São Paulo, quarta-feira, 07 de julho de 2010

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Tragédia Grega

Grave crise econômica e péssima campanha de sua seleção fazem Grécia esquecer Mundial

FÁBIO SEIXAS
ENVIADO ESPECIAL A ATENAS

As ruas Diogenous, Mnisikleous e Flessa, no bairro de Plaka, em Atenas, fervilham. Turistas enchem as lojinhas, os bares estão lotados, artistas faturam nas calçadas.
Mas não passa de ilusão.
A realidade está alguns quarteirões ao norte, na praça Syntagma. Ali, no início da noite de ontem, centenas de manifestantes levantavam bandeiras contra o capitalismo, contra a corrupção no governo, contra a crise econômica que o país atravessa.
Está, também, bem mais ao sul. Eram 21h30 na Grécia quando começou a semifinal entre Holanda e Uruguai. A Folha assistiu à partida num restaurante de Voula, vizinha à capital, à beira-mar. Um lugar simples, frequentado por locais. Ou nem tanto.
Porque, se os donos de bares e restaurantes do país viram luz no fim do túnel quando a Copa começou e os gregos saíram de suas casas para torcer pela seleção, agora tudo voltou a escurecer.
A TV diante das mesas do Pita Time, especializado em churrasquinho grego, mostrava o jogo para apenas cinco clientes. Os preços pareciam convidativos: com R$ 7,45, dá para comer um sanduíche de carne de porco super-recheado e beber uma cerveja. Mas bola rolando e preços baixos já não são suficientes para atrair clientela.
"Os gregos são loucos por futebol. Há mais de 20 jornais de esportes no país. Mas acontece que, neste momento, o futebol simplesmente não é prioridade. Todos estão preocupados com a crise, procurando ficar em casa, não sair, não gastar", diz Nikolaos Margaritopoulos, frequentador do Pita Time.
George Roussis, gerente do restaurante, estava à beira do inconsolável: "Não seria nossa salvação. Mas o mês teria sido bem melhor se a Grécia tivesse pelo menos passado da primeira fase".
Não deu. Os gregos ganharam da Nigéria, mas perderam da Argentina e da Coreia do Sul. Ficaram na terceira posição no Grupo B.
Mais uma má notícia para um país que, desde o final do ano passado, só produz más notícias. Fundamentada num deficit público equivalente a 13,6% do PIB e numa dívida de 300 bilhões, a crise na economia grega preocupa a Europa e põe a população local em alerta.
"Todos os dias, e não estou exagerando, algum ex-funcionário do governo vai preso por corrupção. Eles passaram anos roubando, e agora todos estamos pagando", esbraveja Nikolas Stayropoulos, outro no Pita Time.
Sua bronca se estende para o futebol. Segundo ele, o alemão Otto Rehhagel convocou para a Copa apenas "velhas estrelas", sem fôlego, preterindo alguns jovens talentos do país: "Eles não tinham força para chutar!".
A Grécia foi a 26ª parada da série "Um Mundo Que Torce". E, disparado, aquela que mais se vê distante de toda a festa da África do Sul.
Fim da noite. Na volta para o hotel, longe do agito turístico, as ruas e os bares estão vazios. E a frase de Margaritopoulos reverbera. "Neste momento, o futebol simplesmente não é prioridade."


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