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São Paulo, quinta-feira, 07 de agosto de 2003

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pan 2003

Transporte, apagão, comida e água fazem equipes trocar o caos da Vila por hotéis

O ALÇAPÃO DA VILA

EDUARDO OHATA
GUILHERME ROSEGUINI
JOÃO CARLOS ASSUMPÇÃO
ENVIADOS ESPECIAIS A SANTO DOMINGO

Inconformados com os problemas da Vila Pan-Americana, que ameaçavam comprometer suas performances na competição, alguns esportistas a trocaram por hotéis. A "disneylândia", como chegou a definir um membro da delegação brasileira, pode ser bonita, mas não é funcional.
A Folha visitou ontem as instalações. Dividida em 12 blocos e com um total de 720 apartamentos, a Vila possui 17.566 m2. Como quase tudo neste Pan, as obras do local também foram entregues às vésperas dos Jogos. O custo total, dividido entre o setor público e privado, foi de US$ 57 milhões.
A entrada é uma cansativa espera, pela burocracia e pelas revistas. Para entrar em cada um dos blocos, é preciso apresentar aos soldados responsáveis pela segurança a permissão por escrito da administração ou ter o aval de alguém que esteja hospedado neles. É expressamente proibido visitar os quartos dos atletas. Mas não é preciso ir tão longe para perceber o caos, que já gera reações.
Cansadas da desorganização do sistema de transporte, que as fez perder sessões de treinamento, as equipes de basquete de Porto Rico e dos EUA optaram por um hotel mais perto do Centro Olímpico.
Membros das delegações de Uruguai e Venezuela também saíram, mas por um conjunto de fatores -além do transporte, ar-condicionado, que não funcionava, e a comida, servida fria.
As adversidades, na verdade, já ultrapassam a barreira do incômodo. Põem em risco as performances, segundo os próprios atletas, moradores compulsórios da Vila. "Passamos a escovar os dentes com água mineral, pois muita gente teve diarréia por causa da água da torneira", afirmou a canadense Emili Livingstone -até ontem 47 esportistas haviam procurado o centro médico por problemas estomacais. E, mesmo ruim, ela também é escassa, forçando até banhos de caneca, como aconteceu com brasileiros.
A comida é outro problema. "Quando acordamos e vamos fazer a primeira refeição, encontramos o café com leite frio", diz Dali, da seleção de handebol. "O restaurante não é muito organizado. Às vezes há uma aglomeração na entrada do refeitório. Estou falando de três filas de 60 a 100 pessoas", conta o boliviano Carlos Calvo, técnico de ginástica.
Uma boa noite de sono também parece ser um privilégio. "Primeiro, o ar-condicionado não funcionava. Depois, passou a fazer um barulho enorme. Passei a noite acordada. Só após muito tempo é que dormi", relata a mesa-tenista Krystle Harvey, de Barbados.
Em alguns casos, uma rede de dificuldades se estende. "O pessoal do transporte se esqueceu de nos buscar ao fim dos treinos, às 13h. Só após reclamarmos foi que o ônibus veio, uma hora e meia depois. Quando voltamos à Vila, o refeitório estava fechado. Ficamos sem comer", diz Renzo Vidaurra, técnico de judô do Peru.
Pior, nem os momentos de diversão escapam do caos. Com os apagões quase diários, até ver TV é difícil. "Anteontem um transformador queimou. Nossa área ficou sem luz das 14h30 à 1h30", conta o chileno Berto Rodríguez.
Nada porém, que afete a popularidade do centro de entretenimento, que conta com cinema, discoteca e uma moderníssima sala de jogos eletrônicos, onde os atletas "trocam" de esporte -ontem, um brasileiro do handebol disputava um jogo de futebol contra um colega de outro país.


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