lado. Ele colocou um lateral que marca e ataca pela esquerda (Serginho) e trocou Cafu por um zagueiro (Stam), só para defender. É Cafu ou Serginho. Raramente jogam os dois.
A Argentina fez o mesmo contra o Brasil pela Copa das Confederações. Placente atuou de zagueiro-lateral-esquerdo e deixou todo o espaço livre para o Cicinho. O "louco" Bielsa era mais lúcido do que o racional Pekerman.
Barcelona, a seleção do Brasil e muitas equipes brasileiras, como o Fluminense, jogam com dois laterais que marcam e avançam. Além disso, esses três times atuam com quatro jogadores perto do outro gol, apesar do esquema tático da seleção ser diferente do meio para a frente. O Flu e o Barcelona jogam com um meia ofensivo e três atacantes (dois pelos lados e um pelo centro) e a seleção com dois meias ofensivos (um de cada lado) e dois atacantes. Faz pouca diferença.
Talvez sejam as três equipes mais ofensivas e as que mais encantam no momento. Cada uma no seu espaço. O Barcelona, na Europa, o Flu, no Brasil, e a seleção, em todo o mundo.
Luis Mendes, comentarista da rádio Globo, disse que o Fluminense se recusa a perder. O time quase sempre vira no final da partida. Já o Atlético-MG se recusa a vencer. O time começa ganhando e, geralmente, perde no final.

E-mail
tostao.folha@uol.com.br

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