São Paulo, domingo, 07 de março de 2004

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FUTEBOL

A lista dos mortos

RODRIGO BUENO
DA REPORTAGEM LOCAL

Garrincha é apenas um dos nomes que faltaram na lista elaborada pelo Pelé e pela Fifa em uma das celebrações do centenário da entidade. Assim como o lendário ponta, vários craques que deram grande contribuição para a modalidade nos últimos cem anos foram barrados no baile porque já morreram. Yashin, Leônidas, Bobby Moore, Zizinho, Giuseppe Meazza, Didi, Fritz Walter, Friedenreich, Obdulio Varela... A lista do céu é extensa.
A metodologia adotada para escolher os melhores ou os mais populares futebolistas gerou acusações de politicagem. As aberrações na relação, porém, são mais por razões econômicas do que políticas. Jogador morto ou das antigas dificilmente vende ou encontra mercado. Em contrapartida, os mais recentes, com forte apoio de marketing e mídia, são ótimos produtos. Fotos dos escolhidos saem por até 510. No mundo em que Beckham virou até logotipo, que espaço teria, por exemplo, o austríaco Sindelar e o uruguaio Castro? Poucos sabem hoje que o primeiro, o "Homem de Papel", atraiu mais de 20 mil pessoas ao seu enterro tamanha era sua popularidade na década de 30 ou que o segundo ganhou tudo em sua época mesmo sem parte de um braço, decepado quando o primeiro grande "Deus da raça uruguaia" era adolescente. Exemplos de heróis anteriores à era Pelé que a Fifa esqueceu em seus cem anos. Edson Arantes do Nascimento poderia não saber quem esses eram (provavelmente ele não tem idéia de quem sejam Ceulemans ou Hong Myung-Bo, alguns dos indicados), mas a Fifa tinha a obrigação de zelar pela história do futebol.
Algumas das fotos com os escolhidos trazem sem problema marcas de investidores do futebol atual. Uma publicidade que nunca fez parte da carreira do recém-falecido Máspoli, só para citar um representante da época em que o futebol ainda lutava para ser o esporte número um e a Fifa tinha caráter mais esportivo que comercial. Na relação do centenário, o que há mais de "velha guarda" é Di Stéfano, o ídolo do presidente da Fifa, Joseph Blatter, um ex-atacante que não vingou.
A Uefa faz 50 anos e sua lista dos 50 melhores é muito mais fiel à realidade. Estão sendo apontados, pelo povo, os melhores europeus dos últimos 50 anos, sem diferenciar quem está na ativa, quem está aposentado ou quem está morto. Há nomes discutíveis, mas perto do que a Fifa fez é uma lista dos sonhos, cujo resultado final será de fato marcante. Foram divulgados os top 20, e os favoritos Cruyff e Beckenbauer serão colocados oficialmente à prova. Quem será o melhor europeu de todos os tempos? A lista da Uefa deverá sim responder a essa pergunta, mesmo deixando para trás quem jogou antes dos anos 50. Já a Fifa, pela sua idade, poderia ser desculpada apenas se "ignorasse" quem nasceu no século 19.
Quem ficou fora da lista tem suas razões para atirar pedras no "Rei", mas devia apontar a Fifa como maior alvo, como faz Maradona há muitos anos. O maior erro de Pelé nessa história foi aceitar fazer a lista com a Fifa. Devia ter ficado quieto, como os mortos.

A lista dos europeus
Baresi, Beckenbauer, Best, Bobby Charlton, Cruyff, Di Stéfano, Eusébio, Gullit, Keegan, Maldini, Matthäus, Müller, Platini, Puskas, Rossi, Rummenigge, Van Basten, Yashin, Zidane e Zoff. Aí estão os top 20, sem o badalado Beckham, que ficou na 22ª posição, e com um sul-americano: o argentino Di Stéfano, forte candidato. A eleição da Uefa colheu cerca de 7 milhões de votos.

A lista dos mais ricos
O Manchester United é mais uma vez líder absoluto da tradicional relação dos clubes que têm mais grana. Porém a lista divulgada nos últimos dias mostra a Roma em 11º lugar, o Leeds na 16ª posição e a Lazio como 17ª colocada. Há algo, portanto, tão errado na relação quanto no balanço de alguns clubes europeus.

E-mail: rbueno@folhasp.com.br


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