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Rogério comanda seus súditos pelo hexa
Bajulado, goleiro é chamado de "lenda", "rei" e "patrão" por colegas no São Paulo
Vilão da torcida até 2004,
capitão dá volta por cima,
é tratado com privilégios
no CT e qualificado como
"dono do time" por cartola
DA REPORTAGEM LOCAL
No campo para treinamento
de goleiros, no CT são-paulino,
Rogério dá a ordem: "Bosco,
chuta cruzado daí [esquerda].
Haroldo, você daí [da direita]."
Chutes potentes são desferidos. O capitão se mexe de um
lado a outro. Pausa. O atacante
André Lima encosta nas grades
e grita: "Lenda, o amortecimento dessa luva não é muito
bom". "É, sim", retruca Rogério, para de novo ser bombardeado. "Bom, também com essas porradas que estão dando",
diz Lima, em tom de bajulação.
O ritmo do treino segue forte,
já passa das 18h de sexta-feira e,
enquanto o resto do grupo caminha para o chuveiro, Rogério
ainda pratica suas defesas.
Milton Cruz, um dos auxiliares de Muricy Ramalho, chega e
manda recado a Haroldo Lamounier, o preparador de goleiros. "Haroldo, pega leve com
o rei aí", afirma, pedindo a ele
para que poupe Rogério.
Os mimos ao principal ídolo
do clube do Morumbi não são
de hoje. O centroavante Aloísio
só o chamava de patrão.
Não importa a nomenclatura. Seja "patrão", "rei" ou "lenda", Rogério, 35, é de fato o "dono do time", como diz Marco
Aurélio Cunha, o superintendente de futebol do clube.
O processo que alçou o jogador à condição de um dos maiores ídolos do São Paulo foi doloroso. Diante do que representa
hoje, as lembranças de quatro
anos atrás, quando foi chamado
de "pipoqueiro" e de "pé-frio"
pela torcida, que o queria fora,
parecem bem mais distantes.
O respeito que conquistou,
dizem os mais próximos, hoje é
verdadeiro. Nos tempos de vacas magras, sem título, o líder
esbanjava arrogância para comandar os companheiros.
Tudo isso mudou com a taça
da Libertadores e do Mundial
de Clubes, em 2005. "O patrão
merece!", gritava Aloísio logo
depois da conquista no Japão.
"O Rogério anterior a isso talvez fosse ambicioso demais, cobrava os colegas até de forma
exagerada. Queria ser o dono,
mas não era. Hoje, ele manda",
conta Marco Aurélio.
De fato, ao ajudar a rechear
ainda mais a sala de troféus do
Morumbi, Rogério ganhou privilégios que apenas ídolos incontestes têm direito. No CT da
Barra Funda, é o único que tem
um quarto próprio, equipado
com moderna aparelhagem de
som e uma TV de plasma. Também não abre mão de tocar violão, uma de suas paixões.
No refeitório, ninguém se
atreve a sentar na cabeceira da
mesa, lugar cativo do capitão.
Também tem seu lugar próprio
nas viagens de ônibus.
É sempre ele quem puxa as
orações antes de o time entrar
em campo. E é sempre ele
quem dá a palavra final aos colegas antes de cada jogo.
O "dono do time" também
tem direito a dar palpite em tudo no clube. Fora o futebol, gosta de conversar sobre política.
Os amigos dizem que adota
uma linha conservadora, de
centro. Já foi chamado por
Marco Aurélio Cunha, recém-eleito vereador pelo DEM, para
ser candidato, mas recusou.
A fazenda que tem em Sinop,
no Mato Grosso, despertou-lhe
o interesse pelos negócios envolvendo soja. Gosta muito
também de falar sobre carros.
Sabe os preços de todos os modelos. Quando vai fazer um negócio, vem à tona outra faceta
do goleiro: o pão-durismo.
No ano passado, deu um veículo de presente para o sogro.
Modelo popular, de duas portas, sem opcionais e a prazo,
apesar das tentativas inúteis do
vendedor para que o jogador
optasse por um mais caro.
A família, dizem os amigos,
também ajudou na transformação de Rogério em ídolo.
Suas duas maiores paixões
são as filhas gêmeas Beatriz e
Clara, de 4 anos. Após o nascimento delas, teria ficado com o
coração mais "mole". As duas,
além da mulher de Rogério, já
são freqüentadoras habituais
do Morumbi e do CT, até nas
folgas do goleiro. Quando elas
estão em cena, o "dono do Morumbi" deixa de mandar, somente obedece.
(EDUARDO ARRUDA, PAULO COBOS E TONI ASSIS)
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