São Paulo, domingo, 08 de fevereiro de 2004

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OLIMPÍADA

Apesar de tentativa, limitações atuais impedem Jogos de reviver maratona e arremesso de peso da Antigüidade

Modernidade desafia história em Atenas

Thanassis Stavrakis-7.nov.2003/Associated Press
Operários trabalham em reforma do estádio Panathenian (Atenas), local da chegada da maratona


ADALBERTO LEISTER FILHO
DA REPORTAGEM LOCAL

Um anônimo mensageiro percorreu os cerca de 40 km entre Maratona e Atenas para anunciar a vitória dos gregos na batalha contra os persas em 490 a.C. Segundo alguns relatos, o soldado disse simplesmente: "Comemorem, nós vencemos". E morreu.
Quase 2.500 anos depois, a Olimpíada de Atenas, que será disputada de 13 a 29 de agosto, tentará reviver essa façanha.
Em outra iniciativa promovida pelo Athoc, o comitê organizador da Olimpíada, a prova de arremesso de peso será disputada nas ruínas do antigo estádio de Olímpia, berço dos Jogos modernos.
"Só a Grécia conta com os símbolos que ligam os Jogos da Antigüidade com o seu ressurgimento, em 1896, e a Olimpíada atual", destacou Gianna Angelopoulos, presidente do comitê grego.
É verdade, entretanto, que a Olimpíada enfrenta novos desafios. Os Jogos da Antigüidade eram pretexto para todas as guerras serem interrompidas. Em Atenas, a principal preocupação é justamente com a segurança.
"É a nossa maior prioridade. Gastaremos 650 milhões em equipamentos e infra-estrutura com essa finalidade", contou à Folha Serafim Kotrotsos, diretor de comunicações do Athoc.
Determinar o percurso da maratona, ao menos, não foi complicado. Desde 1960, o local em que será disputada a prova já abriga a Maratona Clássica de Atenas.
"A recriação do caminho original significa uma continuidade de nossa história. Os Jogos voltarão ao seu local de origem para serem revividos", afirmou Kotrotsos.
O dirigente, no entanto, reconhece que há algumas dificuldades nos tempos modernos.
"A rota é a mesma, mas com a provável diferença de que o mensageiro não passou por Tymbos e sim percorreu uma área chamada Stamata", disse o dirigente.
O alongamento do itinerário foi feito para adequar a competição à medida oficial de 42,195 km.
"Os atletas terminam a corrida no estádio Panathenian [em Atenas], o mesmo usado nos Jogos de 1896. Eles terão que fazer uma volta na pista antes de encerrar a prova", disse o diretor do Athoc.
Além dessas alterações, os organizadores enfrentaram problemas mais prosaicos nesta semana.
Os operários que trabalhavam na ampliação da estrada que liga Maratona a Atenas fizeram greve e fecharam a via por três dias reclamando da falta de pagamento.
Irritado com isso, o governo da Grécia chegou a ameaçar rescindir o contrato com a European Technical, empreiteira responsável pela obra, que enfrenta uma dívida de US$ 1,25 milhão. O cronograma está um mês atrasado.
No estádio de Olímpia, a questão é ainda mais delicada. A idéia de trazer uma prova olímpica para o local foi criticada pela Associação Grega de Arqueologia. Em contraposição, o Athoc garantiu que a área não será prejudicada -a prova será em 18 de agosto, dois dias antes do início dos demais eventos do atletismo.
"Não faremos nenhuma intervenção que possa danificar o local. Não haverá placas, placar eletrônico ou luz artificial. Usaremos as condições ambientes e respeitaremos o caráter histórico de Olímpia", relatou Kotrotsos.
Os costumes atuais, porém, impedem que a tradição seja seguida à risca. As mulheres, que não competiam na Grécia Antiga, terão espaço em Olímpia. Além disso, os atletas não atuarão nus, como acontecia nas antigas disputas, assistidas apenas por homens.


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