São Paulo, terça-feira, 07 de maio de 2002

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BASQUETE

Jogo da verdade

MELCHIADES FILHO
EDITOR DE ESPORTE

Os playoffs da NBA têm uma aura especial. Depois da maratona de mais de 1.100 partidas, que se estende por quase um semestre, o campeonato norte-americano emboca em outro, mais nervoso e disputado. Alguns, ansiosos, alegam até mesmo que a primeira etapa da competição, que filtra 16 das 29 equipes, não passa de enrolação. Dizem que são os duelos time a time que distinguem "homens" e "crianças". Querem que o sangue derrame o quanto antes.
Pelo jeito, contudo, os carnívoros do basquete sofrerão de anemia neste ano. Os mata-matas da temporada 2001/2002 mastigam o capim da fase classificatória. Narram os mesmos dramas, destacam os mesmos personagens, repetem as mesmas surpresas, ratificam as mesmas verdades.
Quebrou a cara, por exemplo, quem apostou no tropeço de Jason Kidd. O armador sepultou a fama de "amarelão", desequilibrou nos confrontos diante do Indiana, com médias de 22 pontos, 8,2 assistências e 6,7 rebotes, e provou que a campanha do New Jersey, a melhor do Leste, não foi um acidente.
Os jovens atletas do Boston também não deram bola aos que viam na equipe um fenômeno fugaz, irrelevante, restrito a primeiras fases. Sobrepujaram, de cara -que ironia!-, o xodó dos que tratam os playoffs como um clube privado de times que imprimem um jogo cadenciado, que "mordem" na defesa e atacam com cautela. Maior pontuador em últimos quartos do torneio, o ala-armador Paul Pierce foi o destaque. Manteve o ritmo alucinante e despachou o Philadelphia no jogo de morte com um recorde pessoal de 46 pontos.
E os que já não entendiam o sucesso do Detroit na primeira fase? Seguem mais perdidos ainda, pois o clube avança sem contar com um grande astro e sem exibir um esquema ofensivo delineado, dois tabus em etapa decisiva. Ben Wallace, ala-pivô que do nada surgiu, catou diante do Toronto os mesmos rebotes que o consagraram nas "tediosas" 82 rodadas de classificação.
É claro que os playoffs têm espaço para novos heróis, "matadores" como Reggie Miller, que de novo brilhou pelo Indiana, e Robert Horry, que parece entrar em erupção em todas as partidas cruciais do Los Angeles Lakers. Mas são casos isolados.
Por outro lado, até a tabela da fase de classificação está retratada no desenrolar dos emparceiramentos nos mata-matas.
Repare que New Jersey, Boston e Detroit ostentavam campanhas superiores às de seus oponentes. Assim como o Charlotte, que tinha feito uma primeira etapa melhor do que o eliminado Orlando. Do mesmo modo que, no Oeste, Sacramento, LA Lakers, San Antonio e Dallas haviam encerrado a primeira fase com mais vitórias do que os adversários que eles desclassificaram (Utah, Portland, Seattle e Minnesota).
A tendência prosseguiu no fim de semana, quando o segundo "round" teve início: no Leste, o New Jersey (1º) bateu o Charlotte (4º), e o Detroit (2º) derrotou o Boston (3º); no Oeste, o Sacramento (1º) venceu o Dallas (4º), e o LA Lakers (2º) saiu na frente contra o San Antonio (3º).
Caso a verdade da primeira fase prevaleça, a torcida festejará o inédito título em Sacramento. Com os Lakers pelo caminho, é uma verdade difícil de engolir. Mas as outras também eram.

Realidade 1
Yao Ming, 2,27 m, 11 centímetros mais alto do que o massa bruta Shaquille O'Neal, exibiu ótimo repertório técnico em testes pelos EUA neste mês. Até o irritadiço treinador Pat Riley (Miami) babou. O diagnóstico da NBA é que falta ao pivô chinês apenas um pouco de tônus muscular no torso e nos braços.

Realidade 2
Não estou entre os que vêem o basquete do mundo muito próximo de superar o da NBA. Mas humildemente constato que há oito "estrangeiros" entre os 24 jogadores de Sacramento x Dallas.

Realidade 3
Os árbitros terão nova ferramenta para fazer justiça nas quadras. A exemplo do que ocorre nos campeonatos de futebol americano, a NBA anunciou que os lances mais polêmicos serão esclarecidos a partir de 2002/2003 com o replay instantâneo das imagens.

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