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BASQUETE
Jogo da verdade
MELCHIADES FILHO
EDITOR DE ESPORTE
Os playoffs da NBA têm
uma aura especial. Depois
da maratona de mais de 1.100
partidas, que se estende por quase
um semestre, o campeonato norte-americano emboca em outro,
mais nervoso e disputado. Alguns, ansiosos, alegam até mesmo
que a primeira etapa da competição, que filtra 16 das 29 equipes,
não passa de enrolação. Dizem
que são os duelos time a time que
distinguem "homens" e "crianças". Querem que o sangue derrame o quanto antes.
Pelo jeito, contudo, os carnívoros do basquete sofrerão de anemia neste ano. Os mata-matas da
temporada 2001/2002 mastigam o
capim da fase classificatória. Narram os mesmos dramas, destacam os mesmos personagens, repetem as mesmas surpresas, ratificam as mesmas verdades.
Quebrou a cara, por exemplo,
quem apostou no tropeço de Jason Kidd. O armador sepultou a
fama de "amarelão", desequilibrou nos confrontos diante do Indiana, com médias de 22 pontos,
8,2 assistências e 6,7 rebotes, e
provou que a campanha do New
Jersey, a melhor do Leste, não foi
um acidente.
Os jovens atletas do Boston
também não deram bola aos que
viam na equipe um fenômeno fugaz, irrelevante, restrito a primeiras fases. Sobrepujaram, de cara
-que ironia!-, o xodó dos que
tratam os playoffs como um clube
privado de times que imprimem
um jogo cadenciado, que "mordem" na defesa e atacam com
cautela. Maior pontuador em últimos quartos do torneio, o ala-armador Paul Pierce foi o destaque. Manteve o ritmo alucinante
e despachou o Philadelphia no jogo de morte com um recorde pessoal de 46 pontos.
E os que já não entendiam o sucesso do Detroit na primeira fase?
Seguem mais perdidos ainda, pois
o clube avança sem contar com
um grande astro e sem exibir um
esquema ofensivo delineado, dois
tabus em etapa decisiva. Ben
Wallace, ala-pivô que do nada
surgiu, catou diante do Toronto
os mesmos rebotes que o consagraram nas "tediosas" 82 rodadas
de classificação.
É claro que os playoffs têm espaço para novos heróis, "matadores" como Reggie Miller, que de
novo brilhou pelo Indiana, e Robert Horry, que parece entrar em
erupção em todas as partidas cruciais do Los Angeles Lakers. Mas
são casos isolados.
Por outro lado, até a tabela da
fase de classificação está retratada no desenrolar dos emparceiramentos nos mata-matas.
Repare que New Jersey, Boston e
Detroit ostentavam campanhas
superiores às de seus oponentes.
Assim como o Charlotte, que tinha feito uma primeira etapa melhor do que o eliminado Orlando.
Do mesmo modo que, no Oeste,
Sacramento, LA Lakers, San Antonio e Dallas haviam encerrado
a primeira fase com mais vitórias
do que os adversários que eles
desclassificaram (Utah, Portland,
Seattle e Minnesota).
A tendência prosseguiu no fim
de semana, quando o segundo
"round" teve início: no Leste, o
New Jersey (1º) bateu o Charlotte
(4º), e o Detroit (2º) derrotou o
Boston (3º); no Oeste, o Sacramento (1º) venceu o Dallas (4º), e
o LA Lakers (2º) saiu na frente
contra o San Antonio (3º).
Caso a verdade da primeira fase
prevaleça, a torcida festejará o
inédito título em Sacramento.
Com os Lakers pelo caminho, é
uma verdade difícil de engolir.
Mas as outras também eram.
Realidade 1
Yao Ming, 2,27 m, 11 centímetros mais alto do que o massa bruta
Shaquille O'Neal, exibiu ótimo repertório técnico em testes pelos
EUA neste mês. Até o irritadiço treinador Pat Riley (Miami) babou. O diagnóstico da NBA é que falta ao pivô chinês apenas um
pouco de tônus muscular no torso e nos braços.
Realidade 2
Não estou entre os que vêem o basquete do mundo muito próximo
de superar o da NBA. Mas humildemente constato que há oito "estrangeiros" entre os 24 jogadores de Sacramento x Dallas.
Realidade 3
Os árbitros terão nova ferramenta para fazer justiça nas quadras. A
exemplo do que ocorre nos campeonatos de futebol americano, a
NBA anunciou que os lances mais polêmicos serão esclarecidos a
partir de 2002/2003 com o replay instantâneo das imagens.
E-mail melk@uol.com.br
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