São Paulo, sexta-feira, 07 de março de 2008

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súdito

Pelé ganha função sem poder no comitê da Copa

Após reunião com Ricardo Teixeira, ex-atleta embarca no projeto do Mundial

Cargo será remunerado e terá atuação centrada no exterior, o que o manterá longe dos negócios da organização do evento


MALU TOLEDO
SERGIO TORRES
DA SUCURSAL DO RIO

Pelé selou em definitivo a paz com a CBF e tornou-se embaixador do comitê da Copa-2014. Mas, na prática, não terá poder executivo dentro da entidade.
O acordo, que já vinha sendo ensaiado há duas semanas, foi selado durante almoço entre o ex-jogador e o presidente da CBF, Ricardo Teixeira. Pelo trabalho, Pelé terá um salário, não revelado pelas partes.
Ao confirmar o acerto, o ex-jogador chegou a dizer que nunca teve divergência com a CBF. Em 1993, ele acusou, em entrevista, a administração de Teixeira de corrupção.
"Este desentendimento foi da imprensa. Porque nunca tivemos desentendimentos. Eu nunca tive problema pessoal com o Ricardo. Às vezes as pessoas confundem a idéia que eu tinha quando era ministro, com relação à Lei Pelé", disse Pelé.
Pelo lado da CBF, Teixeira afirmou que o ex-jogador terá uma função similar à de Beckenbauer no comitê da Copa 2006. Só que o alemão atuou no Mundial como executivo de fato, com poder decisório.
"Eu já falei para ele que se prepare. Ele não vai poder parar no Brasil. O cargo não está definido porque vai ser muito amplo. De qualquer maneira, vai ser necessariamente importante a função, como a do Beckenbauer. Toda a área internacional vai ser feita por ele", explicou Teixeira.
Pelé confirmou que sua atuação será, primordialmente, no exterior. Pessoas próximas ao cartola afirmaram que a sua intenção é deixar Pelé longe dos contratos feitos pelo comitê 2014. Não quer nem que ele tenha acesso a dados sobre os negócios da entidade que, provavelmente, terá Teixeira como dirigente máximo.
Ao seu lado, nomes como o economista Carlos Langoni e o advogado Francisco Musnich participarão do conselho.
Ao deixar Pelé longe dos contratos, Teixeira também pretende preservar o sigilo dos negócios do comitê, pois teme que o ex-jogador torne públicas informações que não deveriam ser reveladas.
O rompimento do ex-jogador com o cartola, por exemplo, se deu por conta de uma acusação dele em uma transação com a confederação. Em 1993, sua empresa Pelé Sports & Marketing não conseguiu comprar os direitos do Brasileiro.
"Existe muita corrupção, infelizmente. Já aconteceu de a CBF não aceitar uma proposta nossa, melhor do que a que acabou aceitando, por causa de conchavos com outros grupos. Propostas menores acabam sendo aceitas, só para não tirar outros grupos", disse o jogador à revista "Playboy", na época.
Ele foi processado por Teixeira e excluído de sorteios da Copa do Mundo de 1994 a 2002 pelo então presidente da Fifa, João Havelange, que era sogro do cartola da CBF. Houve reaproximação no início da atual década, com o "Pacto da Bola", e um afastamento depois.
Agora, Pelé se diz honrado e surpreso por trabalhar ao lado de Teixeira, embora já tivesse contatos freqüentes com o dirigentes nos últimos tempos.
"Não esperava participar da Copa. Sou sempre questionado: "Qual sua participação?". E eu respondia: "Estou esperando uma reunião com o Ricardo". Fomos para a Suíça juntos, Europa juntos, mas não tínhamos conversado. Hoje [ontem], Ricardo me pediu para vir almoçar, disse que está formando o comitê para a Copa e que eu faço parte dele. Estou muito honrado com isso", disse Pelé.
Houve outro motivo de forte discordância entre o ex-jogador e o cartola: a Lei Pelé, combatida com vigor pela CBF. "É passado. Não houve desentendimentos. Foram posições divergentes", afirmou o cartola sobre a legislação.
No auge das "posições divergentes", Teixeira se aproximou de Hélio Viana, ex-sócio e inimigo de Pelé. Isso fez o ex-atleta recusar um primeiro convite para atuar na Copa, quando lhe foram oferecidos R$ 350 mil por mês, como revelado por Juca Kfouri, colunista da Folha.
O presidente da CBF viaja para Zurique (Suíça) nos próximos dias. Na semana que vem, ele apresentará à Fifa a relação dos membros do comitê organizador da Copa de 2014.
Outro que deve participar é o ex-jogador Romário, que seria o embaixador e é desafeto de Pelé. Sobre ele, o ex-camisa 10 da seleção disse: "Eu não sei qual vai ser a função do Romário. Mas, se ele sabe fazer gol, eu sei também". Sobre Pelé, Romário já afirmou considerá-lo um poeta "quando calado".






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