São Paulo, sábado, 07 de maio de 2011

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RITA SIZA

O conto de fadas


Esta ilusão de aptidão e valor transmitida pelo futebol nacional remete para um universo mágico

UM DOS TÍTULOS da imprensa estrangeira sobre a futura decisão da Liga Europa, que será jogada por duas equipas portuguesas, fala em "conto de fadas".
É, acima de tudo, uma referência à surpresa com o apuramento do clube Sporting de Braga para aquela que será a sua primeira presença na final de uma competição internacional: é, sem dúvida, um feito extraordinário para o time minhoto com 90 anos de história, cujo único troféu é uma Taça de Portugal conquistada em 1967.
O Braga, com menos pergaminhos do que o seu adversário da meia-final (e favorito), o também português Sport Lisboa e Benfica, arrumou alguns dos clubes sonantes do futebol europeu -Sevilla, Celtic, Arsenal e Liverpool- sem conceder um único golo em casa, e sempre com exibições seguras e convincentes.
Não chega à final por sorte ou acaso, mas por trabalho, vontade e mérito: quem não reconhece aqui a moral da história com que sempre terminam os contos de fadas?
A referência ao conto de fadas podia ser, também, uma alusão à carreira do FC Porto, o outro finalista, que só na segunda-mão contra o espanhol Villarreal experimentou o sabor da derrota.
O FC Porto não podia ter feito uma campanha mais perfeita, a nível interno e nas competições internacionais.
Mas é olhando a floresta e não apenas as árvores, que o "conto de fadas" faz mais sentido.
O futebol português está representado nas duas partidas mais importantes dos torneios europeus desta temporada, com uma final 100% nacional na Liga Europa, e um "cheirinho" lusitano no jogo derradeiro da Copa dos Campeões (espera-se que Nani, o jogador português no Manchester United, alinhe de início contra o Barcelona).
Tendo em conta a particular e delicadíssima situação que o país atravessa, com uma recessão econômica, uma crise financeira e um descrédito da classe política, esta ilusão de aptidão e valor, de superação e vitória transmitida pelo futebol nacional remete, sem dúvida, para um universo paralelo de magia, fadas e duendes.
Vamos viver durante anos com um doloroso programa de austeridade, mas podemos torcer os dedos e esperar que, como nos contos de fadas, no fim sejamos felizes para sempre.
P.S.: Todo o conto precisa de um bom vilão, e também produzimos um, verdadeiramente "especial", José Mourinho, o treinador do Real Madrid. No fim, cumprindo todos os preceitos, também ele recebeu a sua justiça.


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