São Paulo, segunda-feira, 07 de julho de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

JOSÉ GERALDO COUTO

Milagres ocultos



Diego Souza fez um golaço de falta, mas o grande herói palmeirense ontem no Mineirão foi o goleiro Marcos

SE A ÚLTIMA imagem é a que fica, o golaço de Diego Souza é que ficará na lembrança dos palmeirenses quando pensarem no empate com sabor de vitória contra o Atlético-MG, no Mineirão. Mas esse belo lance não teria relevância se, antes, Marcos não tivesse fechado o gol alviverde com suas defesas espetaculares. Pois o goleirão do Palmeiras evitou umas quatro vezes, no primeiro tempo, um placar mais dilatado em favor do Atlético. No intervalo, assediado pelos repórteres, Marcos mostrou por que é um dos jogadores mais queridos pelos torcedores de todos os clubes. "Vida de goleiro é assim. Num dia você toma um peru, no outro pega bolas difíceis", disse, sem frescura, sem arrogância, sem falsa modéstia. Grande goleiro e grande sujeito. Se a ordem cronológica fosse invertida, e as defesas de Marcos tivessem sido nos minutos finais do jogo, ele teria saído de campo nos braços da torcida. Na seqüência em que as coisas ocorreram, seus milagres ficaram, por assim dizer, ocultos. Dito isso, cabe constatar que no primeiro tempo só o Atlético jogou no Mineirão. A trave e Marcos impediram o Galo de abrir uma goleada. Na segunda etapa, a equipe mineira parece ter perdido um pouco o apetite, enquanto o Palmeiras se reorganizou como pôde, dados os seus graves desfalques. O Atlético merecia vencer. Mas "merecimento" não ganha jogo. Bola na rede, sim. E Diego Souza a colocou ali, no ângulo, com uma notável precisão. O engraçado é que o técnico Vanderlei Luxemburgo ficou irritado quando viu que o meia bateria a falta, pois tinha mandado que o cobrador fosse o zagueiro Gladstone. O lance fez lembrar o episódio ocorrido na estréia do Brasil na Copa de 58, contra a Áustria, em que Nilton Santos subiu ao ataque e Feola ficou gritando do banco: "Volta, Nilton. Volta, Nilton". Até que o craque fez o gol e o técnico, no mesmo tom, mudou a mensagem para "Boa, Nilton". Tudo isso para dizer que o acaso e o improviso contam tanto para as vitórias quanto o planejamento e o raciocínio corretos. Quase sempre nos esquecemos disso.

"Dinheiro na mão...
...é vendaval", já dizia o grande Paulinho da Viola. Por um punhado de dólares, Roger largou o Grêmio na mão para ir jogar no Qatar. O clube gaúcho, cabe lembrar, está disputando a liderança do Brasileirão e tem grandes chances de conquistar, se não o título, ao menos uma vaga na Libertadores da América de 2009. Roger deixou de lado tudo isso, e a condição de ídolo tricolor, para ir viver num país remoto e atuar num futebol de segunda linha. Ainda se fosse para jogar no Milan ou no Real Madrid... Mas é provável que eu seja chamado de ingênuo ou moralista. Já faz tempo que, no futebol brasileiro, "profissionalismo" virou sinônimo de "levar vantagem em tudo". A burrice, a meu ver, é achar que "mais dinheiro" é igual a "vida melhor". Claro que para quem ganha salário mínimo, sim, qualquer tostão a mais é decisivo. O salário mensal de Roger no Grêmio, porém, era certamente maior do que a soma do que o caro leitor e eu ganhamos em vários anos. Mas esse é outro assunto, que não cabe no espaço desta coluna.

jgcouto@uol.com.br


Texto Anterior: Atletismo: Lesão faz Tyson Gay parar duas semanas
Próximo Texto: Pequim fraciona cidade por patrocínios
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.