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XICO SÁ
Código dos homens honestos
A anemia moral de nossos craques na Copa tem peso no recente comportamento que vem das arquibancadas
AMIGO TORCEDOR , amigo secador, aplaudir o time de pé,
mesmo sem o triunfo sonhado, é um gesto de grandeza que se
consolida, aos poucos, na mais exigente das pátrias ludopédicas.
Até outro dia, ser vice-campeão ou
ser lanterna representava a mesmíssima coisa, os boleiros retornavam
para seus lares mascando o ingrato
jiló da frieza e do desprezo. Agora
não, da mais isolada e solitária das
várzeas à Libertadores da América,
o que vemos é a torcida aplicar o seu
código dos homens honestos para
fazer justiça aos bravos guerreiros.
A anemia moral dos nossos craques na última Copa pesou bastante
para o recente comportamento que
vem das arquibancadas, como vimos
na Vila Belmiro anteontem. Em vez
dos chinelões praieiros no gramado,
uma salva de palmas com a solenidade de quem aplaude uma ópera.
Os meninos mereceram.
Não é uma missão das mais fáceis
fazer três gols no imortal gaúcho, o
time que mais peleia nos charcos
das causas impossíveis, o santo Expedito dos clubes, o Grêmio Foot-ball Porto Alegrense.
Uma missão que se tornara mais
difícil ainda depois que a equipe do
Rio Grande perdeu de três do Botafogo. Tudo bem, era um time misto,
mas times grandes como o Grêmio
não costumam levar meia dúzia de
gols em duas contendas seguidas.
Além de aplauso, o time da virada
ganhou um atacante que sabe que a
alegria é a prova dos nove. Há tempos que o menino Renatinho merecia o colete de titular do Luxa. Será a
grande revelação, o Robinho da hora
do ainda tedioso Brasileiro.
Outra grata surpresa da noitada
épica foi ver como os são-paulinos,
as maiores vítimas dos secadores
destas plagas, são bons também
quando se tornam agoureiros. Como eles secaram o Peixe.
Compreensível o medo da rapaziada do Morumbi diante da chance
do tri do Santos. Como vibraram ao
final do jogo os meus vizinhos aqui
da Fernando de Albuquerque, nas
proximidades da Augusta, uma clássica maloca do tricolor paulista, bem
em frente ao ponto das melhores bonequinhas de luxo da cidade.
Já o solitário torcedor do Flamengo secava o Fluminense. Não teve
jeito, o urubu do Henfil pousou foi
na sorte do Figueira, presente de
aniversário para o amigo Edmundo
Barreiros, que bebeu mais do que
Tristessa, a deliciosa chica mexicana
-nuestra garota índia com olhos de
Billie Holliday-, que agora bate
ponto no Serafim, pobre de mim, a
taverna das Laranjeiras.
Léo Batista
Após o embate da Vila, encontrei
amigos santistas e gremistas, nas
cercanias da Augusta, donde flanavam os gaúchos do Cachorro Grande. Entre teses e pendengas, tomamos uma decisão suprapartidária,
causa dos torcedores e secadores a
partir de hoje. É a campanha pela
volta de Léo Batista aos gols do
"Fantástico". Nada contra o rapaz
que narra a rodada domingueira,
mas o tiozinho é nossa memória
afetiva desde a zebrinha da loteca.
As narrações de Léo Batista, em
vitórias ou derrotas, nos frangos e
nos golaços, de cabeça ou de canela,
eram capazes de nos fazer esquecer
até o tédio das noites que antecedem a segunda, narrações que estão coladas aos nossos domingos
como a mozarela grudada à pizza.
xico.folha@uol.com.br
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