São Paulo, sexta-feira, 07 de abril de 2006

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FUTEBOL

O Santos merece!

XICO SÁ
COLUNISTA DA FOLHA

Amigo torcedor, amigo secador, bastou o São Paulo jogar uma bolinha mais vistosa, em um jogo aqui outro acolá, para que se iniciasse, na crônica esportiva, um clamor dos diabos pela defesa do título paulista para os aristocratas do Morumbi.
Pouco importava se o Santos, num certame de pontos corridos, mantinha a dianteira havia várias rodadas. Só se ouvia o clamor, ecoando nos fanhosos radinhos de pilha de todos os porteiros da cidade, por uma certa justiça futebolística.
Quando triunfou sobre o Peixe, então, o foguetório da mídia formou uma imensa cascata de adjetivo e unanimidade.
Pouco importava se o Santos, que havia vencido dois clássicos, contra Corinthians e Palmeiras, tivesse um homem a menos em campo, lance capital naquela fatídica virada.
Esquecia-se dali por diante partidas terríveis do São Paulo, como os embates contra Bragantino, Noroeste e mesmo na vitória contra o América.
O eco dos radinhos dos porteiros, dos cavalheiros das mesas redondas e das exclamações da imprensa se uniam no mesmo pagode-exaltação.
"Cesse tudo que a musa antiga canta, que outro valor mais alto se alevanta", recitava-se até Camões no tal coro dos contentes.
Precisou o Chivas, que já havia ganho no México, mostrar, pela Libertadores, que muito ainda falta ao tricolor para justificar os floreios todos. E se é o time que joga mais bonito no Brasil, como propaga o seu humilde técnico, há mais de aparência do que de eficiência. Pelo menos é o que se viu nesta última quarta.
O time é bom e tem um candidato a craque, esse menino Thiago, reconheça-se. Não resta dúvida, mas não tanto para tirar o brilho de uma eventual e merecida conquista do Santos, que manteve-se na dianteira e só depende de um "diet" 1x0 sobre a Lusa.
Em condições normais, a missão não seria nada dramática. Com a esquadra lusitana à beira de um naufrágio, o alvinegro vai ter que jogar o jogo da vida.
Pena que o possível -eu disse possível, leitores!- e justo campeonato do Peixe possa representar a desgraça do simpático 11 do Canindé, para muitos um segundo time em São Paulo. Terá sido o destino, não haverá o que se fazer. Pena mesmo, meus caros Américo, Duarte e Vieira, meus três amigos doentes pelo clube da colônia portuguesa.
Mas será mesmo que a torcida alvinegra desenterrará o sapo estadual fincado há mais de duas décadas na Vila Belmiro? Ou teremos uma tragédia sem precedentes para os fanáticos da Baixada? Só nos resta pôr as cervejas na geladeira, juntar a canalha amiga e deixar a bola correr...
O que não pode é essa ladainha de que não haverá justiça no eventual caneco.
O Santos merece tanto quanto o São Paulo. O alvinegro, como o sapo de Guimarães Rosa, tem dado os seus saltos não por boniteza ou espetáculo, mas por pura necessidade. Ou seja, jogou para o gasto.

Simplesmente um luxo
Não sou nada chegado nessa onda de homem metrossexual, fenômeno que chegou ao futebol pelas cuecas Calvin Klein de David Beckham, mas achei uma graça a confissão do tiozão Ademar Braga feita ao repórter Eduardo Arruda, desta Folha. Embora não pareça à primeira vista, o técnico do Corinthians vive no salão de beleza, cheio dos cuidados e da cosmética. Foi-se o tempo em que técnico do Timão só sentava em cadeira de barbeiro de subúrbio para ajeitar barba, cabelo e bigode.

Suburbano coração
Vamos lá, Madureira, o secador aqui, que não tem dado sorte nos estaduais Brasil afora, tem fé e ainda aposta. O Botafogo não é lá essas coca-colas todas. Pra cima com a viga, moçada!


Email - xico.folha@uol.com.br

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