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Marilson surpreende e arrebata NY
Brasileiro despacha quenianos, torna-se 1º sul-americano a vencer maratona e consagra novo rumo que deu à carreira
Atleta só começou a
correr maratonas em
2004 porque resultados
obtidos em distâncias
menores não o
colocavam entre os
melhores
GUILHERME ROSEGUINI
DA REPORTAGEM LOCAL
Último quilômetro da badalada Maratona de Nova York, e
Marilson Gomes dos Santos
olha diversas vezes para trás.
Procura os quenianos, sempre apontados como favoritos,
e parece não acreditar que a tática de se desgarrar do pelotão
na metade final da prova o conduzia para um feito inédito.
Usando luvas e proteção na
cabeça e nos braços por causa
da temperatura -9C, com
sensação térmica de 6C-, o
brasiliense de 29 anos cruzou a
linha de chegada após
2h09min58s. Os africanos não
o alcançaram. Nunca um atleta
da América do Sul terminara o
evento na primeira posição.
"Eu disparei nos 30 km porque haviam muitos atletas juntos. Queria ver se alguém me
acompanharia, fiquei esperto,
mas ninguém me alcançou",
diz o atleta à Folha. Ele arrematou prêmio de R$ 278 mil.
O queniano Stephen Kiogora
acabou em segundo entre os
mais de 37 mil corredores. Seu
compatriota Paul Tergat, atual
campeão do evento e dono do
recorde mundial da maratona,
completou o pódio.
O tempo do triunfo é mais de
um minuto superior à melhor
performance de Marilson
-2h08min48s, em Chicago-2004-, dois minutos pior que
o recorde registrado em Nova
York (2h07min43s) e quatro
minutos mais lento que o melhor resultado já alcançado na
distância (2h04min55s).
Mas o principal mérito da façanha, para seu treinador, não
pode ser medido em minutos e
segundos. "O importante é que
vencemos os quenianos. Ele vai
ganhar força para lutar por
uma medalha na Olimpíada,
nosso objetivo desde que resolvemos mudar tudo", afirma o
técnico Adauto Domingues.
A reviravolta ocorreu em
2004. Até então, o brasiliense
centrava a carreira em provas
de meio-fundo, os 5.000 m e
10.000 m. Apesar de alguns
bons resultados, seus tempos
eram fracos se comparados aos
dos melhores do mundo.
"Decidimos mudar de prova.
Arriscamos nas maratonas",
recorda Domingues.
Os primeiros resultados foram promissores, mas vieram
acompanhados de uma frustração. O brasiliense estreou nos
42,195 km em abril de 2004, na
França. Completou o percurso
em sexto, sem alcançar seu
principal objetivo, que era a
classificação para os Jogos de
Atenas. Sua marca não era suficiente para entrar na seleção.
No ano seguinte, Marilson
progrediu, deixou o medalhista
olímpico Vanderlei Cordeiro
de Lima para trás e assumiu o
posto de melhor maratonista
do país. No Mundial de Helsinque-2005, acabou em décimo.
"Desde então, sabíamos que ele
poderia conseguir grandes resultados", afirma o técnico.
Mais famoso no Brasil por
suas duas vitórias na São Silvestre, em 2003 e 2005, Marilson corria descalço pelas ruas
de Brasília até ser descoberto,
aos 14 anos. Mudou-se para
Santo André logo depois. Franzino, demorou para ganhar o
peso e a maturidade necessários para correr provas longas.
Agora, enxerga um futuro
promissor. "A cada dia me sinto melhor. Nova York foi só um
novo começo para mim."
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