São Paulo, quinta-feira, 07 de setembro de 2000

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FUTEBOL
Amistosos contra times da Austrália, habituados com um jogo viril, ameaçam jogadores brasileiros antes dos Jogos
Seleção teme truculência australiana

FÁBIO VICTOR
ENVIADO A GOLD COAST

Se a simpatia e a hospitalidade australianas têm agradado muito à seleção olímpica brasileira, a truculência e a força desses mesmos anfitriões podem configurar uma ameaça à preparação do time nacional para a Olimpíada.
A uma semana de sua estréia nos Jogos, o Brasil fará dois amistosos contra equipes australianas antes de enfrentar a Eslováquia, em Brisbane, no dia 14.
O primeiro deles, contra o Brisbane Strikers, nono colocado na última edição da NSL, a liga de futebol do país, será hoje, às 6h30 (horário de Brasília), em Gold Coast, onde a seleção brasileira está se preparando para a Olimpíada de Sydney.
O segundo ocorre no próximo domingo, à 1h, em Sydney, contra o Marconi, sexto colocado no campeonato nacional.
Até aí nenhum problema, a não ser o fato de o estilo de jogo australiano, excessivamente duro, exigir atenção redobrada dos brasileiros às portas da Olimpíada.
Nos dois amistosos, a seleção brasileira vai ter, pela primeira vez desde que chegou à Austrália, os 18 jogadores que foram convocados à disposição.
O técnico da equipe, Wanderley Luxemburgo, que chegou a Gold Coast somente na última terça-feira, reconheceu o problema (""já conhecia o futebol australiano, que é muito forte, de muito choque, muita pegada"), mas se mostrou resignado.
"Você vai ver alguns jogadores tirando o pé (em divididas). É natural, eles não querem perder a chance de disputar a Olimpíada. Mas eu não posso ir para uma competição sem jogar antes", disse o técnico.
Ainda assim, Luxemburgo garantiu que não iria orientar os seus atletas a fugir de choques.
"Se você entra em campo muito preocupado com isso, está roubado, fica mais propenso a uma lesão. Mas evitar divididas é do instinto do atleta, porque ele quer participar da Olimpíada", declarou o treinador.
Entre os jogadores, também impera a estratégia da cautela.
Questionado sobre qual a forma de se livrar da ameaça de lesões, o meia Alex lançou mão do "vocabulário dos boleiros".
"Não pode ir na (bola) podre, que é fria. O segredo é só ir na boa. Não dá para dividir toda bola", afirmou o novo jogador do Flamengo -o Parma, da Itália, emprestou o meia ao clube carioca.
Mas, uma vez tendo que fazê-lo, diz Alex, a postura muda. "Se for para dividir, tem que entrar firme, fazer como num jogo para valer. Se entrar mole, se dá mal."
O volante Fabiano completa. "Se você fica se prevenindo muito, acaba se machucando. É que nem você disputar pelo clube um jogo às vésperas de se apresentar à seleção. Tem que dividir forte, senão dança."
O histórico não favorece o otimismo dos brasileiros.
Em um dos dois amistosos que disputou contra a Austrália em novembro do ano passado, a seleção olímpica se machucou bastante. O lateral Dedê teve uma séria lesão no joelho, e o meia Alex levou uma cotovelada no nariz.
Em um jogo-treino que realizou contra um combinado de Gold Coast, anteontem, a seleção brasileira teve outra pequena amostra do que pode enfrentar nos amistosos com os australianos.
O meia Roger, do Fluminense, deixou o treino de ontem mais cedo, com uma bolsa de gelo nas costas, devido a uma joelhada.


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