São Paulo, sábado, 7 de março de 1998

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FUTEBOL
Coordenador da seleção faz paralelo entre atacante da Fiorentina e Raí, que era reserva quando chegou à França
Zico condena a fuga de Edmundo

Patrícia Santos/Folha Imagem
O novo coordenador técnico da seleção, Zico, brinca com uma bola após dar entrevista coletiva no Rio


MÁRIO MAGALHÃES
da Sucursal do Rio


Em sua primeira manifestação crítica sobre um atleta da seleção desde que foi anunciado como coordenador da equipe, o ex-jogador Zico condenou ontem o atacante Edmundo por abandonar o seu clube, a Fiorentina, da Itália.
"Isso pode atrapalhar a carreira de Edmundo", disse Zico. "Ele está deixando de cumprir uma situação contratual. Ninguém é contratado para ser titular, mas para estar à disposição do treinador."
"A responsabilidade de escalar o atleta é do treinador, é ele que será cobrado por isso. O dever do jogador é estar pronto para isso."
Edmundo, que disputa uma vaga na seleção da Copa, abandonou a Fiorentina por não aceitar a reserva. No Rio, ele está sem clube. O Vasco quer contratá-lo.
A Folha procurou Edmundo e seu assessor Helinho durante toda a tarde, mas não os localizou.
Em contraste com a crítica a Edmundo, Zico elogiou o comportamento do meia Raí, convocado para o amistoso contra a Alemanha, dia 25, em Stuttgart, por decisão do técnico Zagallo.
"Sou fã do futebol de Raí. Ele pode ajudar muito. Quando foi para o Paris Saint-Germain (França), ficou na reserva e, sem falar nada, deu a volta por cima. Nunca abriu a boca para reclamar. Antes de falar, é preciso mostrar."
Zico fez as declarações de manhã, antes da primeira reunião da nova comissão técnica, na qual ele é o coordenador e Paulo Paixão substitui Luiz Carlos Prima como preparador físico.

Hierarquia
Ao ser questionado sobre quem é o superior hierárquico -ele ou Zagallo-, Zico respondeu: "Quem está na frente é o Ricardo Teixeira (presidente da CBF). Pergunta para ele, ele é que tem que mostrar o organograma".
O coordenador disse que Ricardo Teixeira atribuiu-lhe, como principal tarefa, "a observação do trabalho da comissão técnica".
Zico afirmou que o episódio do corte do cabelo dos jogadores na excursão à Arábia Saudita, em dezembro, prejudicou a campanha na Copa Ouro, em janeiro.
"Isso gera desconfiança de uns atletas em relação a outros, se reflete no campo. Os piores resultados surgiram a partir dali."
Questionado sobre qual teria sido o seu comportamento -Zagallo e o supervisor Américo Faria não puniram ninguém-, Zico disse: "Caberia uma atitude do presidente da CBF".
Ele não se irritou com referências às afirmações de 1994 do atacante Romário, segundo quem Zico não poderia opinar sobre a equipe por nunca ter vencido uma Copa do Mundo.
"Foi só com o Romário que eu tive problema? Tive até com o Ricardo Teixeira", disse Zico, sobre a polêmica que manteve com o presidente da CBF quando foi secretário nacional dos Esportes.
O coordenador fez questão de dizer que não tem responsabilidade sobre o amistoso contra a Alemanha. "Eu só assumirei no dia 22. O planejamento todo, inclusive o das convocações, já foi feito."
Sem atalhos diplomáticos, Zico se pronunciou sobre o hábito de Zagallo de ver os adversários pela TV, sem ir aos jogos: "Se esse é o método do Zagallo, temos que respeitar. Mas, ao vivo, podemos fazer observações gerais sobre posicionamento das equipes."
Zico se disse disposto a ajudar Zagallo nos treinamentos de campo. "O treinador é contratado para isso. Se for chamado a ajudá-lo, estarei disposto, faço isso no Kashima Antlers (Japão)."
O coordenador afirmou que a decisão será de Zagallo. Sobre escalação, disse a mesma coisa. "A decisão final é do Zagallo. Mas discutir é meu dever. Não vou pecar por omissão."



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