São Paulo, quarta-feira, 08 de março de 2006

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FUTEBOL

Ana Paula Oliveira "esquece" corpo que já foi capa de revista e turbina treino físico para conseguir vaga em Mundial

Por Copa, musa troca curvas por músculos

Ayrton Vignola/Folha Imagem
A bandeirinha Ana Paula Oliveira, que quer disputar vaga na Copa de 2010, faz preparação física em unidade do Sesc em Campinas


KLEBER TOMAZ
ENVIADO ESPECIAL A CAMPINAS

Hoje é o Dia Internacional da Mulher. Para a árbitra assistente brasileira Ana Paula Oliveira, porém, a data vai marcar mais um passo de sua cruzada para provar aos dirigentes do futebol que ela pode se igualar a um homem.
Essa é a única maneira da bandeirinha paulistana de 27 anos, famosa pela beleza -chegou a ser capa de revista no ano passado-, realizar o seu maior sonho: ser a primeira mulher a trabalhar em uma Copa masculina.
A Federação Internacional de Futebol sempre foi bem clara: homens apitam Copas masculinas e as mulheres, as femininas.
Mas, num congresso em novembro de 2005, em Assunção, no Paraguai, o Comitê de Arbitragem da entidade máxima do futebol aventou a possibilidade de incluir mulheres nos seus torneios internacionais, desde que estas cumprissem os mesmos índices dos testes físicos dos homens.
Em fevereiro deste ano, Ana Paula, que pertence ao quadro feminino brasileiro da Fifa, percorreu 2.425 metros em 12 minutos e não conseguiu o argumento que queria levar até a Fifa para obter espaço na Copa da Alemanha.
A distância obtida foi 25 metros superior ao mínimo exigido para mulheres no teste, mas 275 metros menor do que marca exigida para a versão masculina.
O trio de arbitragem escolhido pela Fifa para apitar no Mundial é formado pelo juiz gaúcho Carlos Eugênio Simon e os auxiliares Edimilson Corona (São Paulo) e Aristeu Leonardo Tavares (Rio).
Após fracassar na sua primeira tentativa de ir ao Mundial, Ana Paula tomou uma atitude radical, segundo ela mesma define, para tentar chegar à Copa da África do Sul em 2010, quando terá 32 anos.
Ela pretende transformar suas medidas -hoje tem 1,73 m e 61 kg. Com incremento dos treinos físicos, quer abaixar o peso, ficar mais forte e mudar suas características para poder duelar de igual para igual com árbitros nos testes.
A bandeirinha já avisa, por exemplo, que não aceita mais convites para fotos em poses sensuais. Mais: pretende ficar solteira até 2010, para evitar pensar em casamento e filhos. "Quero me dedicar só à parte física", declara Ana Paula, que alega ter superado seus próprios preconceitos para se render a um programa especial de treinamentos.
"Eu tinha medo de fazer musculação e ficar muito masculina. Para você ter uma idéia, só há seis meses é que fui convencida a malhar o tronco", explica a bandeirinha, exibindo bíceps definidos.
Segundo ela, o padrão da mulher brasileira de quadris largos foi deixado de lado após receber um conselho de um instrutor de arbitragem da Fifa.
"Ele me disse que, se eu quisesse ir para a Copa, deveria perder o corpo de modelo e ganhar um de atleta", diz Ana Paula, que contratou um corredor para melhorar o rendimento nas provas de fundo, justamente seu calcanhar de Aquiles no último teste.
Marcelo Urbano, 33, participa de corridas pela cidade de Paulínia e elaborou um trabalho pliométrico, que visa aumentar a propulsão da auxiliar, com saltos e corrida com barreiras.
"Acredito que até o fim deste ano ela consiga fazer 2.700 metros em 12 minutos", vislumbra Urbano. "Ela tem uma explosão muscular muito boa [consegue dar tiros de 50 metros em 7 segundos, tempo melhor que o mínimo masculino exigido pela Fifa], mas a resistência aeróbia é um pouco deficiente", explica o treinador.
Em 2007, porém, os testes físicos exigidos pela entidade que regula o futebol mundial devem ser incrementados e ficar mais exigentes e desgastantes. Ana Paula, por exemplo, terá de dar seis tiros de 40 metros em seis segundos. E outros 20 tiros de 150 metros em 35 segundos.
"Prefiro que a Fifa mantenha mesmo esse critério masculino para uma mulher ir à Copa do Mundo. É um desafio, e caso eu consiga ir ao próximo Mundial, terei aberto portas para outras mulheres", conta a assistente.

Colaborou Eduardo Arruda, da Reportagem Local

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