São Paulo, segunda-feira, 07 de setembro de 2009

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De terno, gravata e bengala, ex-manager busca novo Eder Jofre em São Paulo

EDUARDO OHATA
DA REPORTAGEM LOCAL

Há quase meio século, Abraham Katzenelson guiou Eder Jofre ao primeiro título mundial de boxe do Brasil. E levou diversos outros pugilistas a lutas por cinturões mundiais. Aos 92, de terno, gravata e bengala na mão, o ex-manager virou dublê de treinador.
Sua academia, improvisada, funciona em uma edícula de seis metros quadrados nos fundos de uma clínica em que são feitos exames médicos para se tirar carteira de motorista no bairro de Santa Cecília (região central de São Paulo).
Abraham fala, com entusiasmo juvenil e forte sotaque castelhano -resquício das décadas em que o lituano viveu na Argentina, até 52-, do mais precioso dos temas para ele: a busca pelo ""novo Eder".
Um problema auditivo impede que ele negocie por meio de chamadas internacionais. Mas seu filho, Mauro, encontrou uma forma de Abraham seguir no boxe, embora tenha tido de mudar de função.
""O boxe é a vida do meu pai, ele só fala disso. Depois da morte da minha mãe [Fany], há uns três anos, montei a academia para passar o tempo."
Abraham chega à academia no fim da tarde, quando a clínica fecha. Meia dúzia de pugilistas frequentam o local que, no passado, serviu de quarto para ex-desafiantes a títulos, como Peter Venâncio e Giovanni Andrade. A academia destoa do restante da vizinhança, dominada por casas noturnas da empresária Lilian Gonçalves. Mas tem história: abrigou, nos anos 70, a firma de boxe Bel-Box, que tinha Katzenelson como sócio.
Nesse meio tempo, deu lugar a uma pizzaria, decorada com luvas usadas por seus atletas, e fotos de lutadores.
""Si, si, yo veí", fala o invicto pugilista meio-médio-ligeiro Joaquim Carneiro, 21 (nove nocautes), do Ceará, que arranha o castelhano para se comunicar com o técnico.
""Ele não deixa tomarem vantagem dos lutadores. Outro dia, um empresário trouxe um lutador muito maior que o Joaquim para fazerem sparring [treino com luvas]. Meu pai não deixou", diz Mauro.
Apesar de relembrar as glórias do passado, Abraham, que desembarcou no país como empresário do cantor argentino de bolero Gregório Barrio, se vê no futuro dos ringues.
""[Carneiro] pode ser um novo Eder. Ele "pega" como Eder, mas não é só isso. Tem o mesmo comportamento, é muito disciplinado", sonha o treinador, que, por conta de suas limitações físicas, não sobe ao canto do ringue para orientar os pupilos.
""Ele [Abraham] me disse que tem um novo Eder", diz Sidney Ubeda, ex-técnico da seleção brasileira, hoje nos EUA. ""Mas, se tem a técnica e a pegada do Eder, como ninguém ainda ouviu falar dele?"
O nome Katzenelson ainda abre portas no mundo do boxe. Mesmo com a maioria de suas lutas em cidades do interior paulista, há até pouco tempo o médio-ligeiro Moisés ""Mike" Miranda, seu atleta, estava no ranking da associação mundial. Saiu após perder para um desconhecido.
A gratidão ao ""sobrenome" Katzenelson é evidente. ""O Mauro faz as correrias, mas meu contrato é com o seu "Abrãao"", ressalta Miranda.


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