São Paulo, sexta-feira, 08 de junho de 2007

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XICO SÁ

Código dos homens honestos

A anemia moral de nossos craques na Copa tem peso no recente comportamento que vem das arquibancadas

AMIGO TORCEDOR , amigo secador, aplaudir o time de pé, mesmo sem o triunfo sonhado, é um gesto de grandeza que se consolida, aos poucos, na mais exigente das pátrias ludopédicas.
Até outro dia, ser vice-campeão ou ser lanterna representava a mesmíssima coisa, os boleiros retornavam para seus lares mascando o ingrato jiló da frieza e do desprezo. Agora não, da mais isolada e solitária das várzeas à Libertadores da América, o que vemos é a torcida aplicar o seu código dos homens honestos para fazer justiça aos bravos guerreiros.
A anemia moral dos nossos craques na última Copa pesou bastante para o recente comportamento que vem das arquibancadas, como vimos na Vila Belmiro anteontem. Em vez dos chinelões praieiros no gramado, uma salva de palmas com a solenidade de quem aplaude uma ópera. Os meninos mereceram.
Não é uma missão das mais fáceis fazer três gols no imortal gaúcho, o time que mais peleia nos charcos das causas impossíveis, o santo Expedito dos clubes, o Grêmio Foot-ball Porto Alegrense. Uma missão que se tornara mais difícil ainda depois que a equipe do Rio Grande perdeu de três do Botafogo. Tudo bem, era um time misto, mas times grandes como o Grêmio não costumam levar meia dúzia de gols em duas contendas seguidas.
Além de aplauso, o time da virada ganhou um atacante que sabe que a alegria é a prova dos nove. Há tempos que o menino Renatinho merecia o colete de titular do Luxa. Será a grande revelação, o Robinho da hora do ainda tedioso Brasileiro. Outra grata surpresa da noitada épica foi ver como os são-paulinos, as maiores vítimas dos secadores destas plagas, são bons também quando se tornam agoureiros. Como eles secaram o Peixe.
Compreensível o medo da rapaziada do Morumbi diante da chance do tri do Santos. Como vibraram ao final do jogo os meus vizinhos aqui da Fernando de Albuquerque, nas proximidades da Augusta, uma clássica maloca do tricolor paulista, bem em frente ao ponto das melhores bonequinhas de luxo da cidade.
Já o solitário torcedor do Flamengo secava o Fluminense. Não teve jeito, o urubu do Henfil pousou foi na sorte do Figueira, presente de aniversário para o amigo Edmundo Barreiros, que bebeu mais do que Tristessa, a deliciosa chica mexicana -nuestra garota índia com olhos de Billie Holliday-, que agora bate ponto no Serafim, pobre de mim, a taverna das Laranjeiras.

Léo Batista
Após o embate da Vila, encontrei amigos santistas e gremistas, nas cercanias da Augusta, donde flanavam os gaúchos do Cachorro Grande. Entre teses e pendengas, tomamos uma decisão suprapartidária, causa dos torcedores e secadores a partir de hoje. É a campanha pela volta de Léo Batista aos gols do "Fantástico". Nada contra o rapaz que narra a rodada domingueira, mas o tiozinho é nossa memória afetiva desde a zebrinha da loteca.
As narrações de Léo Batista, em vitórias ou derrotas, nos frangos e nos golaços, de cabeça ou de canela, eram capazes de nos fazer esquecer até o tédio das noites que antecedem a segunda, narrações que estão coladas aos nossos domingos como a mozarela grudada à pizza.

xico.folha@uol.com.br


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