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FUTEBOL
A lista dos mortos
RODRIGO BUENO
DA REPORTAGEM LOCAL
Garrincha é apenas um dos
nomes que faltaram na lista
elaborada pelo Pelé e pela Fifa em
uma das celebrações do centenário da entidade. Assim como o
lendário ponta, vários craques
que deram grande contribuição
para a modalidade nos últimos
cem anos foram barrados no baile porque já morreram. Yashin,
Leônidas, Bobby Moore, Zizinho,
Giuseppe Meazza, Didi, Fritz
Walter, Friedenreich, Obdulio
Varela... A lista do céu é extensa.
A metodologia adotada para
escolher os melhores ou os mais
populares futebolistas gerou acusações de politicagem. As aberrações na relação, porém, são mais
por razões econômicas do que políticas. Jogador morto ou das antigas dificilmente vende ou encontra mercado. Em contrapartida, os mais recentes, com forte
apoio de marketing e mídia, são
ótimos produtos. Fotos dos escolhidos saem por até 510. No
mundo em que Beckham virou
até logotipo, que espaço teria, por
exemplo, o austríaco Sindelar e o
uruguaio Castro? Poucos sabem
hoje que o primeiro, o "Homem
de Papel", atraiu mais de 20 mil
pessoas ao seu enterro tamanha
era sua popularidade na década
de 30 ou que o segundo ganhou
tudo em sua época mesmo sem
parte de um braço, decepado
quando o primeiro grande "Deus
da raça uruguaia" era adolescente. Exemplos de heróis anteriores
à era Pelé que a Fifa esqueceu em
seus cem anos. Edson Arantes do
Nascimento poderia não saber
quem esses eram (provavelmente
ele não tem idéia de quem sejam
Ceulemans ou Hong Myung-Bo,
alguns dos indicados), mas a Fifa
tinha a obrigação de zelar pela
história do futebol.
Algumas das fotos com os escolhidos trazem sem problema marcas de investidores do futebol
atual. Uma publicidade que nunca fez parte da carreira do recém-falecido Máspoli, só para citar um
representante da época em que o
futebol ainda lutava para ser o esporte número um e a Fifa tinha
caráter mais esportivo que comercial. Na relação do centenário, o que há mais de "velha guarda" é Di Stéfano, o ídolo do presidente da Fifa, Joseph Blatter, um
ex-atacante que não vingou.
A Uefa faz 50 anos e sua lista
dos 50 melhores é muito mais fiel
à realidade. Estão sendo apontados, pelo povo, os melhores europeus dos últimos 50 anos, sem diferenciar quem está na ativa,
quem está aposentado ou quem
está morto. Há nomes discutíveis,
mas perto do que a Fifa fez é uma
lista dos sonhos, cujo resultado final será de fato marcante. Foram
divulgados os top 20, e os favoritos Cruyff e Beckenbauer serão
colocados oficialmente à prova.
Quem será o melhor europeu de
todos os tempos? A lista da Uefa
deverá sim responder a essa pergunta, mesmo deixando para trás
quem jogou antes dos anos 50. Já
a Fifa, pela sua idade, poderia ser
desculpada apenas se "ignorasse"
quem nasceu no século 19.
Quem ficou fora da lista tem
suas razões para atirar pedras no
"Rei", mas devia apontar a Fifa
como maior alvo, como faz Maradona há muitos anos. O maior erro de Pelé nessa história foi aceitar fazer a lista com a Fifa. Devia
ter ficado quieto, como os mortos.
A lista dos europeus
Baresi, Beckenbauer, Best, Bobby Charlton, Cruyff, Di Stéfano, Eusébio, Gullit, Keegan, Maldini, Matthäus, Müller, Platini, Puskas, Rossi,
Rummenigge, Van Basten, Yashin, Zidane e Zoff. Aí estão os top 20,
sem o badalado Beckham, que ficou na 22ª posição, e com um sul-americano: o argentino Di Stéfano, forte candidato. A eleição da Uefa
colheu cerca de 7 milhões de votos.
A lista dos mais ricos
O Manchester United é mais uma vez líder absoluto da tradicional
relação dos clubes que têm mais grana. Porém a lista divulgada nos
últimos dias mostra a Roma em 11º lugar, o Leeds na 16ª posição e a
Lazio como 17ª colocada. Há algo, portanto, tão errado na relação
quanto no balanço de alguns clubes europeus.
E-mail: rbueno@folhasp.com.br
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