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FUTEBOL
A opção pelo purgatório
JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA
Apesar da classificação na
Copa do Brasil, há muitos
corintianos que já não esperam
uma recuperação do time nesta
temporada. Alguns chegam a dizer que a única solução para a
crise alvinegra é a traumática, ou
seja, rebaixamento para a Série B
e posterior reerguimento.
O caso palmeirense é tomado
como exemplo. Descontada a humilhação momentânea, a temporada na Segundona serviu para
regenerar o Palmeiras e reforçar
os laços do clube com sua torcida.
Nessa perspectiva de "salvação
pelo rebaixamento" talvez esteja
presente, de modo inconsciente, o
mito católico do purgatório, de
onde se sai liberado das culpas e
erros do passado.
Mas há um porém nessa linha
de raciocínio (ou de crença): e se o
time cair e depois demorar a conseguir voltar? O purgatório pode
se transformar num inferno. Os
corintianos mais velhos têm na
memória os terríveis anos da
"longa fila" (1954-77) e não querem repetir a experiência.
Por sua vez, os otimistas, ou seja, aqueles que rejeitam o "quanto pior, melhor", esperam a volta
de Kléber e Ricardinho, para recompor com Gil aquilo que Parreira chamou certa vez de "o melhor lado esquerdo do mundo".
No fundo, são duas formas
opostas e complementares de
pensamento religioso: a crença na
salvação pela purgação dos pecados e a espera pela volta do Messias. Isso só confirma que, nos momentos de crise, a religiosidade
aflora com mais força. Basta lembrar da bandeira com a imagem
de Nossa Senhora que a massa alviverde passou a desfraldar nos
jogos do Palmeiras na Série B.
Quem sabe a Gaviões pede essa
bandeira emprestada para a
Mancha?
Embora o Santos esteja tão mal
quanto o Corinthians na classificação do Brasileiro, com o agravante de ter perdido o treinador
que comandou o time nos últimos
dois anos, a crise na Vila Belmiro,
a meu ver, é muito mais branda e
superficial que a corintiana.
O time caiu de produção do ano
passado para cá, é verdade, mas
seu elenco continua sendo um dos
melhores do país. Com um bom
treinador (Luxemburgo ou outro
qualquer), o Santos pode voltar
rapidamente aos eixos. No Corinthians, há muito mais coisas a serem consertadas.
Assim como o Santos, também o
Cruzeiro e o São Paulo tropeçaram na Libertadores.
A situação santista é a mais crítica, pois terá que reverter uma
desvantagem de dois gols no jogo
de volta contra a LDU.
Já o São Paulo e o Cruzeiro tiveram tudo para sair com um resultado melhor de seus confrontos,
mas vacilaram.
Enquanto os três "favoritos"
passam por apuros, o São Caetano, que se classificou na repescagem, está numa posição invejável,
depois de ter vencido de virada o
América do México. Eis mais
uma prova de que o papel de azarão sempre caiu muito bem ao
Azulão.
Lei para alguns
Como mostrou a Soninha na
sua coluna de anteontem, o tal
do BID da CBF, utilizado como
desculpa para punir clubes que
pretensamente escalam jogadores irregulares, é uma palhaçada. Se fosse levado ao pé da
letra, quase todos os clubes teriam que perder seus pontos.
Em vista disso, a punição ao
Coritiba, que foi parar na lanterna do Brasileiro após perder
seis pontos dessa maneira, só
pode ser vista como uma tremenda safadeza.
Coerência?
A convocação para os jogos
contra França e Argentina não
trouxe novidades. Pelo visto,
Parreira vai insistir até a morte
com Lúcio, Roque Júnior, Belletti e Júnior, mesmo que haja
outros em melhor forma técnica. Paciência.
E-mail jgcouto@uol.com.br
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