São Paulo, sábado, 08 de junho de 2002

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MOTOR

Rivais unidas

JOSÉ HENRIQUE MARIANTE
EDITOR-ADJUNTO DE ESPORTE

A Michelin produziu ontem outro bom resultado para suas clientes. O calor canadense favoreceu o composto francês, e os carros da McLaren voltaram a andar na ponta.
Claro, era sexta-feira, dia de treino livre, qualquer um pode andar com tanque vazio, pneus novos, enfim, em ritmo de classificação. E não seria a primeira vez nesta temporada que a escuderia inglesa faria questão de mostrar serviço na hora errada -melhor dizendo, na hora em que consegue fazer qualquer coisa.
Mas a McLaren, a despeito de alguns fiascos no início do ano e do ceticismo da maioria dos analistas e do público, ainda respira. E respirar, no caso, significa conseguir fazer alguma coisa no pelotão da frente. Há menos de um mês a coluna dava como fácil o fim da curta mas avassaladora era McLaren-Mercedes na F-1.
A situação da equipe de Ron Dennis era dramática. Seus integrantes por pouco não se engoliram pela mídia.
Adrian Newey, o projetista mais bem pago da F-1, soava como um pateta ao não conseguir justificar tantos erros no projeto.
Em pior situação ficou David Coulthard, constantemente superado em velocidade por Kimi Raikkonen e dado como morto na próxima temporada, impressão que continua -foi obrigado agora em Montreal a declarar que não teme perder a vaga para o ex-companheiro Mika Hakkinen, congelado em um estranho período sabático, história mais do que mal contada.
A vitória em Mônaco, além de ufanar os ingleses, ainda revoltados com a palhaçada ferrarista de Zeltweg, parece ter dado algum fôlego à equipe. Nada que vá mudar a história deste campeonato, escrita desde que Michael Schumacher sentou pela primeira vez no cockpit do F2002.
É suficiente, porém, para não permitir que a enorme história da McLaren escoe para o ralo da F-1 de forma tão gratuita.
Contribui para isso também o momento de inflexão da Williams, que decidiu revirar seu pacote aerodinâmico em plena metade da temporada para tentar salvar suas chances no Mundial de Construtores e a própria projeção que fazia para si na temporada de 2003 -sublinhe-se fazia, pois de novo a combinação Schumacher-F2002 foi determinante ao azedar as metas estabelecidas pela BMW.
A Williams, como a McLaren, não disputa mais este campeonato. O que vier dele, se vier, é lucro. O próximo Mundial é que está em jogo. E o seguinte também. O contrato de Schumacher, aliás, de todo o time ferrarista, só expira no final de 2004. A Ferrari precisa de mais títulos para viabilizar uma intrincada operação de resgate financeiro da Fiat, que pode alterar significativamente o mercado mundial de automóveis.
(A situação é de crise para todo mundo. A da Ferrari, por incrível que pareça, é mais complexa.)
Pressionadas pelos resultados e empurradas pelo ainda instável desempenho da Michelin, as duas maiores escuderias inglesas da F-1 não têm alternativa. Precisam mudar. De carro, de motor, de piloto até (caso da McLaren, está claro, Coulthard já começou a ser fritado), se necessário for.
A Williams, premida por um fornecedor que parece estar além de sua capacidade, faz tempo já segue nessa direção. A McLaren, onde as relações não são tão fluídas, apenas demorou mais.

Schumacher perdeu
A tal vila que o ferrarista queria construir em uma cidade da região alemã da Suíça não vai sair do papel. Ambientalistas conseguiram convencer as autoridades locais a não alterar a legislação que permitiria a fantasia do piloto, que derrubaria parte de uma pequena floresta. Schumacher quer criar os filhos nessa parte do país para que eles recebam educação na língua alemã.

Villeneuve
O GP do Canadá terá um tom de nostalgia. Há pouco mais de 20 anos morria em um dos mais estúpidos acidentes da F-1 o maior piloto canadense de todos os tempos, Gilles Villeneuve. A Ferrari quer celebrar no circuito que leva o nome do pai de Jacques sua 150ª vitória na F-1. Homenagem seria o filho, alijado do primeiro pelotão por um misto de sonho e vaidade, vencer a corrida. Mas esse tipo de coisa só acontece em filme. Nunca a bordo de um BAR.

E-mail mariante@uol.com.br


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