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FUTEBOL
Dívida conjunta dos times da Série A italiana fica perto dos 2 bilhões
Só balanços mascarados impedem falência do calcio
RODRIGO BUENO
DA REPORTAGEM LOCAL
MASSIMO GENTILE
EDITOR DE ARTE
O calcio, eldorado do futebol
mundial, está quebrado. A soma
das dívidas dos times da Série A
quase bate em 2 bilhões (cerca
de R$ 7 bilhões). Estão comprovadas manipulações de balanços
dos times para que esses não sejam dados como falidos.
O chamado doping administrativo motivou uma caça aos balanços dos clubes por parte de autoridades italianas. Muitos times não
têm pago impostos, e outros estão
com dívidas com jogadores. Mais
de 50 equipes tiveram suas sedes
tomadas por policiais em busca
de documentos recentemente (foram confiscados 263 balanços).
Os clubes têm turbinado seus
registros contábeis com a chamada mais-valia ou reavaliação para
evitar a falência e atrair investidores -times têm ações na bolsa.
Atribuem aos atletas valores
que não correspondem à realidade. Compra-se um jogador por
1 milhão, por exemplo, e coloca-se no balanço que o atleta vale
15 milhões. Ou vende-se um jogador avaliado no balanço por 10
milhões por apenas 60 mil, como aconteceu com Panarelli, jogador que foi cedido pela Roma
ao Taranto. Outra prática comum
na Itália é trocar atletas com valores superestimados, o que ocorreu na transação do atacante
Crespo para a Lazio em 2000.
Entre 1997 e 2002, o uso da
mais-valia nos balanços dos times
da Série A teve aumento de 740%.
Essa maquiagem de balanços
foi uma prática muito usada na
Itália por Sergio Cragnotti e Stefano Tanzi, homens que controlaram a Lazio e o Parma, respectivamente, até as crises da Cirio e da
Parmalat, empresas que deram
sustentação aos dois times. Ambos já tiveram prisão decretada.
A Fiorentina, uma das mais tradicionais equipes do país, faliu em
2002. Vittorio Cecchi Gori, ex-proprietário do clube, foi acusado
de falência fraudulenta, contabilidade falsa e também de apropriação indevida de fundos.
A Roma, em novembro, acumulava mais de 100 milhões só
em dívida tributária. Os times da
capital são os que mais devem na
Itália. A Lazio fechou 2003 devendo 471,8 milhões.
As autoridades italianas estão
intervindo na venda da Roma para um grupo petrolífero russo. As
negociações entre o vice-líder do
Italiano e o Nafta Moskva estavam praticamente concluídas,
mas os últimos acontecimentos
no calcio melaram o acordo.
Com salários atrasados, a Roma
seria vendida por 400 milhões,
valor um pouco maior do que a
dívida do clube, ameaçado de não
jogar competição européia na
próxima temporada por falta da
licença da Uefa, obtida por clubes
com boa saúde financeira.
Mesmo na Itália os clubes que
estiverem atolados em dívidas poderão ser impedidos de jogar. A liga do país anunciou que só aceitará para a próxima temporada inscrições de clubes que tenham pago em dia seus impostos e que não
possuam no máximo dois meses
de salários atrasados com atletas.
Os times ""enforcados", tanto na
Série A quanto na Série B, têm até
o meio do ano para contornar
seus problemas financeiros. A federação italiana, seguindo a linha
da liga do país, deverá exigir a quitação dos débitos dos clubes com
a Receita até o fim deste mês.
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