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FUTEBOL
A lista do Edson
TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA
Quem escreve neste momento
não é o ex-jogador Tostão, e
sim o comentarista Tostão. Este
analista, que sempre admirou o
ex-atleta Tostão, não o incluiria
entre os 15 maiores jogadores brasileiros vivos de todos os tempos.
Mas, com certeza, o colocaria ao
lado de outros atletas brasileiros,
não relacionados pelo Pelé, nos
lugares de alguns estrangeiros
que estão na lista.
Citaram tanto o meu nome como um dos injustiçados que estou
orgulhoso, com a sensação de que
fui melhor do que pensava. Sinto-me mais homenageado do que se
estivesse na lista. Os esquecidos
são os mais lembrados.
Todos os brasileiros escolhidos
são excepcionais. Porém, se tivesse de relacionar 15 brasileiros vivos, não teria dúvidas em colocar
o Gerson, além do Nilton Santos e
do Rivellino, que não estavam na
lista do Pelé e que só foram incluídos por causa dos protestos. Nem
a Fifa e os inúmeros assessores e
secretários do Pelé entenderam as
ausências desses três supercraques.
Mas a discussão não é entre os
brasileiros. Os torcedores do Rio
que viram o excelente Romerito,
que está na lista, e o Gerson jogarem devem achar que o Pelé
enlouqueceu. Coutinho, Jairzinho, Reinaldo e outros grandes
atacantes não estão na lista, mas
está o Papin, bom ex-atacante
francês. Há também mais jogadores atuais da França e da Itália do
que do Brasil. Inacreditável!
Os amigos do Pelé tentaram explicar o inexplicável ao dizerem
que a Fifa elaborou uma lista prévia com uma distribuição geográfica e que 50 jogadores tinham de
estar em atividade -e outras imposições. Se o garoto-propaganda
Pelé não tivesse tantos interesses
políticos e comerciais, exigiria da
Fifa outros critérios. O responsável pela lista é o Pelé.
É difícil também comparar jogadores do passado e do presente,
mesmo de posições idênticas. Não
comparei Nilton Santos com Roberto Carlos, como foi dito numa
reportagem da Folha, e sim com o
excepcional Júnior. Como Nilton
Santos, Roberto Carlos estaria na
minha lista dos 15 melhores brasileiros de todos os tempos.
Além de informar e analisar, o
colunista tem o direito também
de imaginar e deduzir. Por isso,
acho que o Pelé, ao ignorar alguns jogadores das Copas de 58,
62 e 70 e os seus companheiros do
Santos (talvez o melhor time de
clube do mundo de todos os tempos), quis dizer que esses times só
foram excepcionais porque tinham o Pelé. Coutinho foi muito
mais do que um bom companheiro do Pelé. Foi um cracaço, inesquecível.
Como Pelé já disse que Edson e
Pelé são pessoas diferentes, fica
claro que foi o Edson quem fez a
lista. Diferentemente do Pelé, o
mais genial e melhor jogador do
mundo de todos os tempos, o Edson sempre foi um pouco confuso.
Reconhecimento
Algumas vezes na vida cai a ficha, ou mudamos de opinião e de
conceitos, e percebemos que erramos ou que deixamos de falar, enfatizar e fazer coisas importantes.
Antes, durante e depois da Copa
de 2002, critiquei e elogiei o Felipão de acordo com as minhas
convicções. Não vejo só virtudes
nas vitórias e só defeitos nas derrotas.
Não mudei a minha opinião sobre os fatos, mas hoje reconheço
que o Felipão foi muito mais importante para a conquista do
penta do que eu pensava. Precisava dizer isso. Não me refiro à "Família Scolari" e nem aos três zagueiros (Edmilson jogou mais de
volante do que de zagueiro), e sim
aos jogadores escalados.
Ronaldinho Gaúcho não jogou
nas eliminatórias, estava em litígio com o Paris Saint-Germain e
com o Grêmio e não era o craque
consagrado de hoje. Poucos técnicos o escalariam. Felipão insistiu
nas recuperações do Rivaldo e do
Ronaldo e não levou o Romário,
que não tinha mais condições de
brilhar num Mundial. Kleberson
e Gilberto Silva, que nunca tinham jogado pela seleção e não
haviam sido convocados pelo
Leão e pelo Luxemburgo, atuaram muito bem no Mundial.
Felipão não só escalou os três
"erres" como os deixou livres, sem
a obrigação de marcar no campo
do Brasil. Felipão foi ousado. O
seu erro foi arriscar demais na
primeira fase, quando pôs o meia
Juninho Paulista no lugar do volante Kleberson.
Pelos seus trabalhos nos clubes e
na seleção, Felipão merece ser reconhecido não só como um técnico campeão do mundo, um disciplinador, mas como um excepcional treinador, um dos melhores
da história do futebol brasileiro.
E-mail: tostao.folha@uol.com.br
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