São Paulo, sábado, 06 de novembro de 2010

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Para fiscais, ficar perto é pagamento

F-1
Sem salário, "bandeirinhas" guardam lembranças de Interlagos


MARCEL MERGUIZO
DE SÃO PAULO

O ingresso para ver os três dias do GP Brasil pode custar mais de R$ 2.000. O orçamento de uma equipe de ponta como a Red Bull chega à cifra de US$ 160 milhões anuais (aproximadamente R$ 270 milhões). Ou seja, dentro de um circuito de F-1 o que mais corre é dinheiro.
O pagamento dos fiscais de pista, responsáveis pela sinalização no circuito, porém, é em outra moeda.
Eles se contentam em ganhar um pedaço quebrado de carro, luvas sujas de mecânico ou, às vezes, são os próprios fiscais quem dão os presentes a pilotos milionários.
São recompensas. E eles não reclamam. Muito pelo contrário, agradecem.
"Há um ditado americano mais ou menos assim: "Apenas nós podemos estar tão perto de um carro quanto um piloto'", afirma Mauro Clermann, 48, bancário e desde 1992 um dos "bandeirinhas" do GP Brasil em Interlagos.
A paixão pelos carros levou Clermann a sonhar ser fotógrafo de automobilismo.
Das fotos às grades que teve que pular em Interlagos para chegar mais perto da paixão, o paulista, que há sete anos mora em Natal (RN) descobriu que ser comissário nas provas poderia aproximá-lo ainda mais dos carros.
"Eu me transformo em criança. É emocionante", exclama. "Mas também temos muita responsabilidade, ficamos na chuva, no frio, no sol. O glamour da F-1 passa longe", conclui Clermann.
Neste fim de semana, a prova terá 82 sinalizadores na pista, 110 no resgate e 55 nos boxes. Um dos mais experientes, no entanto, estará ausente depois de 18 anos.
O publicitário Sérgio Paladino, 45, não pôde se "comprometer" nesta temporada.
Para ter tal hobby, os fiscais precisam negociar com os chefes, com a mulher em casa, com os estudos... Além de participarem de várias outras corridas menores durante o ano. Tudo isso após serem aprovados em um dos cursos oficiais para a função.
"Basta ter disposição e dinheiro", brinca Clermann.
Mas o que ganham além da alimentação, transporte e uniforme para os dias de GP?
A maior recompensa de Paladino veio no treino de sexta-feira do GP Brasil em 1995: um pedaço da Benetton de Michael Schumacher.
Aquele símbolo de 40 cm que se soltou do aerofólio traseiro do carro do alemão é guardado até hoje. Outro fato marcante é o de 2006. Na festa da vitória de Felipe Massa, Paladino balançava bandeira do Brasil no S do Senna quando o piloto parou sua Ferrari para pegá-la.
"Sempre levei a bandeira para saudar os pilotos. Mas aquela foi especial", lembra.
Desta vez, se Massa vencer, terá de procurar por outro "bandeirinha". Mas, se Schumacher bater, haverá espera pelo pagamento.


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