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BASQUETE
Adolescentes, Danila, 15 anos e 2,02 m, e Rafael, 16 anos e 2,12 m, são os mais altos jogadores em atividade no país
Garrafão tem Pequena e Gigante no topo
ADALBERTO LEISTER FILHO
DA REPORTAGEM LOCAL
A Pequena nunca pensou em
ser atleta. Escondida na fazenda
dos avós em Riolândia (SP), gostava de colher acerola e jabuticaba
no pé e ver os passarinhos comerem alpiste na garagem de casa.
O Gigante nasceu em Passatempo (MG). Com dois anos, mudou-se com a família para Belo Horizonte, mas nunca perdeu o gosto
pelas cavalgadas. Aos nove, começou a quicar bola nas quadras
do Minas. Assistindo aos jogos da
NBA pela TV, tomou gosto pela
coisa e passou a sonhar em seguir
os passos dos ídolos do LA Lakers
Shaquille O'Neal e Kobe Bryant.
Danila Silveira de Mendonça
Fabbri e Rafael Rodrigues têm em
comum o biótipo privilegiado para brigar pela bola no garrafão.
Ela, 15, 2,02 m. Ele, 16, 2,12 m. Os
mais altos jogadores de basquete
em atividade no país. Pedras brutas, são lapidados por Osasco e Ribeirão Preto, times com boa estrutura para revelar talentos.
"Nem imaginava sair de Riolândia. Mas, quando recebi o convite,
pensei: Deus está me mostrando
um caminho. Resolvi segui-lo",
diz a Pequena, que deixou sua bucólica cidade para se aventurar na
fumacenta Grande São Paulo.
"No primeiro ano aqui, não
conseguia fazer exercício aeróbico por causa da poluição", diz Danila, que deixou de ser uma aberração em uma cidade de 7.402 habitantes para conviver com outras
quase tão grandalhonas como ela.
A descoberta da pivô aconteceu
quase por acaso. Nos Jogos Abertos do Interior de 2001, em São José do Rio Preto, um juiz contou à
técnica Macau, do Osasco, que
havia uma menina muito grande,
de 13 anos e 1,96 m, na região. Fernando Tessarotto, supervisor do
time, ligou para a casa da família e
convidou a garota para um teste.
"Ela veio zerada. Nem correr direito sabia", relembra Macau.
Mesmo com pouco fundamento, impressionou pelo físico avantajado. "No Brasil, nunca vi nada
igual. A Alessandra, com 18 anos,
não era tão alta", diz a técnica, citando a pivô da seleção adulta.
A transferência de Danila para
Osasco motivou um rearranjo da
família. Mary Lena, a mãe, e Laerci, a avó, alugaram um apartamento e se mudaram com ela.
Ocacil, o avô, ainda cuida da fazenda em Riolândia (562 km a noroeste de São Paulo), onde planta
milho e cria gado. Humberto Hugo, o pai, separou-se de Mary
quando Danila tinha seis meses.
Mora atualmente em Mirassol.
"Na época pediram para alguém da família vir junto. A Danila era muito nova", lembra a mãe.
No COC, colégio em que estudou até 2003, ela ganhou o apelido de Pequena. "Era a mais alta da
classe. Fiz amizade com os meninos, que passaram a me chamar
de Pequena", conta a pivô, sem
abandonar o sotaque interiorano.
Atlético x Cruzeiro
Rafael também se acostumou a
ser o mais espigado da classe. "Me
chamavam de Gigante", relata o
pivô, que chegou há três semanas
a Ribeirão, após negociações do
clube com seus empresários. Sim,
ainda cadete, Rafael já tem agente.
O atleta, que ficou três anos no
Minas, afirma que a vocação para
as quadras foi consolidada no colégio Magnum. "Não aprendi nada no Minas", critica ele, com a
mesma prontidão com que luta
para tomar a bola sob a tabela.
Depois dessa experiência frustrada, ganhou bolsa de estudos no
Magnum, que mantinha uma
parceria com o Atlético-MG. "Na
verdade eu era cruzeirense. Mas
hoje não ligo muito para futebol."
Antes de chegar a São Paulo,
quase voltou ao Minas. Convocado para a seleção cadete, vice-campeã sul-americana em 2003,
chamou a atenção do técnico Flávio Davis, que também dirige o
clube mineiro. "Eles me ofereceram um contrato vantajoso. Mas,
na hora de assinar, queriam mudar algumas coisas. Achei sacanagem e desisti", lembra Rafael.
Em Ribeirão, onde o Brasil se
concentrou para o Sul-Americano, Rafael também despertou interesse no técnico Lula, da equipe
local e da seleção brasileira. "Falei
com o pai do Rafael em julho.
Queríamos levá-lo, mas ele disse
que gostaria que o filho acabasse o
ano no colégio. Por isso, o trouxemos só agora", narra o treinador.
A decisão de liberar o rebento
para ir a Ribeirão não foi fácil para
a família. "Dói ficar longe dos filhos. Mas não posso atrapalhar a
carreira deles", diz Geraldo, o pai,
que tem outro descendente, Jeferson, no juvenil do Pinheiros.
Longe da família, o Gigante sabe
que só altura não basta. "Tenho
muito o que treinar e aprender."
A maior deficiência do pivô, segundo Márcio Juzzu, treinador
das categorias de base do Ribeirão, é a falta de treinos. "Ele quase
só disputava torneios escolares.
Aqui o Rafael vai trabalhar todos
os fundamentos. Não é porque é o
mais alto que não vai aprender a
conduzir a bola", observa Juzzu.
Dificuldades
Se encontraram seu mundo
dentro da quadra, fora dela as dificuldades de adaptação em uma
terra de liliputianos são enormes.
"É raro encontrar roupa no tamanho dela. A maioria mando fazer", relata a avó Laerci, que tem
um trabalho adicional quando
compra calças para a neta.
"Tenho que soltar a barra e, algumas vezes, costuro mais um reforço de pano no pé", conta.
Outro problema é quando Danila tem que procurar um tênis
com seu número (45). "Até 41 você acha fácil. Acima disso é complicado", declara ela, que mesmo
assim quer crescer ainda mais.
"Espero chegar a 2,05 m", afirma a pivô, que obrigou o pai a encomendar em Campinas um colchão de 2,10 m de comprimento.
Rafael perdeu a conta de quantas vezes bateu a cabeça na parede
ao atravessar distraído uma porta.
"Em casa faço isso direto. As
passagens quase sempre são baixas para mim", lamenta o pivô.
Para a Pequena, a altura limita
as paqueras. "O garoto para mim
tem que ter mais de dois metros."
O Gigante não se importa com
isso. Já namorou uma garota de
1,65 m. Sua "maior" conquista,
porém, foi uma pivô tcheca, que
disputou um Mundial colegial em
Goiânia. "Ela tinha 1,80 m", conta.
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