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Ingo diz adeus à Stock que criou
Em Interlagos, aos 55, veterano faz última prova, exalta e critica interferência da TV e espera choro
Na categoria nacional desde o primeiro ano, recordista de vitórias, poles e títulos acredita que patrocinador escolherá novo campeão
MARIANA BASTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
Aos 55 anos, Ingo Hoffmann
disputará hoje, pela 332ª e última vez, uma etapa da Stock
Car, categoria do automobilismo cuja história se confunde
com a do próprio piloto.
Desde o início da Stock, em
1979, Hoffmann só não participou da corrida inaugural. Até
hoje, conquistou 12 títulos, 79
vitórias e 61 pole positions.
Em entrevista à Folha, Hoffmann diz que, "por interesses
comerciais", Marcos Gomes, da
Medley, deve conquistar o título da Stock de 2008 hoje.
Além disso, o veterano traça
um diagnóstico da categoria
que o abrigou, apesar de, no
início, ele relutar em abrir mão
de sua paixão inicial, que eram
os carros monopostos.
Para ele, a profissionalização
da Stock Car só ocorreu graças
à Globo, que começou a transmitir as corridas em 2000. Entretanto, admite que a categoria teve de fazer concessões e
modificar itens do regulamento para atender a emissora.
FOLHA - Como você tomou a decisão de competir na Stock Car já que
sua carreira estava sendo traçada
em categorias de monopostos?
INGO HOFFMANN - Em 1978, eu
estava na F-2 na Europa. Como
eu passava por dificuldades financeiras, voltei ao Brasil para
correr na Fórmula Super V, que
era uma categoria boa de monopostos. Eu queria competir
uns dois anos aqui e, depois,
voltar à Europa. Mas, como não
consegui contrato com a Super
V, a única opção era a Stock
Car, que, coincidentemente,
iria começar em 1979. Recebi
um convite de um amigo, que
me arrumou patrocínio. Sou piloto profissional e precisava ganhar dinheiro. Se tivessem me
pagado para disputar corrida
de carrinho de rolimã, eu iria.
FOLHA - A partir de quando a Stock
passou a ser rentável para pilotos?
HOFFMANN - A partir de 2000,
quando trouxemos a Globo para a Stock. A emissora deu uma
alavancada na categoria e passamos a ter menos dificuldade
para captar patrocínio. Isso
aqui virou um grande negócio.
FOLHA - A Globo já interferiu muito na competição?
HOFFMANN - É comum atrasarem a largada. Você fica lá, parado no grid, dentro do carro,
com um tremendo calor, esperando 5, 10 minutos para abrir
o link e fica puto da vida. Mas
eu sei que isso é fundamental. É
o grande lance de estar na Globo. Existem outras interferências. A pedido deles, nós já chegamos a inverter o grid. O carro
que faz a pole position, larga em
último. Eles diziam "Vocês não
querem show, não querem aumentar o Ibope?" Então, nós
nos adequamos muito ao que a
televisão queria e ao que quer.
Tanto que hoje existe uma série
de regras impostas pela Globo.
FOLHA - Em sua opinião, o crescimento da Stock pode comprometer
a formação de bons pilotos em categorias de fórmulas no Brasil?
HOFFMANN - Se você observar o
grid de largada hoje da Stock,
vai ver que há muitos pilotos jovens que vieram do kart. Eles
deixaram de seguir carreira em
fórmulas para trilhar um caminho na Stock porque aqui dá dinheiro. Então, essa é uma das
razões que fizeram com que as
categorias de fórmula no Brasil
minguassem. Outra razão é que
os promotores da F-3 perderam o controle da coisa.
FOLHA - Como você tem se preparado para sua última corrida?
HOFFMANN - Estou me preparando para curtir ao máximo.
Não sou chorão, mas acho que
vou chorar. Só de pensar, já estou me emocionando. Se eu
conseguir ganhar, será como
um roteiro de Hollywood. Um
cara, depois de 30 anos na mesma categoria, com 55 anos, ganhar na corrida de despedida?
Isso é roteiro de cinema. Não
acontece (risos).
FOLHA - Quem você acha que será
o campeão neste ano?
HOFFMANN - Pelos interesses
comerciais envolvidos, tudo indica que o campeão será o Marcos Gomes, apesar de o Ricardo
Maurício ter mais experiência.
FOLHA - Você acha que a Medley,
que patrocina Maurício e Gomes,
pode interferir no resultado?
HOFFMANN - Tudo indica que,
em 2009, o Ricardo Maurício
vai sair da Medley e correr em
outra equipe patrocinada por
outro laboratório farmacêutico. Então, não tem porque a
Medley fazer um campeão e
deixá-lo ir para o concorrente.
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