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Tragédia Grega
Grave crise econômica e péssima campanha de sua seleção fazem Grécia esquecer Mundial
FÁBIO SEIXAS
ENVIADO ESPECIAL A ATENAS
As ruas Diogenous, Mnisikleous e Flessa, no bairro de
Plaka, em Atenas, fervilham.
Turistas enchem as lojinhas,
os bares estão lotados, artistas faturam nas calçadas.
Mas não passa de ilusão.
A realidade está alguns
quarteirões ao norte, na praça Syntagma. Ali, no início
da noite de ontem, centenas
de manifestantes levantavam bandeiras contra o capitalismo, contra a corrupção
no governo, contra a crise
econômica que o país atravessa.
Está, também, bem mais
ao sul. Eram 21h30 na Grécia
quando começou a semifinal
entre Holanda e Uruguai. A
Folha assistiu à partida num
restaurante de Voula, vizinha à capital, à beira-mar.
Um lugar simples, frequentado por locais. Ou nem tanto.
Porque, se os donos de bares e restaurantes do país viram luz no fim do túnel quando a Copa começou e os gregos saíram de suas casas para torcer pela seleção, agora
tudo voltou a escurecer.
A TV diante das mesas do
Pita Time, especializado em
churrasquinho grego, mostrava o jogo para apenas cinco clientes. Os preços pareciam convidativos: com R$
7,45, dá para comer um sanduíche de carne de porco super-recheado e beber uma
cerveja. Mas bola rolando e
preços baixos já não são suficientes para atrair clientela.
"Os gregos são loucos por
futebol. Há mais de 20 jornais
de esportes no país. Mas
acontece que, neste momento, o futebol simplesmente
não é prioridade. Todos estão
preocupados com a crise,
procurando ficar em casa,
não sair, não gastar", diz Nikolaos Margaritopoulos, frequentador do Pita Time.
George Roussis, gerente
do restaurante, estava à beira
do inconsolável: "Não seria
nossa salvação. Mas o mês teria sido bem melhor se a Grécia tivesse pelo menos passado da primeira fase".
Não deu. Os gregos ganharam da Nigéria, mas perderam da Argentina e da Coreia
do Sul. Ficaram na terceira
posição no Grupo B.
Mais uma má notícia para
um país que, desde o final do
ano passado, só produz más
notícias. Fundamentada
num deficit público equivalente a 13,6% do PIB e numa
dívida de 300 bilhões, a crise na economia grega preocupa a Europa e põe a população local em alerta.
"Todos os dias, e não estou
exagerando, algum ex-funcionário do governo vai preso por corrupção. Eles passaram anos roubando, e agora
todos estamos pagando", esbraveja Nikolas Stayropoulos, outro no Pita Time.
Sua bronca se estende para o futebol. Segundo ele, o
alemão Otto Rehhagel convocou para a Copa apenas
"velhas estrelas", sem fôlego, preterindo alguns jovens
talentos do país: "Eles não tinham força para chutar!".
A Grécia foi a 26ª parada
da série "Um Mundo Que
Torce". E, disparado, aquela
que mais se vê distante de toda a festa da África do Sul.
Fim da noite. Na volta para
o hotel, longe do agito turístico, as ruas e os bares estão
vazios. E a frase de Margaritopoulos reverbera. "Neste
momento, o futebol simplesmente não é prioridade."
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