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MOTOR
Rivais unidas
JOSÉ HENRIQUE MARIANTE
EDITOR-ADJUNTO DE ESPORTE
A Michelin produziu ontem outro bom resultado
para suas clientes. O calor canadense favoreceu o composto francês, e os carros da McLaren voltaram a andar na ponta.
Claro, era sexta-feira, dia de
treino livre, qualquer um pode
andar com tanque vazio, pneus
novos, enfim, em ritmo de classificação. E não seria a primeira vez
nesta temporada que a escuderia
inglesa faria questão de mostrar
serviço na hora errada -melhor
dizendo, na hora em que consegue fazer qualquer coisa.
Mas a McLaren, a despeito de
alguns fiascos no início do ano e
do ceticismo da maioria dos analistas e do público, ainda respira.
E respirar, no caso, significa conseguir fazer alguma coisa no pelotão da frente. Há menos de um
mês a coluna dava como fácil o
fim da curta mas avassaladora
era McLaren-Mercedes na F-1.
A situação da equipe de Ron
Dennis era dramática. Seus integrantes por pouco não se engoliram pela mídia.
Adrian Newey, o projetista mais
bem pago da F-1, soava como um
pateta ao não conseguir justificar
tantos erros no projeto.
Em pior situação ficou David
Coulthard, constantemente superado em velocidade por Kimi
Raikkonen e dado como morto
na próxima temporada, impressão que continua -foi obrigado
agora em Montreal a declarar
que não teme perder a vaga para
o ex-companheiro Mika Hakkinen, congelado em um estranho
período sabático, história mais do
que mal contada.
A vitória em Mônaco, além de
ufanar os ingleses, ainda revoltados com a palhaçada ferrarista de
Zeltweg, parece ter dado algum
fôlego à equipe. Nada que vá mudar a história deste campeonato,
escrita desde que Michael Schumacher sentou pela primeira vez
no cockpit do F2002.
É suficiente, porém, para não
permitir que a enorme história da
McLaren escoe para o ralo da F-1
de forma tão gratuita.
Contribui para isso também o
momento de inflexão da Williams, que decidiu revirar seu pacote aerodinâmico em plena metade da temporada para tentar
salvar suas chances no Mundial
de Construtores e a própria projeção que fazia para si na temporada de 2003 -sublinhe-se fazia,
pois de novo a combinação Schumacher-F2002 foi determinante
ao azedar as metas estabelecidas
pela BMW.
A Williams, como a McLaren,
não disputa mais este campeonato. O que vier dele, se vier, é lucro.
O próximo Mundial é que está em
jogo. E o seguinte também. O contrato de Schumacher, aliás, de todo o time ferrarista, só expira no
final de 2004. A Ferrari precisa de
mais títulos para viabilizar uma
intrincada operação de resgate financeiro da Fiat, que pode alterar significativamente o mercado
mundial de automóveis.
(A situação é de crise para todo
mundo. A da Ferrari, por incrível
que pareça, é mais complexa.)
Pressionadas pelos resultados e
empurradas pelo ainda instável
desempenho da Michelin, as duas
maiores escuderias inglesas da
F-1 não têm alternativa. Precisam
mudar. De carro, de motor, de piloto até (caso da McLaren, está
claro, Coulthard já começou a ser
fritado), se necessário for.
A Williams, premida por um
fornecedor que parece estar além
de sua capacidade, faz tempo já
segue nessa direção. A McLaren,
onde as relações não são tão fluídas, apenas demorou mais.
Schumacher perdeu
A tal vila que o ferrarista queria construir em uma cidade da região alemã da Suíça não vai sair do papel. Ambientalistas conseguiram convencer as autoridades locais a não alterar a legislação que permitiria a fantasia do piloto, que derrubaria parte de uma pequena floresta. Schumacher quer criar os filhos nessa parte do país para que eles recebam educação na língua alemã.
Villeneuve
O GP do Canadá terá um tom de nostalgia. Há pouco mais de 20 anos morria em um dos mais estúpidos acidentes da F-1 o maior piloto canadense de todos os tempos, Gilles Villeneuve. A Ferrari quer celebrar no circuito que leva o nome do pai de Jacques sua 150ª vitória na F-1. Homenagem seria o filho, alijado do primeiro pelotão por um misto de sonho e vaidade, vencer a corrida. Mas esse tipo de coisa só acontece em filme. Nunca a bordo de um BAR.
E-mail mariante@uol.com.br
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