São Paulo, sábado, 08 de junho de 2002

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JOSÉ GERALDO COUTO

Brasil treina enquanto os outros se matam


Partida de hoje, contra a fraca seleção chinesa, pode ser a última oportunidade para Scolari abandonar o esquema com três zagueiros


Enquanto outras potências do futebol (Argentina, Inglaterra, França) se arrebentam em "jogos da morte", o Brasil, beneficiado pelo sorteio dos grupos, continua em ritmo de treino.
Hoje, contra a fraca China, seria talvez a última chance de Scolari abandonar sua insistência no esquema com três zagueiros e testar a volta do velho 4-4-2 ou, melhor, do 4-3-3.
É pouco provável que isso aconteça. Ao que tudo indica, vamos continuar com um buraco no meio-campo, dependendo unicamente do talento individual de nossos homens de frente.
Com relação a esses craques, é interessante notar como o humor dos torcedores brasileiros é volúvel. A cada partida, é a vez de um craque ser questionado, para que outro possa subir ao trono.
Antes do jogo contra a Turquia, Ronaldinho parecia uma unanimidade. Hoje já tem muita gente querendo vê-lo fora do time. O outro Ronaldo, ao contrário, voltou a subir no conceito da galera, ao lado de Rivaldo.
Nessa dança das cadeiras, em que nunca parece haver lugar para todos no coração do torcedor, um nome divide permanentemente as opiniões, despertando reações que variam do entusiasmo incondicional ao mais sisudo ceticismo.
Para uns, Denílson é um dos poucos fora-de-série de que dispomos. Para outros, como a perspicaz leitora mineira Petrina Mello, "está virando um mico de circo, que precisa criar jogadas de gol, e não apenas querer dar seus showzinhos particulares".
Correndo o risco de parecer mais "mineiro" que a própria leitora, acho que os dois lados têm razão: o exuberante futebol de Denílson pode empolgar ou irritar, dependendo da situação.
Driblador extraordinário, só comparável, entre os que vi jogar, a Garrincha e Edu (do Santos dos anos 60 e 70), Denílson às vezes parece ficar embevecido com o próprio talento, esquecendo o objetivo do jogo.
Num lance contra a Turquia, depois de um par de dribles sensacionais, se distraiu e simplesmente deixou a bola sair.
Como resolver essa questão? "Disciplinar" a arte de Denílson equivaleria a amarrá-lo. Seria o mesmo que obrigar Picasso a pintar quadros acadêmicos.
Hitchcock dizia que o drama é "a vida sem as partes chatas". Para Denílson, o futebol é isso: uma vida de êxtases, sem trabalho e sem monotonia. Ele é a cigarra. Os outros que façam o papel de formiga.

jgcouto@uol.com.br



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