São Paulo, quarta-feira, 08 de maio de 2002

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FUTEBOL

A menos de 1 mês da Copa, joelho direito atormenta meia-atacante, que teme que uma cirurgia encerre sua carreira

"Dói muito, o tempo todo", afirma Rivaldo

FÁBIO SEIXAS
ENVIADO ESPECIAL A BARCELONA

A loja oficial do Barcelona vende fotos heróicas do meia-atacante Rivaldo conduzindo a bola, comemorando gols e erguendo troféus. Vibrando. Sorrindo.
O jogador que se via ontem no Camp Nou, porém, era outro.
Um Rivaldo abatido, gripado, fragilizado. Que olhava para o chão e falava baixo sempre que comentava sua lesão no joelho direito. Que, por fim, admitiu: "Dói muito. Dói o tempo todo".
A exemplo do que vem acontecendo há mais de duas semanas, o meia-atacante não treinou ontem com o grupo do Barcelona. Ficou à parte, fazendo apenas exercícios físicos, longe da bola.
Não sabia nem a data do próximo jogo de seu time, contra o Zaragoza, pela última rodada do Espanhol. "Vai ser no sábado? Pensei que seria na sexta-feira."
Rivaldo, 30, sabe que o cenário é preocupante. Em 26 dias, ele precisa estar recuperado e entrar em campo como um dos comandantes da seleção na Copa, contra a Turquia. Pelo menos é o que deseja Luiz Felipe Scolari, que designou o médico José Luiz Runco, da seleção, para acompanhar o caso.
Ontem, o coordenador Antônio Lopes disse que "a palavra da CBF é a que vale" e que a situação de Rivaldo "não é preocupante".
As palavras do jogador, no entanto, levam para outro lado. E deixam no ar o termo "incógnita", usado anteontem por Ricard Pruna, médico do Barcelona, ao avaliar as chances de o brasileiro jogar todas as partidas da Copa.
"Ainda sinto muitas dores. Sinto o tempo todo, sempre que vou chutar com a perna esquerda. O joelho direito faz o apoio e dói muito", disse Rivaldo, ontem, de dentro de seu Porsche, no estacionamento do Camp Nou.
Ele se preparava para deixar o estádio. E, novamente seguindo a rotina dos últimos dias, não iria falar com a imprensa. Pouco a pouco, porém, passou a se abrir.
"Às vezes, a dor é menor, mas o médico [Pruna] acha melhor eu não jogar. Não reclamo. É ele quem sabe o que pode acontecer."
O atleta não quer ouvir falar em cirurgia, embora isso pudesse ser uma saída para depois da Copa.
"Tenho muito medo de operar. Não posso fazer cirurgia por causa do meu jeito de pisar. Se operar o joelho, posso ter de parar de jogar", disse. "Seria parecido com o que houve com o Ronaldo. No meu caso, tirariam o menisco e botariam uma prótese. Mas, pelo jeito como piso, não adiantaria."
A receita ideal, para o jogador, seria continuar o atual trabalho. Ou seja: fazer musculação "até o fim da carreira". Segundo ele, quanto mais forte estiver a parte de trás da coxa direita, menos pressão haverá sobre o menisco.
Mas Rivaldo não reclamou apenas de dores. Reclamou da imprensa e criticou Djalminha.
Para Rivaldo, a imprensa "adora" criar polêmica em cima dele. Ele citou como exemplo o episódio de sua lesão no joelho, no último dia 21, contra o Celta.
"A imprensa daqui fica dizendo toda hora que foi contra Portugal, pela seleção", declarou, referindo-se ao último amistoso do Brasil, no dia 17. "Não foi."
Criticou ainda o burburinho criado por ter contratado um fisioterapeuta particular, Renato Fernandez. "Estou no Barcelona, e o clube autorizou. Não tinha mesmo que ter ligado para a CBF. Não quis sacanear ninguém."
Foi para não criar mais polêmicas que ele evitou, ontem, um dia após a convocação para o Mundial, comentar a lista de Scolari.
Só falou de Djalminha, que perdeu a chance de ir para a Copa ao dar uma cabeçada no seu técnico no La Coruña, Javier Irureta.
"Ele me disse que não aguentava mais o técnico e que estava suportando a situação só porque queria ir à Copa. E foi explodir cinco dias antes da convocação! Isso não pode fazer."
Na segunda-feira, Rivaldo se entrega aos médicos da seleção. Espera, até lá, estar recuperado de um problema menor, uma gripe. "Ontem [anteontem], tive até um acesso de tosse no dentista", disse, com um raro sorriso, antes de fechar a porta do carro e sair para para casa. No bairro de Sarriá.



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