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Barrichello, 257, diz que merece vencer
A pedido da Folha, brasileiros com passagem pela F-1 entrevistam o piloto que bate hoje o recorde de GPs da categoria
"Acho que mereço mais uns anos na F-1. Quando o carro melhorar, mereço estar aqui", afirma o dono de nove vitórias, 13 poles e 61 pódios
Honda/Divulgação
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Rubens Barrichello em seu Honda durante treino para o GP do Canadá, onde o brasileiro se tornará o piloto com maior número de corridas na F-1
TATIANA CUNHA
ENVIADA ESPECIAL A MONTRÉAL
A comemoração ele fez há
duas corridas. Mas é hoje, no
GP do Canadá, que Rubens
Barrichello se tornará o piloto
com mais corridas na F-1, superando a marca de 256 provas de
Riccardo Patrese alcançada em
1993, coincidentemente o ano
de estréia do brasileiro.
Coincidência ou não, sai em
Montréal da melhor colocação
em 18 GPs: é o nono do grid.
Nestes 15 anos, foram quatro
equipes, nove vitórias, 13 poles,
61 pódios, algumas "sambadinhas", piadas e polêmicas.
A pedido da Folha, outros
nove brasileiros que chegaram
à categoria fizeram perguntas a
Barrichello, que recebeu a reportagem nos escritórios de
sua equipe em Montréal e falou
desde seu início, a tumultuada
passagem pela Ferrari até a vida na Honda. "Por tudo que fiz,
eu mereço voltar a ganhar."
RICARDO ZONTA (36 GPs) - Qual foi
sua melhor temporada?
RUBENS BARRICHELLO - Independentemente do resultado, a
mais competitiva foi a de 2003.
Consegui duas vitórias suadas,
em Silverstone e no Japão, que
deram o campeonato de Construtores para a Ferrari. Naquele ano, foi uma pena ter batido
na largada em Hockenheim,
depois, tive problemas na suspensão em Budapeste... Foi o
ano em que mais tive chance de
lutar pelo título [foi quarto].
ENRIQUE BERNOLDI (28 GPs) - Lembra
de todos os GPs? Qual o melhor?
BARRICHELLO - Tem muitos que
não aparecem na TV, em que
você luta pelo 12º e ninguém vê.
Mas considero a de Silverstone-2003 a melhor em termos
de corrida, competição, ultrapassagens, em que você dá tudo. Por incrível que pareça, tenho memória fotográfica muito
boa. Quando comecei a escrever meu livro, dei uma passada
de olho em alguns livros para
lembrar alguma coisa, mas tenho boa memória do que fiz.
LUCIANO BURTI (14 GPs) - Quais as
vantagens e as desvantagens do
inexperiente Rubens de 1993 e as do
experiente Rubens de hoje?
BARRICHELLO - Só vejo vantagens. Poderia destacar o fato de
não ser tão jovem como desvantagem, mas isso é para
quem vê de fora. Internamente,
sinto-me tão jovem e rápido
quanto era. Sou um cara que, se
não sei, pergunto. Foi assim
que aprendi a falar inglês e a
mexer nos carros. Desde que
comecei a mexer nas agulhas
do carburador do kart, aquilo
virou paixão. Foi assim que
conduzi minha F-1 e por isso
conheço o carro de cabo a rabo.
E meus seis anos de Ferrari me
fizeram um perfeccionista.
ANTONIO PIZZONIA (20 GPs) - Se tivesse que recomeçar na F-1, o que
faria diferente?
BARRICHELLO - Nada. Meu começo foi ótimo, na equipe que
tinha de ser [Jordan]. As coisas
boas foram boas, as ruins me fizeram ser melhor.
CHRISTIAN FITTIPALDI (40 GPs) - O que
seria se não fosse piloto?
BARRICHELLO - Não tenho idéia.
Faço 30 anos de competição
neste ano e não sei se conseguiria fazer outra coisa aqui na F-1.
Sou um tirador de sarro, capaz
de ser um humorista.
ROBERTO MORENO (41 GPs) - Qual
experiência o fez orgulhoso na F-1 e
ninguém sabe?
BARRICHELLO - Uma que as pessoas sabem foi em Hockenheim, quando o Ross [Brawn]
me chamou para os boxes, eu
disse não e ganhei a corrida.
Talvez uma que as pessoas não
saibam é discutir o acerto do
carro com engenheiro, ir contra, você acerta e ganha aquele
abraço depois da corrida.
FELIPE MASSA (93 GPs) - Como ainda
tem paciência para as coisas chatas
da F-1 e se mantém motivado?
BARRICHELLO - Hoje muitas coisas são mais fáceis do que antes.
Morando na Inglaterra, tendo
que pegar duas horas de carro
até Heathrow, o avião atrasa, aí
chega a Paris, aluga carro e
mais três horas até Magny-Cours... É um consumo alto de
energia. Meu Legacy facilita
muito. A motivação é crer que
voltará a ganhar. Minha paixão
é saber que, com meu trabalho,
mereço ganhar de novo. Por ter
essa juventude em mim e ter sido um bom competidor.
TARSO MARQUES (24 GPs) - Você
nunca teve a sorte para ser campeão. Agora, em uma equipe não
competitiva, às vezes não dá vontade de sumir e largar tudo?
BARRICHELLO - Não me considero uma pessoa com falta de sorte. A quebra no Brasil quando ia
ganhar a corrida em 2003 foi
erro humano. Teve muitas vezes em que quis sumir porque o
erro não é seu, mas você paga o
preço. A vez em que fiquei mais
bravo foi em 1995, na Hungria.
Larguei em 14º e, na última volta, estava em terceiro quando
meu motor quebrou na última
curva. O motor Peugeot tinha
um dispositivo, porque eles não
queriam mostrar fumaça, que
desligava antes de quebrar. Se
ele tivesse estourado, eu teria
cruzado a linha de chegada em
terceiro. Aquilo foi de uma indelicadeza... Queria sumir.
INGO HOFFMAN (3 GPs) - Quando
deixar a F-1, vai correr na Stock Car?
BARRICHELLO - Essa pergunta
não é legal... O Ingo vai parar de
correr no fim do ano! Ele foi
importante para mim e me deu
meu primeiro capacete. Sempre sonhei em correr na Stock
com ele. Mas acho que mereço
mais uns anos na F-1. Quando o
carro melhorar, mereço estar
aqui. Saí da Ferrari porque não
me davam a chance de ganhar e
não estava feliz em ser o segundo. Hoje, o carro não é bom e luto pelo 12º. É pior? É, mas tenho liberdade e a certeza de
que, com a reestruturação do
time, ele vai virar vencedor.
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