São Paulo, quinta-feira, 07 de agosto de 2008

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250 mil primos de Deng

A SEDE do governo chinês é impenetrável. Nada como a Casa Branca ou o Palácio do Planalto. A TV jamais mostra imagens externas dos palácios e lagos de Zhongnanhai, o fortificado complexo que é sede do Partido Comunista e onde moram os grandes dirigentes da China.
O conjunto é colado à Cidade Proibida (o nome diz tudo), onde também se escondia a família imperial chinesa.
No início da Revolução Comunista, Mao Tse-tung quis reinventar o país. Acabou com a propriedade privada e até tentou destruir a família, convocando filhos a delatar seus pais por "atitudes burguesas".
Mas o exercício de poder permaneceu intacto. Monarcas e líderes comunistas têm o menor contato possível com a plebe extramuros. A mídia chinesa é proibida de falar de qualquer aspecto da vida privada do presidente, Hu Jintao.
Apesar de secreto, a manifestação de poder é sentida em toda a cidade. O gigante retrato de Mao na entrada da Cidade Proibida mostra qual é a dinastia que está no trono.
As principais construções olímpicas foram erguidas na mesma direção dos palácios imperiais. A cidade de Pequim é dividida em anéis, que se expandem a partir da Cidade Proibida, cujos contornos formam o primeiro anel.
Quando você tem de enfrentar um congestionamento terrível no terceiro ou quarto anéis, é porque elevados e vias expressas seguem essa geometria centralizadora.
Ser amigo do rei abre todas as portas. Nove entre dez grandes fortunas do país têm profundos vínculos com o Partido Comunista. Vários colocam seus cargos no PC no cartão de visitas.
Na vida social de Pequim, ainda cita-se com freqüência parentesco com os grandes líderes chineses. Em todo jantar, surge alguém gabando-se de ser primo distante do reformista Deng Xiaoping. Pelos meus cálculos, ele teve uns 250 mil primos. Haja família.


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