São Paulo, domingo, 08 de fevereiro de 2004

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FUTEBOL

Times do interior se dizem lesados e levam federação a criar comissão

Pequenos criticam preço, e FPF instaura sindicância

DO PAINEL FC

E DA REPORTAGEM LOCAL

No fim de janeiro, o Paulista de Jundiaí pediu a confecção de 4.922 ingressos para o confronto com o Ituano. Apenas 250, ou 5% do total, foram vendidos. O resto foi queimado. Literalmente.
A arrecadação total, de R$ 3.605, não deu nem para pagar a conta da BWA, que cobrou R$ 4.500. O prejuízo dos jundiaienses na estréia do Estadual foi de R$ 11.540.
A situação acima descrita é a maior arma dos clubes pequenos para rever o contrato firmado entre a Federação Paulista e a BWA.
À exceção dos times grandes, do São Caetano, da Ponte Preta e do Guarani, todos os times da Série A do Estadual pagam R$ 0,60 por ingresso emitido pela empresa.
O prejuízo dos times aumenta exponencialmente quando os cartolas erram a projeção do número de espectadores em campo.
São os clubes que determinam a quantidade de bilhetes que será confeccionada pela BWA.
Nas três primeiras rodadas do Paulista, o desperdício foi de incríveis 77%. Os times mandantes pediram à empresa de Bruno Balsimelli um total de 290.510 entradas. Venderam 65.761. Os outros 224.749 foram encaminhados à FPF, que os incinerou.
O recorde do desperdício aconteceu no duelo entre São Paulo x Ponte Preta. Dos 36.200 bilhetes confeccionados, nada menos que 32.036 foram queimados.
As perdas dos clubes se potencializam com o fato de que a definição da carga de ingressos não leva em conta estatísticas recentes. Na primeira rodada, o São Caetano pediu mais de 7.000 entradas para o duelo com o Mogi -que só levou 690 pagantes ao Anacleto Campanella. No Brasileiro-03, a média de torcedores do time foi de 2.500.
Atingidos por uma crise financeira sem precedentes, os clubes do interior resolveram se unir.
"O valor cobrado é um absurdo, é muito alto. A entrada deveria custar R$ 0,15, e não R$ 0,60", protesta Eduardo Palhares, presidente do Paulista. "O aumento do preço foi abrupto. Achei caro demais e já fui à FPF protestar", reclama Carlos Alberto Costa, presidente da Portuguesa Santista.
"A empresa arrecadar mais do que os clubes é incoerente", afirma Walter Cipriani, vice-presidente do Atlético Sorocaba.
Os cartolas vão além. "Teve um jogo em que eu pedi 2.500 ingressos e me mandaram mais de 6.000. Fizeram os 1.500 que eu pedi e 1.000 do torcedor-família, que acompanha outros quatro", disse Palhares. "Alguns ingressos têm vindo a mais. Nossa relação com a empresa [BWA] tem ficado complicada", concordou o representante do Sorocaba.
A BWA negou veementemente a acusação de que fabrica mais ingressos que o pedido pelos clubes. "Eles vão ter que provar na Justiça", ameaçou Bruno Balsimelli.
Informada da situação pela Folha, a FPF instalou uma sindicância interna para discutir o assunto. "Só soube disso por vocês. Estou muito preocupado, tanto que instaurei a comissão. Só vou me pronunciar depois que ouvir os envolvidos", afirmou Marco Polo Del Nero. Participarão da sindicância cinco presidentes de clubes, entre eles José Lourencetti (Guarani), que também reclamou, e os presidentes do Paulista e da Portuguesa Santista. A primeira reunião será na quarta.
Para todos os clubes da Série A, nenhum custo fixo de jogo é tão alto, proporcionalmente, quanto o ingresso da BWA. O aluguel de estádio custa 12% em geral. A taxa de arbitragem e o exame antidoping têm valor fixo e ficam em torno de R$ 3.000 cada um.
Apesar da relação problemática com a BWA, alguns clubes têm intensificado negócios com a empresa. O América, por exemplo, teve as carteiras de sócios e de portadores de cativas confeccionadas pela BWA. Em troca, a partir do jogo de hoje, contra o São Paulo, a equipe ostentará nas mangas do uniforme do clube o logotipo da empresa de Balsi- melli. (FERNANDO MELLO, MARCUS VINICIUS MARINHO E PAULO COBOS)


Colaborou Guilherme Roseguini, da Reportagem Local

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