São Paulo, domingo, 07 de março de 2004

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ATENAS 2004

A pouco mais de 5 meses do início da Olimpíada, cidade tenta convencer que tudo estará pronto a tempo

Jogos correm para tirar o pó do mármore

JOSÉ HENRIQUE MARIANTE
ENVIADO ESPECIAL A ATENAS

A recepção é calorosa. Nas paredes, cartazes alusivos aos Jogos. A música ambiente lembra os antigos discos de volta ao mundo em 16 músicas. As recepcionistas sorriem, orgulhosas, a bordo de tail- leurs azuis e lenços coloridos. O relógio do hall, todo de mármore, marca exatamente 12h. São, na verdade, 8h50 em Atenas.
Durante a última semana, a Folha esteve na capital da Grécia, sede da primeira e da próxima Olimpíada, a 28ª da era moderna, que começa em 159 dias, pouco menos de 23 semanas. Prazo que parece impossível para a conclusão de 10 das 28 instalações esportivas e de apoio planejadas para o evento. Mas os atenienses confiam tanto em seu êxito que ao visitante educado resta desconfiar da verdade dos ponteiros.
Educados como os representantes do Comitê Olímpico Internacional que acompanharam cerca de 200 jornalistas em um seminário na cidade. "Devemos olhar não o que não foi feito, mas o que já foi feito", disse Kevan Gosper, vice-presidente da entidade, em alusão à rápida evolução demonstrada pelos gregos nos últimos tempos -notadamente o estádio Karaiskaki, terra arrasada há pouco mais de seis meses, hoje com arquibancadas e iniciando a instalação de uma cobertura de aço.
Outro passo de gigante é esperado por Costas Vernikos, chefe de imprensa do Athoc, o comitê organizador, já para o final deste mês. "Levando em conta os acessos, 18 instalações 100% prontas." Ou seja, com infra-estrutura e pessoal para funcionar. "Somos obrigados a deixá-las prontas", completou, em referência a diversos eventos-teste agendados com federações internacionais.
Em grego, no entanto, a palavra pronta ganha um significado amplo. A exemplo do relógio parado do MPC, centro nervoso da Olimpíada e local de trabalho de mais de 5.000 jornalistas, que ainda ostentava bebedouros de aço escovado com um patético aviso "água não potável", vários detalhes nas sedes já concluídas confirmam o apuro dos projetos.
A Vila Olímpica, localizada ao norte, tem quase todos os prédios de apartamentos finalizados. Diversos edifícios de apoio, exceção feita a um posto do corpo de bombeiros, ainda estão no chão.
Escadarias, claro, de mármore branco e sombreamento feito por estilizados painéis de metal comprovam o capricho dos apartamentos, que proporcionarão a inédita média de um banheiro para cada dois atletas -em Sydney, era um para quatro. Mas ainda não funcionam. Um sanitário químico resta no pátio.
No centro de hipismo, seguramente o maior e mais completo já construído na história do esporte, até um novo hipódromo foi erguido. Nos estábulos, porém, perambulam vigorosos e pacíficos vira-latas, uma das marcas mais curiosas de Atenas ao lado da tradicional poeira, que ganha níveis infernais devido a dezenas de obras em andamento.
Atenas espera concluir até o início dos Jogos, em 13 de agosto, 210 quilômetros de novas rodovias, seis auto-estradas, uma linha de bondes entre o centro e a costa e a integração do aeroporto à malha ferroviária da cidade. O contraste, mais uma vez, é evidente.
A auto-estrada de Athina sai do moderno aeroporto, 60 milhões de passageiros/ano, para acabar, por enquanto, em um grampo de 360 antes de alcançar a cidade. Interrupção abrupta acontece também no metrô, que, pelo trecho em funcionamento, delicia o usuário com peças arqueológicas encontradas na construção das estações em granito.
Diante de tanto realizado e tanto ainda por fazer, o visitante, como o presidente do COI, Jacques Rogge, desconfia. E pede para que os atenienses abram mão das melhorias que não sejam fundamentais. "Serão Jogos históricos. Este trabalho será feito", garante Sypros Capralos, diretor-executivo do comitê organizador, sobre o piso brilhante e cheio de pó.


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