São Paulo, domingo, 07 de dezembro de 2008

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Ingo diz adeus à Stock que criou

Em Interlagos, aos 55, veterano faz última prova, exalta e critica interferência da TV e espera choro

Na categoria nacional desde o primeiro ano, recordista de vitórias, poles e títulos acredita que patrocinador escolherá novo campeão


MARIANA BASTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Aos 55 anos, Ingo Hoffmann disputará hoje, pela 332ª e última vez, uma etapa da Stock Car, categoria do automobilismo cuja história se confunde com a do próprio piloto.
Desde o início da Stock, em 1979, Hoffmann só não participou da corrida inaugural. Até hoje, conquistou 12 títulos, 79 vitórias e 61 pole positions.
Em entrevista à Folha, Hoffmann diz que, "por interesses comerciais", Marcos Gomes, da Medley, deve conquistar o título da Stock de 2008 hoje. Além disso, o veterano traça um diagnóstico da categoria que o abrigou, apesar de, no início, ele relutar em abrir mão de sua paixão inicial, que eram os carros monopostos.
Para ele, a profissionalização da Stock Car só ocorreu graças à Globo, que começou a transmitir as corridas em 2000. Entretanto, admite que a categoria teve de fazer concessões e modificar itens do regulamento para atender a emissora.

 

FOLHA - Como você tomou a decisão de competir na Stock Car já que sua carreira estava sendo traçada em categorias de monopostos?
INGO HOFFMANN
- Em 1978, eu estava na F-2 na Europa. Como eu passava por dificuldades financeiras, voltei ao Brasil para correr na Fórmula Super V, que era uma categoria boa de monopostos. Eu queria competir uns dois anos aqui e, depois, voltar à Europa. Mas, como não consegui contrato com a Super V, a única opção era a Stock Car, que, coincidentemente, iria começar em 1979. Recebi um convite de um amigo, que me arrumou patrocínio. Sou piloto profissional e precisava ganhar dinheiro. Se tivessem me pagado para disputar corrida de carrinho de rolimã, eu iria.

FOLHA - A partir de quando a Stock passou a ser rentável para pilotos?
HOFFMANN
- A partir de 2000, quando trouxemos a Globo para a Stock. A emissora deu uma alavancada na categoria e passamos a ter menos dificuldade para captar patrocínio. Isso aqui virou um grande negócio.

FOLHA - A Globo já interferiu muito na competição?
HOFFMANN
- É comum atrasarem a largada. Você fica lá, parado no grid, dentro do carro, com um tremendo calor, esperando 5, 10 minutos para abrir o link e fica puto da vida. Mas eu sei que isso é fundamental. É o grande lance de estar na Globo. Existem outras interferências. A pedido deles, nós já chegamos a inverter o grid. O carro que faz a pole position, larga em último. Eles diziam "Vocês não querem show, não querem aumentar o Ibope?" Então, nós nos adequamos muito ao que a televisão queria e ao que quer. Tanto que hoje existe uma série de regras impostas pela Globo.

FOLHA - Em sua opinião, o crescimento da Stock pode comprometer a formação de bons pilotos em categorias de fórmulas no Brasil?
HOFFMANN
- Se você observar o grid de largada hoje da Stock, vai ver que há muitos pilotos jovens que vieram do kart. Eles deixaram de seguir carreira em fórmulas para trilhar um caminho na Stock porque aqui dá dinheiro. Então, essa é uma das razões que fizeram com que as categorias de fórmula no Brasil minguassem. Outra razão é que os promotores da F-3 perderam o controle da coisa.

FOLHA - Como você tem se preparado para sua última corrida?
HOFFMANN
- Estou me preparando para curtir ao máximo. Não sou chorão, mas acho que vou chorar. Só de pensar, já estou me emocionando. Se eu conseguir ganhar, será como um roteiro de Hollywood. Um cara, depois de 30 anos na mesma categoria, com 55 anos, ganhar na corrida de despedida? Isso é roteiro de cinema. Não acontece (risos).

FOLHA - Quem você acha que será o campeão neste ano?
HOFFMANN
- Pelos interesses comerciais envolvidos, tudo indica que o campeão será o Marcos Gomes, apesar de o Ricardo Maurício ter mais experiência.

FOLHA - Você acha que a Medley, que patrocina Maurício e Gomes, pode interferir no resultado?
HOFFMANN
- Tudo indica que, em 2009, o Ricardo Maurício vai sair da Medley e correr em outra equipe patrocinada por outro laboratório farmacêutico. Então, não tem porque a Medley fazer um campeão e deixá-lo ir para o concorrente.


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