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súdito
Pelé ganha função sem poder no comitê da Copa
Após reunião com Ricardo Teixeira, ex-atleta embarca no projeto do Mundial
Cargo será remunerado e terá atuação centrada no exterior, o que o manterá longe dos negócios da organização do evento
MALU TOLEDO
SERGIO TORRES
DA SUCURSAL DO RIO
Pelé selou em definitivo a paz
com a CBF e tornou-se embaixador do comitê da Copa-2014.
Mas, na prática, não terá poder
executivo dentro da entidade.
O acordo, que já vinha sendo
ensaiado há duas semanas, foi
selado durante almoço entre o
ex-jogador e o presidente da
CBF, Ricardo Teixeira. Pelo
trabalho, Pelé terá um salário,
não revelado pelas partes.
Ao confirmar o acerto, o ex-jogador chegou a dizer que
nunca teve divergência com a
CBF. Em 1993, ele acusou, em
entrevista, a administração de
Teixeira de corrupção.
"Este desentendimento foi
da imprensa. Porque nunca tivemos desentendimentos. Eu
nunca tive problema pessoal
com o Ricardo. Às vezes as pessoas confundem a idéia que eu
tinha quando era ministro, com
relação à Lei Pelé", disse Pelé.
Pelo lado da CBF, Teixeira
afirmou que o ex-jogador terá
uma função similar à de Beckenbauer no comitê da Copa
2006. Só que o alemão atuou no
Mundial como executivo de fato, com poder decisório.
"Eu já falei para ele que se
prepare. Ele não vai poder parar no Brasil. O cargo não está
definido porque vai ser muito
amplo. De qualquer maneira,
vai ser necessariamente importante a função, como a do Beckenbauer. Toda a área internacional vai ser feita por ele", explicou Teixeira.
Pelé confirmou que sua atuação será, primordialmente, no
exterior. Pessoas próximas ao
cartola afirmaram que a sua intenção é deixar Pelé longe dos
contratos feitos pelo comitê
2014. Não quer nem que ele tenha acesso a dados sobre os negócios da entidade que, provavelmente, terá Teixeira como
dirigente máximo.
Ao seu lado, nomes como o
economista Carlos Langoni e o
advogado Francisco Musnich
participarão do conselho.
Ao deixar Pelé longe dos contratos, Teixeira também pretende preservar o sigilo dos negócios do comitê, pois teme que
o ex-jogador torne públicas informações que não deveriam
ser reveladas.
O rompimento do ex-jogador
com o cartola, por exemplo, se
deu por conta de uma acusação
dele em uma transação com a
confederação. Em 1993, sua
empresa Pelé Sports & Marketing não conseguiu comprar os
direitos do Brasileiro.
"Existe muita corrupção, infelizmente. Já aconteceu de a
CBF não aceitar uma proposta
nossa, melhor do que a que acabou aceitando, por causa de
conchavos com outros grupos.
Propostas menores acabam
sendo aceitas, só para não tirar
outros grupos", disse o jogador
à revista "Playboy", na época.
Ele foi processado por Teixeira e excluído de sorteios da
Copa do Mundo de 1994 a 2002
pelo então presidente da Fifa,
João Havelange, que era sogro
do cartola da CBF. Houve reaproximação no início da atual
década, com o "Pacto da Bola",
e um afastamento depois.
Agora, Pelé se diz honrado e
surpreso por trabalhar ao lado
de Teixeira, embora já tivesse
contatos freqüentes com o dirigentes nos últimos tempos.
"Não esperava participar da
Copa. Sou sempre questionado:
"Qual sua participação?". E eu
respondia: "Estou esperando
uma reunião com o Ricardo".
Fomos para a Suíça juntos, Europa juntos, mas não tínhamos
conversado. Hoje [ontem], Ricardo me pediu para vir almoçar, disse que está formando o
comitê para a Copa e que eu faço parte dele. Estou muito honrado com isso", disse Pelé.
Houve outro motivo de forte
discordância entre o ex-jogador e o cartola: a Lei Pelé, combatida com vigor pela CBF. "É
passado. Não houve desentendimentos. Foram posições divergentes", afirmou o cartola
sobre a legislação.
No auge das "posições divergentes", Teixeira se aproximou
de Hélio Viana, ex-sócio e inimigo de Pelé. Isso fez o ex-atleta recusar um primeiro convite
para atuar na Copa, quando lhe
foram oferecidos R$ 350 mil
por mês, como revelado por Juca Kfouri, colunista da Folha.
O presidente da CBF viaja
para Zurique (Suíça) nos próximos dias. Na semana que vem,
ele apresentará à Fifa a relação
dos membros do comitê organizador da Copa de 2014.
Outro que deve participar é o
ex-jogador Romário, que seria
o embaixador e é desafeto de
Pelé. Sobre ele, o ex-camisa 10
da seleção disse: "Eu não sei
qual vai ser a função do Romário. Mas, se ele sabe fazer gol,
eu sei também". Sobre Pelé,
Romário já afirmou considerá-lo um poeta "quando calado".
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