São Paulo, domingo, 07 de junho de 2009

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PAULO VINICIUS COELHO

A vitória do trapezista


A maior goleada sobre o Uruguai garante Dunga na Copa, mas às vezes a seleção parece ficar na corda bamba


A MAIOR GOLEADA sofrida pela seleção foi imposta pelos celestes, em 1920: 6 a 0. Pois ontem o Brasil aplicou a maior goleada que o Uruguai já sofreu no Centenário. A vitória extraordinária garante que Dunga vai à Copa. O que não impede que se pense em acertos.
Felipe Melo é dono da cabeça de área. Mas Kléber é foco de insegurança defensiva. A seleção do contra-ataque -36% dos gols com Dunga foram assim- chama demais o rival para seu campo. Mesmo num jogo histórico, levou bola na trave e viveu momentos de sufoco. Às vezes, o Brasil lembra um trapezista, na corda bamba, sem rede de proteção. A experiência no trapézio dá a ele a absoluta noção de segurança. Impossível à distância ter a mesma certeza.
A ambição de Kaká
A ambição do Milan para a temporada ficou estampada numa frase do vice-presidente Adriano Galliani, na quinta: "O clube não pode continuar perdendo 70 milhões por ano". Na mesma entrevista ao diário "Gazzetta dello Sport", Galiani respondeu por que Kaká não foi para o Manchester City, em janeiro, e agora vai para o Real Madrid: "Porque ele não queria ir para o City e quer jogar no Real".
Há sete meses, nesta coluna, Kaká disse só ter sido eleito o melhor do mundo em 2007 por ser o destaque de um time vencedor. Dizia que isso estava ocorrendo com Cristiano Ronaldo e começava a se passar com Messi. Sua ambição era voltar a ser o melhor do planeta. Mas isso só ocorreria num time que lhe desse condição para isso.
Como brilhar no Milan e na Itália com a ferida exposta por Galliani? "A raiz da saída de Kaká é econômica. A Série A luta para não ser superada por outros torneios, após perder para Espanha e Inglaterra. O Real Madrid fatura quase o dobro do Milan, tem estádio de sua propriedade, não divide renda nem direito de TV. E é ajudado por regime fiscal que lhe permite dar salários mais altos. Na Itália, salário de 2 milhões vira em 1 milhão, com impostos. Na Espanha, 2 milhões viram 1,5 milhão."
Kaká quer o Real para ser o melhor do mundo, e o Real quer Kaká para voltar a ganhar a Europa, oito anos após ser coroado por Zidane. Em 2002, o francês foi o herói da decisão da Copa dos Campeões, em Glasgow, onde fez um dos gols mais espetaculares da história. De pé esquerdo, o pé ruim, acertou um sem-pulo no ângulo do goleiro Butt, do Bayer Leverkusen, e desempatou a decisão no último minuto da primeira etapa. Mas perdeu para Ronaldo o título de melhor do ano, em 2002, porque, 20 dias após a final, mancava na derrota para a Dinamarca, na Copa do Mundo da Ásia. A derrota eliminou a França na primeira fase da Copa e tirou de Zidane a chance de lutar pelo prêmio, faturado por Ronaldo.
Na conta de Kaká para ser o melhor do mundo em 2010, só essa parte não fecha. Em ano de Copa, o craque do planeta é o campeão mundial por sua seleção. Quem brilhou na Copa dos Campeões em 2002 e 2006 fracassou nos últimos Mundiais. Se virar referência de um Real vencedor, duro será chegar à África com físico para brilhar nos sete jogos que realmente contarão para o prêmio Fifa de 2010.

pvc@uol.com.br

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