São Paulo, domingo, 07 de dezembro de 2008

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Rogério comanda seus súditos pelo hexa

Bajulado, goleiro é chamado de "lenda", "rei" e "patrão" por colegas no São Paulo

Vilão da torcida até 2004, capitão dá volta por cima, é tratado com privilégios no CT e qualificado como "dono do time" por cartola


DA REPORTAGEM LOCAL

No campo para treinamento de goleiros, no CT são-paulino, Rogério dá a ordem: "Bosco, chuta cruzado daí [esquerda]. Haroldo, você daí [da direita]."
Chutes potentes são desferidos. O capitão se mexe de um lado a outro. Pausa. O atacante André Lima encosta nas grades e grita: "Lenda, o amortecimento dessa luva não é muito bom". "É, sim", retruca Rogério, para de novo ser bombardeado. "Bom, também com essas porradas que estão dando", diz Lima, em tom de bajulação.
O ritmo do treino segue forte, já passa das 18h de sexta-feira e, enquanto o resto do grupo caminha para o chuveiro, Rogério ainda pratica suas defesas.
Milton Cruz, um dos auxiliares de Muricy Ramalho, chega e manda recado a Haroldo Lamounier, o preparador de goleiros. "Haroldo, pega leve com o rei aí", afirma, pedindo a ele para que poupe Rogério.
Os mimos ao principal ídolo do clube do Morumbi não são de hoje. O centroavante Aloísio só o chamava de patrão.
Não importa a nomenclatura. Seja "patrão", "rei" ou "lenda", Rogério, 35, é de fato o "dono do time", como diz Marco Aurélio Cunha, o superintendente de futebol do clube.
O processo que alçou o jogador à condição de um dos maiores ídolos do São Paulo foi doloroso. Diante do que representa hoje, as lembranças de quatro anos atrás, quando foi chamado de "pipoqueiro" e de "pé-frio" pela torcida, que o queria fora, parecem bem mais distantes.
O respeito que conquistou, dizem os mais próximos, hoje é verdadeiro. Nos tempos de vacas magras, sem título, o líder esbanjava arrogância para comandar os companheiros.
Tudo isso mudou com a taça da Libertadores e do Mundial de Clubes, em 2005. "O patrão merece!", gritava Aloísio logo depois da conquista no Japão.
"O Rogério anterior a isso talvez fosse ambicioso demais, cobrava os colegas até de forma exagerada. Queria ser o dono, mas não era. Hoje, ele manda", conta Marco Aurélio.
De fato, ao ajudar a rechear ainda mais a sala de troféus do Morumbi, Rogério ganhou privilégios que apenas ídolos incontestes têm direito. No CT da Barra Funda, é o único que tem um quarto próprio, equipado com moderna aparelhagem de som e uma TV de plasma. Também não abre mão de tocar violão, uma de suas paixões.
No refeitório, ninguém se atreve a sentar na cabeceira da mesa, lugar cativo do capitão. Também tem seu lugar próprio nas viagens de ônibus.
É sempre ele quem puxa as orações antes de o time entrar em campo. E é sempre ele quem dá a palavra final aos colegas antes de cada jogo.
O "dono do time" também tem direito a dar palpite em tudo no clube. Fora o futebol, gosta de conversar sobre política. Os amigos dizem que adota uma linha conservadora, de centro. Já foi chamado por Marco Aurélio Cunha, recém-eleito vereador pelo DEM, para ser candidato, mas recusou.
A fazenda que tem em Sinop, no Mato Grosso, despertou-lhe o interesse pelos negócios envolvendo soja. Gosta muito também de falar sobre carros. Sabe os preços de todos os modelos. Quando vai fazer um negócio, vem à tona outra faceta do goleiro: o pão-durismo.
No ano passado, deu um veículo de presente para o sogro. Modelo popular, de duas portas, sem opcionais e a prazo, apesar das tentativas inúteis do vendedor para que o jogador optasse por um mais caro.
A família, dizem os amigos, também ajudou na transformação de Rogério em ídolo.
Suas duas maiores paixões são as filhas gêmeas Beatriz e Clara, de 4 anos. Após o nascimento delas, teria ficado com o coração mais "mole". As duas, além da mulher de Rogério, já são freqüentadoras habituais do Morumbi e do CT, até nas folgas do goleiro. Quando elas estão em cena, o "dono do Morumbi" deixa de mandar, somente obedece. (EDUARDO ARRUDA, PAULO COBOS E TONI ASSIS)


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