São Paulo, domingo, 07 de março de 2004

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FUTEBOL

A lista do Edson

TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA

Quem escreve neste momento não é o ex-jogador Tostão, e sim o comentarista Tostão. Este analista, que sempre admirou o ex-atleta Tostão, não o incluiria entre os 15 maiores jogadores brasileiros vivos de todos os tempos. Mas, com certeza, o colocaria ao lado de outros atletas brasileiros, não relacionados pelo Pelé, nos lugares de alguns estrangeiros que estão na lista.
Citaram tanto o meu nome como um dos injustiçados que estou orgulhoso, com a sensação de que fui melhor do que pensava. Sinto-me mais homenageado do que se estivesse na lista. Os esquecidos são os mais lembrados.
Todos os brasileiros escolhidos são excepcionais. Porém, se tivesse de relacionar 15 brasileiros vivos, não teria dúvidas em colocar o Gerson, além do Nilton Santos e do Rivellino, que não estavam na lista do Pelé e que só foram incluídos por causa dos protestos. Nem a Fifa e os inúmeros assessores e secretários do Pelé entenderam as ausências desses três supercraques.
Mas a discussão não é entre os brasileiros. Os torcedores do Rio que viram o excelente Romerito, que está na lista, e o Gerson jogarem devem achar que o Pelé enlouqueceu. Coutinho, Jairzinho, Reinaldo e outros grandes atacantes não estão na lista, mas está o Papin, bom ex-atacante francês. Há também mais jogadores atuais da França e da Itália do que do Brasil. Inacreditável!
Os amigos do Pelé tentaram explicar o inexplicável ao dizerem que a Fifa elaborou uma lista prévia com uma distribuição geográfica e que 50 jogadores tinham de estar em atividade -e outras imposições. Se o garoto-propaganda Pelé não tivesse tantos interesses políticos e comerciais, exigiria da Fifa outros critérios. O responsável pela lista é o Pelé.
É difícil também comparar jogadores do passado e do presente, mesmo de posições idênticas. Não comparei Nilton Santos com Roberto Carlos, como foi dito numa reportagem da Folha, e sim com o excepcional Júnior. Como Nilton Santos, Roberto Carlos estaria na minha lista dos 15 melhores brasileiros de todos os tempos.
Além de informar e analisar, o colunista tem o direito também de imaginar e deduzir. Por isso, acho que o Pelé, ao ignorar alguns jogadores das Copas de 58, 62 e 70 e os seus companheiros do Santos (talvez o melhor time de clube do mundo de todos os tempos), quis dizer que esses times só foram excepcionais porque tinham o Pelé. Coutinho foi muito mais do que um bom companheiro do Pelé. Foi um cracaço, inesquecível.
Como Pelé já disse que Edson e Pelé são pessoas diferentes, fica claro que foi o Edson quem fez a lista. Diferentemente do Pelé, o mais genial e melhor jogador do mundo de todos os tempos, o Edson sempre foi um pouco confuso.

Reconhecimento
Algumas vezes na vida cai a ficha, ou mudamos de opinião e de conceitos, e percebemos que erramos ou que deixamos de falar, enfatizar e fazer coisas importantes. Antes, durante e depois da Copa de 2002, critiquei e elogiei o Felipão de acordo com as minhas convicções. Não vejo só virtudes nas vitórias e só defeitos nas derrotas.
Não mudei a minha opinião sobre os fatos, mas hoje reconheço que o Felipão foi muito mais importante para a conquista do penta do que eu pensava. Precisava dizer isso. Não me refiro à "Família Scolari" e nem aos três zagueiros (Edmilson jogou mais de volante do que de zagueiro), e sim aos jogadores escalados.
Ronaldinho Gaúcho não jogou nas eliminatórias, estava em litígio com o Paris Saint-Germain e com o Grêmio e não era o craque consagrado de hoje. Poucos técnicos o escalariam. Felipão insistiu nas recuperações do Rivaldo e do Ronaldo e não levou o Romário, que não tinha mais condições de brilhar num Mundial. Kleberson e Gilberto Silva, que nunca tinham jogado pela seleção e não haviam sido convocados pelo Leão e pelo Luxemburgo, atuaram muito bem no Mundial.
Felipão não só escalou os três "erres" como os deixou livres, sem a obrigação de marcar no campo do Brasil. Felipão foi ousado. O seu erro foi arriscar demais na primeira fase, quando pôs o meia Juninho Paulista no lugar do volante Kleberson.
Pelos seus trabalhos nos clubes e na seleção, Felipão merece ser reconhecido não só como um técnico campeão do mundo, um disciplinador, mas como um excepcional treinador, um dos melhores da história do futebol brasileiro.

E-mail: tostao.folha@uol.com.br



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