São Paulo, domingo, 08 de fevereiro de 2004

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FUTEBOL

Empresário afirma que só faz o que lhe pedem e fala em "burrice" e "sacanagem" de clubes que reclamam dos preços

Para BWA, cartolas são "incompetentes"

DO PAINEL FC

E DA REPORTAGEM LOCAL

A cúpula da BWA carrega nos adjetivos para justificar a liderança no ranking das instituições que mais ganham dinheiro com os jogos do Campeonato Paulista.
A empresa diz que recebe apenas o que foi acordado com a FPF, alega que foi contratada por meio de licitação aberta e acusa seus críticos de "incompetência", "burrice" e "sacanagem".
Em entrevista de quase duas horas concedida à Folha, o empresário Bruno Balsimelli disse que a BWA cobra menos do que gostaria, defendeu a adoção de venda de ingressos on-line, por meio de postos informatizados, e culpou o Estatuto do Torcedor e o erro dos clubes pela fatia de 16% de sua empresa na renda do Paulista.
"Os R$ 0,60 que cobramos por ingresso incluem locação de catracas, frete, adoção de infra-estrutura, envio de pessoal especializado e manutenção. O valor não é nada, é insignificante. Se eu estou ganhando dinheiro com isso, por favor, me arrume um concorrente que faça melhor que eu. Infelizmente eu ganhei essa concorrência. Na hora, não sabia quantas empresas participariam. Entrei sozinho e botei o preço embaixo. Eu errei", disse Balsimelli.
Para mostrar que não ganha sempre, a BWA se abraça à partida de hoje entre Marília e Paulista. Afirma que, só com frete, gastará R$ 1.400. Vai faturar R$ 1.900. "Pagarei para trabalhar".
O executivo reclama que sua margem de lucro caiu a 12% com o Estatuto do Torcedor. Afirma ainda que o preço da mão-de-obra cresceu 30% por causa da exigência de imprimir nos ingressos as fileiras e os assentos.
No ano passado, segundo o próprio Balsimelli, a BWA ganhava ainda mais com a venda de ingressos e locação de catracas.
Sobre a chiadeira dos clubes pequenos, Balsimelli disse que só faz o que lhe solicitam. "Se os clubes pedem errado, eu tenho culpa? Se manda produzir, eu produzo. A incompetência é dos clubes. A burrice é pedir muito ingresso. Alguns clubes são cegos nisso."
O empresário vai além. Diz que os cartolas não querem evitar o prejuízo que têm com a confecção de ingressos. "Você acha um baita negócio [o acordo do Paulista]. E eu te pergunto: por que os times não fazem venda on-line, que não dá encalhe, não tem que adivinhar a carga? Porque ninguém quer perder o poder. O poder de ter o ingresso na mão e fazer o que quiser de sacanagem."
Marco Polo Del Nero, presidente da FPF, refuta a tese de Balsimelli. "Não tem incompetência nem sacanagem. Precisamos sentar e discutir uma solução."
Diretor-executivo da BWA, Fernando Silva disse que não há hipótese de o preço baixar. "As pessoas vêem as pingas que tomamos, mas não os tombos que levamos. A chance real é de aumentar. Nosso preço está dentro do mercado. Ganhamos o nosso dinheiro, como todo mundo ganha. Não somos instituição de caridade."
Para justificar a presença em mais de 200 estádios, Balsimelli alega que oferece serviço melhor e mais barato que a concorrência. Como exemplo, diz que o ingresso do Maracanã vale R$ 0,40. Do Castelão, no Ceará, de R$ 0,28 a R$ 0,31. A diferença é que nos dois estádios estatais não é preciso alugar catracas, que foram fornecidas pela BWA ou bancadas pelos administradores das arenas.
Na Arena da Baixada, um dos poucos estádios grandes do país que não têm a BWA, a empresa Telemática cobrou média de R$ 0,40 em Atlético-PR x Francisco Beltrão. No caso, os paranaenses investiram cerca de R$ 600 mil para comprar as catracas. "A diferença é que eles pensam no lucro, e a gente, no serviço", disse Paulo Mello, gerente de contas da Telemática. (FERNANDO MELLO, MARCUS VINICIUS MARINHO E PAULO COBOS)


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