São Paulo, terça-feira, 07 de maio de 2002

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FUTEBOL

Paulo e Jorge - 3

JOSÉ ROBERTO TORERO
COLUNISTA DA FOLHA

Resumo do capítulo anterior: são Paulo e são Jorge renovaram sua aposta para as finais do Rio-SP. Se o São Paulo ganhasse, São Jorge vestiria uma fantasia tricolor feita por Joãosinho Trinta. Se o Corinthians ganhasse, São Paulo faria uma imitação de Carmem Miranda.
Amplidão celeste, terça-feira.
A arquibancada do estádio das nuvens está de cheia de profetas, santos mártires, apóstolos e querubins para testemunhar aquele momento. Depois de uma longa espera, são Jorge sobe a escada do vestiário e surge no gramado. A multidão assobia e bate palmas. Em vez de espada ele carrega um um cavaquinho e, quando chega ao centro do campo, toca alguns acordes e canta: "O que é que a baianaaaa tem?".
O que se vê, em seguida, é um espetáculo espantoso. São Paulo, o apóstolo dos gentios, sai da boca do túnel, vai até Jorge e, valentemente, interpreta a canção até o fim, caprichando nos agudos e trejeitos. De olhos arregalados, a platéia fica muda a princípio, mas depois, animada, acompanha com palmas e até integra o coro na hora de ecoar o "tem".
Quando a música acabou, a sacrossanta multidão vivia um momento de êxtase. O grande apóstolo são Paulo, porém, apenas olhava para são Jorge, que rolava no chão de tanto rir:
- Isso, ria! Ria bastante porque domingo que vem nós vamos acabar com a pose de vocês. Vamos ter o Kaká e o França de volta e vamos levar mais essa taça.
- Tudo bem, eu também pintei meu dragão de tricolor quando o Corinthians perdeu quarta-feira. A bem dizer, nós estamos empatados. A final de domingo vai ser a hora da negra.
- Mal posso esperar. Mas, diga-me uma coisa, meu prezado santo, quais serão os termos da nossa nova aposta?
- Eu tenho uma idéia interessante para você, disse são Jorge.
- E eu tenho uma sugestão maravilhosa, rebateu são Paulo.
A multidão fez um silêncio sepulcral à espera dos novos desafios. Quando, porém, eles iam declinar suas idéias, ouviu-se uma enorme explosão, um coro de anjos tocou suas trombetas e, do nada, Jesus apareceu. Antes que os dois santos dissessem qualquer coisa, ele tomou a palavra:
- É uma vergonha para este lugar, é um ultraje para os evangelhos, é uma decepção tremenda para mim que isso esteja acontecendo. Dois exemplos de pureza de espírito e devoção religiosa entregues a apostas de baixo nível por causa de um jogo de futebol! Não, isso é mais do que a minha infinita paciência pode suportar.
Paulo e Jorge esboçaram uma explicação. Jesus os fez calar:
- Vocês todos, voltem às suas ocupações! E quanto a vocês dois, Paulo e Jorge, além de estarem proibidos de assistir ao próximo jogo, quero que peguem uma pena, um pedaço de papel e escrevam 10 mil vezes: "Nunca mais perderei meu tempo com futebol".
- Sim, mestre, disse Paulo.
- Amém, senhor, disse Jorge.
Então os dois se retiraram, já pensando na triste semana que passariam escrevendo aquela frase por intermináveis 10 mil vezes.
Sentiam-se mais mártires do que nunca.

Cenas do próximo capítulo: Paulo e Jorge terminam seus castigos e vão levar o trabalho para Jesus. E aí descobrem que ele está assistindo ao jogo.

Seleção
Eis que veio a convocação e não trouxe novidades. E eu, como todos os outros brasileiros (tirando, talvez, o Murtosa), tenho minhas discordâncias quanto aos escolhidos. Roque Júnior, por exemplo, não me inspira confiança. O Caçapa, que joga com o Edmílson no Lyon, seria uma boa opção. No ataque, Romário me parece mais inventivo do que o Luizão. Não é mais o gênio de 1994, mas ainda é craque. E, no meio, acho que o Djalminha poderia estar no lugar de Juninho Paulista ou de Kaká. Provavelmente ele perdeu sua convocação ao dar uma cabeçada em seu técnico há alguns dias, mostrando que era um cabeça dura em ambos os sentidos. Djalminha pode passar à história do futebol como um atleta talentoso, mas sem a cabeça no lugar, como um jogador que perdia a cabeça com facilidade. Enfim, um cabeçudo.

E-mail torero@uol.com.br



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