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ATENAS 2004
A pouco mais de 5 meses do início da Olimpíada, cidade tenta convencer que tudo estará pronto a tempo
Jogos correm para tirar o pó do mármore
JOSÉ HENRIQUE MARIANTE
ENVIADO ESPECIAL A ATENAS
A recepção é calorosa. Nas paredes, cartazes alusivos aos Jogos. A
música ambiente lembra os antigos discos de volta ao mundo em
16 músicas. As recepcionistas sorriem, orgulhosas, a bordo de tail-
leurs azuis e lenços coloridos. O
relógio do hall, todo de mármore,
marca exatamente 12h. São, na
verdade, 8h50 em Atenas.
Durante a última semana, a Folha esteve na capital da Grécia, sede da primeira e da próxima
Olimpíada, a 28ª da era moderna,
que começa em 159 dias, pouco
menos de 23 semanas. Prazo que
parece impossível para a conclusão de 10 das 28 instalações esportivas e de apoio planejadas para o
evento. Mas os atenienses confiam tanto em seu êxito que ao visitante educado resta desconfiar
da verdade dos ponteiros.
Educados como os representantes do Comitê Olímpico Internacional que acompanharam cerca
de 200 jornalistas em um seminário na cidade. "Devemos olhar
não o que não foi feito, mas o que
já foi feito", disse Kevan Gosper,
vice-presidente da entidade, em
alusão à rápida evolução demonstrada pelos gregos nos últimos
tempos -notadamente o estádio
Karaiskaki, terra arrasada há pouco mais de seis meses, hoje com
arquibancadas e iniciando a instalação de uma cobertura de aço.
Outro passo de gigante é esperado por Costas Vernikos, chefe de
imprensa do Athoc, o comitê organizador, já para o final deste
mês. "Levando em conta os acessos, 18 instalações 100% prontas."
Ou seja, com infra-estrutura e
pessoal para funcionar. "Somos
obrigados a deixá-las prontas",
completou, em referência a diversos eventos-teste agendados com
federações internacionais.
Em grego, no entanto, a palavra
pronta ganha um significado amplo. A exemplo do relógio parado
do MPC, centro nervoso da Olimpíada e local de trabalho de mais
de 5.000 jornalistas, que ainda ostentava bebedouros de aço escovado com um patético aviso
"água não potável", vários detalhes nas sedes já concluídas confirmam o apuro dos projetos.
A Vila Olímpica, localizada ao
norte, tem quase todos os prédios
de apartamentos finalizados. Diversos edifícios de apoio, exceção
feita a um posto do corpo de
bombeiros, ainda estão no chão.
Escadarias, claro, de mármore
branco e sombreamento feito por
estilizados painéis de metal comprovam o capricho dos apartamentos, que proporcionarão a
inédita média de um banheiro para cada dois atletas -em Sydney,
era um para quatro. Mas ainda
não funcionam. Um sanitário
químico resta no pátio.
No centro de hipismo, seguramente o maior e mais completo já
construído na história do esporte,
até um novo hipódromo foi erguido. Nos estábulos, porém, perambulam vigorosos e pacíficos
vira-latas, uma das marcas mais
curiosas de Atenas ao lado da tradicional poeira, que ganha níveis
infernais devido a dezenas de
obras em andamento.
Atenas espera concluir até o início dos Jogos, em 13 de agosto, 210
quilômetros de novas rodovias,
seis auto-estradas, uma linha de
bondes entre o centro e a costa e a
integração do aeroporto à malha
ferroviária da cidade. O contraste,
mais uma vez, é evidente.
A auto-estrada de Athina sai do
moderno aeroporto, 60 milhões
de passageiros/ano, para acabar,
por enquanto, em um grampo de
360 antes de alcançar a cidade.
Interrupção abrupta acontece
também no metrô, que, pelo trecho em funcionamento, delicia o
usuário com peças arqueológicas
encontradas na construção das
estações em granito.
Diante de tanto realizado e tanto ainda por fazer, o visitante, como o presidente do COI, Jacques
Rogge, desconfia. E pede para que
os atenienses abram mão das melhorias que não sejam fundamentais. "Serão Jogos históricos. Este
trabalho será feito", garante
Sypros Capralos, diretor-executivo do comitê organizador, sobre o
piso brilhante e cheio de pó.
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