São Paulo, segunda-feira, 06 de novembro de 2006

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Marilson surpreende e arrebata NY

Brasileiro despacha quenianos, torna-se 1º sul-americano a vencer maratona e consagra novo rumo que deu à carreira

Atleta só começou a correr maratonas em 2004 porque resultados obtidos em distâncias menores não o colocavam entre os melhores

GUILHERME ROSEGUINI
DA REPORTAGEM LOCAL

Último quilômetro da badalada Maratona de Nova York, e Marilson Gomes dos Santos olha diversas vezes para trás.
Procura os quenianos, sempre apontados como favoritos, e parece não acreditar que a tática de se desgarrar do pelotão na metade final da prova o conduzia para um feito inédito.
Usando luvas e proteção na cabeça e nos braços por causa da temperatura -9C, com sensação térmica de 6C-, o brasiliense de 29 anos cruzou a linha de chegada após 2h09min58s. Os africanos não o alcançaram. Nunca um atleta da América do Sul terminara o evento na primeira posição.
"Eu disparei nos 30 km porque haviam muitos atletas juntos. Queria ver se alguém me acompanharia, fiquei esperto, mas ninguém me alcançou", diz o atleta à Folha. Ele arrematou prêmio de R$ 278 mil.
O queniano Stephen Kiogora acabou em segundo entre os mais de 37 mil corredores. Seu compatriota Paul Tergat, atual campeão do evento e dono do recorde mundial da maratona, completou o pódio.
O tempo do triunfo é mais de um minuto superior à melhor performance de Marilson -2h08min48s, em Chicago-2004-, dois minutos pior que o recorde registrado em Nova York (2h07min43s) e quatro minutos mais lento que o melhor resultado já alcançado na distância (2h04min55s).
Mas o principal mérito da façanha, para seu treinador, não pode ser medido em minutos e segundos. "O importante é que vencemos os quenianos. Ele vai ganhar força para lutar por uma medalha na Olimpíada, nosso objetivo desde que resolvemos mudar tudo", afirma o técnico Adauto Domingues.
A reviravolta ocorreu em 2004. Até então, o brasiliense centrava a carreira em provas de meio-fundo, os 5.000 m e 10.000 m. Apesar de alguns bons resultados, seus tempos eram fracos se comparados aos dos melhores do mundo.
"Decidimos mudar de prova. Arriscamos nas maratonas", recorda Domingues.
Os primeiros resultados foram promissores, mas vieram acompanhados de uma frustração. O brasiliense estreou nos 42,195 km em abril de 2004, na França. Completou o percurso em sexto, sem alcançar seu principal objetivo, que era a classificação para os Jogos de Atenas. Sua marca não era suficiente para entrar na seleção.
No ano seguinte, Marilson progrediu, deixou o medalhista olímpico Vanderlei Cordeiro de Lima para trás e assumiu o posto de melhor maratonista do país. No Mundial de Helsinque-2005, acabou em décimo. "Desde então, sabíamos que ele poderia conseguir grandes resultados", afirma o técnico.
Mais famoso no Brasil por suas duas vitórias na São Silvestre, em 2003 e 2005, Marilson corria descalço pelas ruas de Brasília até ser descoberto, aos 14 anos. Mudou-se para Santo André logo depois. Franzino, demorou para ganhar o peso e a maturidade necessários para correr provas longas.
Agora, enxerga um futuro promissor. "A cada dia me sinto melhor. Nova York foi só um novo começo para mim."


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