São Paulo, domingo, 07 de dezembro de 2008

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TOSTÃO

Dia de alegrias e de tristezas


Hoje é um dia especial para o futebol brasileiro. Dia de alegrias e de tristezas, de conquistas e de decepções

JUCA KFOURI foi o único comentarista, dos que leio e escuto, que fez a previsão de que o São Paulo ia ganhar o campeonato, quando o time ainda não estava entre os quatro primeiros.
Se for confirmado, Juca, além de mestre do jornalismo, será mestre dos videntes.
O Goiás, mandante da partida e impedido de atuar no estádio Serra Dourada por causa de uma decisão da Justiça Desportiva, deveria jogar no seu Estado. Mas a CBF, alegan- do uma situação especial, prevista no regulamento, marcou o jogo para o Bezerrão, no Gama, cidade-satélite de Brasília, que custou uma fortuna ao governo do Distrito Federal.
Na verdade, a CBF quis fazer média com seus amigos políticos. Se o jogo fosse em Itumbiara, o time goiano teria mais torcida e mais chance de vencer.
Hoje é dia de muitas orações, promessas (muitas não serão cumpridas) e de palestras de motivação. Na época em que jogava, estavam na moda os pais-de-santo. Os resultados eram os mesmos. Muitos atletas, assim como as crianças, são facilmente sugestionados pelas forças do além ou por frases feitas, óbvias e por histórias de superação. Alguns jogadores não agüentam mais escutar a mesma coisa.
Hoje, certamente algum dirigente ou um rico torcedor de um clube vai dar dinheiro para os jogadores de outro clube vencerem um concorrente. É a "mala branca", para diferenciar da "mala preta", antigas expressões do futebol extremamente racistas. A "mala preta" é mais grave, o dinheiro é dado para perder, como se as coisas pretas fossem piores que as brancas.
Os que dão e os que recebem dinheiro para ganhar justificam que essa é uma prática antiga, um incentivo e que não é diferente do clube que dá prêmios, "bichos", para seus jogadores vencerem uma partida. No mínimo, é uma atitude antiética. Já dar dinheiro para perder é corrupção, caso de polícia.
O esporte de competição, de alto rendimento, não é um bom lugar para aprender e desenvolver os valores éticos e morais.
Na emoção da disputa por algo importante, por fama e por dinheiro, os atletas, algumas vezes incentivados pelos técnicos e pelos dirigentes, exteriorizam muito mais suas violências, ambições e fraquezas. Querem ganhar de qualquer jeito.
Muitos já disseram, não sei quem foi o primeiro, que um jogo de futebol é uma metáfora da vida. Esse é um sábio clichê. Pena que alguns chavões sejam banalizados. Com o tempo, perdem o valor e/ou deixam de ter sentido.
O que sente um atleta na véspera de uma decisão?
Cada um tem o seu jeito. Eu ficava ansioso e não dormia bem. Quanto mais preocupado, melhor jogava. Penso que deve ser assim com a maioria dos jogadores.
Rogério Ceni disse que não dormiu bem vários dias antes do jogo contra o Fluminense.
A ansiedade, desde que não seja excessiva, melhora a performance do atleta. Há uma liberação de substâncias químicas. O atleta fica mais esperto, concentrado, veloz e eficiente. É o doping psicológico.
Hoje é dia de muitas alegrias e tristezas. No esporte profissional, quando se ganha, é a melhor coisa do mundo. Quando se perde, é a pior.


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