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foco
De terno, gravata e bengala, ex-manager busca novo Eder Jofre em São Paulo
EDUARDO OHATA
DA REPORTAGEM LOCAL
Há quase meio século,
Abraham Katzenelson guiou
Eder Jofre ao primeiro título
mundial de boxe do Brasil. E
levou diversos outros pugilistas a lutas por cinturões mundiais. Aos 92, de terno, gravata
e bengala na mão, o ex-manager virou dublê de treinador.
Sua academia, improvisada,
funciona em uma edícula de
seis metros quadrados nos
fundos de uma clínica em que
são feitos exames médicos para se tirar carteira de motorista no bairro de Santa Cecília
(região central de São Paulo).
Abraham fala, com entusiasmo juvenil e forte sotaque
castelhano -resquício das décadas em que o lituano viveu
na Argentina, até 52-, do
mais precioso dos temas para
ele: a busca pelo ""novo Eder".
Um problema auditivo impede que ele negocie por meio
de chamadas internacionais.
Mas seu filho, Mauro, encontrou uma forma de Abraham
seguir no boxe, embora tenha
tido de mudar de função.
""O boxe é a vida do meu pai,
ele só fala disso. Depois da
morte da minha mãe [Fany],
há uns três anos, montei a academia para passar o tempo."
Abraham chega à academia
no fim da tarde, quando a clínica fecha. Meia dúzia de pugilistas frequentam o local
que, no passado, serviu de
quarto para ex-desafiantes a
títulos, como Peter Venâncio
e Giovanni Andrade. A academia destoa do restante da vizinhança, dominada por casas
noturnas da empresária Lilian Gonçalves. Mas tem história: abrigou, nos anos 70, a
firma de boxe Bel-Box, que tinha Katzenelson como sócio.
Nesse meio tempo, deu lugar a uma pizzaria, decorada
com luvas usadas por seus
atletas, e fotos de lutadores.
""Si, si, yo veí", fala o invicto
pugilista meio-médio-ligeiro
Joaquim Carneiro, 21 (nove
nocautes), do Ceará, que arranha o castelhano para se comunicar com o técnico.
""Ele não deixa tomarem
vantagem dos lutadores. Outro dia, um empresário trouxe
um lutador muito maior que o
Joaquim para fazerem sparring [treino com luvas]. Meu
pai não deixou", diz Mauro.
Apesar de relembrar as glórias do passado, Abraham, que
desembarcou no país como
empresário do cantor argentino de bolero Gregório Barrio,
se vê no futuro dos ringues.
""[Carneiro] pode ser um
novo Eder. Ele "pega" como
Eder, mas não é só isso. Tem o
mesmo comportamento, é
muito disciplinado", sonha o
treinador, que, por conta de
suas limitações físicas, não sobe ao canto do ringue para
orientar os pupilos.
""Ele [Abraham] me disse
que tem um novo Eder", diz
Sidney Ubeda, ex-técnico da
seleção brasileira, hoje nos
EUA. ""Mas, se tem a técnica e
a pegada do Eder, como ninguém ainda ouviu falar dele?"
O nome Katzenelson ainda
abre portas no mundo do boxe. Mesmo com a maioria de
suas lutas em cidades do interior paulista, há até pouco
tempo o médio-ligeiro Moisés
""Mike" Miranda, seu atleta,
estava no ranking da associação mundial. Saiu após perder
para um desconhecido.
A gratidão ao ""sobrenome"
Katzenelson é evidente. ""O
Mauro faz as correrias, mas
meu contrato é com o seu
"Abrãao"", ressalta Miranda.
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