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FUTEBOL
O Santos merece!
XICO SÁ
COLUNISTA DA FOLHA
Amigo torcedor, amigo secador, bastou o São Paulo jogar uma bolinha mais vistosa, em
um jogo aqui outro acolá, para
que se iniciasse, na crônica esportiva, um clamor dos diabos pela
defesa do título paulista para os
aristocratas do Morumbi.
Pouco importava se o Santos,
num certame de pontos corridos,
mantinha a dianteira havia várias rodadas. Só se ouvia o clamor, ecoando nos fanhosos radinhos de pilha de todos os porteiros da cidade, por uma certa justiça futebolística.
Quando triunfou sobre o Peixe,
então, o foguetório da mídia formou uma imensa cascata de adjetivo e unanimidade.
Pouco importava se o Santos,
que havia vencido dois clássicos,
contra Corinthians e Palmeiras,
tivesse um homem a menos em
campo, lance capital naquela fatídica virada.
Esquecia-se dali por diante partidas terríveis do São Paulo, como
os embates contra Bragantino,
Noroeste e mesmo na vitória contra o América.
O eco dos radinhos dos porteiros, dos cavalheiros das mesas redondas e das exclamações da imprensa se uniam no mesmo pagode-exaltação.
"Cesse tudo que a musa antiga
canta, que outro valor mais alto
se alevanta", recitava-se até Camões no tal coro dos contentes.
Precisou o Chivas, que já havia
ganho no México, mostrar, pela
Libertadores, que muito ainda
falta ao tricolor para justificar os
floreios todos. E se é o time que joga mais bonito no Brasil, como
propaga o seu humilde técnico, há
mais de aparência do que de eficiência. Pelo menos é o que se viu
nesta última quarta.
O time é bom e tem um candidato a craque, esse menino Thiago, reconheça-se. Não resta dúvida, mas não tanto para tirar o
brilho de uma eventual e merecida conquista do Santos, que manteve-se na dianteira e só depende
de um "diet" 1x0 sobre a Lusa.
Em condições normais, a missão não seria nada dramática.
Com a esquadra lusitana à beira
de um naufrágio, o alvinegro vai
ter que jogar o jogo da vida.
Pena que o possível -eu disse
possível, leitores!- e justo campeonato do Peixe possa representar a desgraça do simpático 11 do
Canindé, para muitos um segundo time em São Paulo. Terá sido o
destino, não haverá o que se fazer. Pena mesmo, meus caros
Américo, Duarte e Vieira, meus
três amigos doentes pelo clube da
colônia portuguesa.
Mas será mesmo que a torcida
alvinegra desenterrará o sapo estadual fincado há mais de duas
décadas na Vila Belmiro? Ou teremos uma tragédia sem precedentes para os fanáticos da Baixada? Só nos resta pôr as cervejas
na geladeira, juntar a canalha
amiga e deixar a bola correr...
O que não pode é essa ladainha
de que não haverá justiça no
eventual caneco.
O Santos merece tanto quanto o
São Paulo. O alvinegro, como o
sapo de Guimarães Rosa, tem dado os seus saltos não por boniteza
ou espetáculo, mas por pura necessidade. Ou seja, jogou para o
gasto.
Simplesmente um luxo
Não sou nada chegado nessa
onda de homem metrossexual,
fenômeno que chegou ao futebol pelas cuecas Calvin Klein de
David Beckham, mas achei
uma graça a confissão do tiozão
Ademar Braga feita ao repórter
Eduardo Arruda, desta Folha.
Embora não pareça à primeira
vista, o técnico do Corinthians
vive no salão de beleza, cheio
dos cuidados e da cosmética.
Foi-se o tempo em que técnico
do Timão só sentava em cadeira de barbeiro de subúrbio para
ajeitar barba, cabelo e bigode.
Suburbano coração
Vamos lá, Madureira, o secador
aqui, que não tem dado sorte
nos estaduais Brasil afora, tem
fé e ainda aposta. O Botafogo
não é lá essas coca-colas todas.
Pra cima com a viga, moçada!
Email - xico.folha@uol.com.br
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