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FUTEBOL
Paulo e Jorge - 3
JOSÉ ROBERTO TORERO
COLUNISTA DA FOLHA
Resumo do capítulo anterior: são Paulo e são Jorge renovaram sua aposta para as finais do Rio-SP. Se o São Paulo ganhasse, São Jorge vestiria uma
fantasia tricolor feita por Joãosinho Trinta. Se o Corinthians ganhasse, São Paulo faria uma imitação de Carmem Miranda.
Amplidão celeste, terça-feira.
A arquibancada do estádio das
nuvens está de cheia de profetas,
santos mártires, apóstolos e querubins para testemunhar aquele
momento. Depois de uma longa
espera, são Jorge sobe a escada do
vestiário e surge no gramado. A
multidão assobia e bate palmas.
Em vez de espada ele carrega um
um cavaquinho e, quando chega
ao centro do campo, toca alguns
acordes e canta: "O que é que a
baianaaaa tem?".
O que se vê, em seguida, é um
espetáculo espantoso. São Paulo,
o apóstolo dos gentios, sai da boca
do túnel, vai até Jorge e, valentemente, interpreta a canção até o
fim, caprichando nos agudos e
trejeitos. De olhos arregalados, a
platéia fica muda a princípio,
mas depois, animada, acompanha com palmas e até integra o
coro na hora de ecoar o "tem".
Quando a música acabou, a sacrossanta multidão vivia um momento de êxtase. O grande apóstolo são Paulo, porém, apenas
olhava para são Jorge, que rolava
no chão de tanto rir:
- Isso, ria! Ria bastante porque
domingo que vem nós vamos acabar com a pose de vocês. Vamos
ter o Kaká e o França de volta e
vamos levar mais essa taça.
- Tudo bem, eu também pintei
meu dragão de tricolor quando o
Corinthians perdeu quarta-feira.
A bem dizer, nós estamos empatados. A final de domingo vai ser
a hora da negra.
- Mal posso esperar. Mas, diga-me uma coisa, meu prezado
santo, quais serão os termos da
nossa nova aposta?
- Eu tenho uma idéia interessante para você, disse são Jorge.
- E eu tenho uma sugestão
maravilhosa, rebateu são Paulo.
A multidão fez um silêncio sepulcral à espera dos novos desafios. Quando, porém, eles iam declinar suas idéias, ouviu-se uma
enorme explosão, um coro de anjos tocou suas trombetas e, do nada, Jesus apareceu. Antes que os
dois santos dissessem qualquer
coisa, ele tomou a palavra:
- É uma vergonha para este
lugar, é um ultraje para os evangelhos, é uma decepção tremenda
para mim que isso esteja acontecendo. Dois exemplos de pureza
de espírito e devoção religiosa entregues a apostas de baixo nível
por causa de um jogo de futebol!
Não, isso é mais do que a minha
infinita paciência pode suportar.
Paulo e Jorge esboçaram uma
explicação. Jesus os fez calar:
- Vocês todos, voltem às suas
ocupações! E quanto a vocês dois,
Paulo e Jorge, além de estarem
proibidos de assistir ao próximo
jogo, quero que peguem uma pena, um pedaço de papel e escrevam 10 mil vezes: "Nunca mais
perderei meu tempo com futebol".
- Sim, mestre, disse Paulo.
- Amém, senhor, disse Jorge.
Então os dois se retiraram, já
pensando na triste semana que
passariam escrevendo aquela frase por intermináveis 10 mil vezes.
Sentiam-se mais mártires do
que nunca.
Cenas do próximo capítulo:
Paulo e Jorge terminam seus castigos e vão levar o trabalho para
Jesus. E aí descobrem que ele está
assistindo ao jogo.
Seleção
Eis que veio a convocação e
não trouxe novidades. E eu,
como todos os outros brasileiros (tirando, talvez, o Murtosa), tenho minhas discordâncias quanto aos escolhidos. Roque Júnior, por exemplo, não me inspira confiança. O Caçapa, que joga com o
Edmílson no Lyon, seria uma
boa opção. No ataque, Romário me parece mais inventivo
do que o Luizão. Não é mais o
gênio de 1994, mas ainda é
craque. E, no meio, acho que
o Djalminha poderia estar no
lugar de Juninho Paulista ou
de Kaká. Provavelmente ele
perdeu sua convocação ao
dar uma cabeçada em seu
técnico há alguns dias, mostrando que era um cabeça
dura em ambos os sentidos.
Djalminha pode passar à história do futebol como um
atleta talentoso, mas sem a
cabeça no lugar, como um jogador que perdia a cabeça
com facilidade. Enfim, um
cabeçudo.
E-mail torero@uol.com.br
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