São Paulo, domingo, 08 de junho de 2008

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Barrichello, 257, diz que merece vencer

A pedido da Folha, brasileiros com passagem pela F-1 entrevistam o piloto que bate hoje o recorde de GPs da categoria

"Acho que mereço mais uns anos na F-1. Quando o carro melhorar, mereço estar aqui", afirma o dono de nove vitórias, 13 poles e 61 pódios


Honda/Divulgação
Rubens Barrichello em seu Honda durante treino para o GP do Canadá, onde o brasileiro se tornará o piloto com maior número de corridas na F-1

TATIANA CUNHA
ENVIADA ESPECIAL A MONTRÉAL

A comemoração ele fez há duas corridas. Mas é hoje, no GP do Canadá, que Rubens Barrichello se tornará o piloto com mais corridas na F-1, superando a marca de 256 provas de Riccardo Patrese alcançada em 1993, coincidentemente o ano de estréia do brasileiro.
Coincidência ou não, sai em Montréal da melhor colocação em 18 GPs: é o nono do grid. Nestes 15 anos, foram quatro equipes, nove vitórias, 13 poles, 61 pódios, algumas "sambadinhas", piadas e polêmicas.
A pedido da Folha, outros nove brasileiros que chegaram à categoria fizeram perguntas a Barrichello, que recebeu a reportagem nos escritórios de sua equipe em Montréal e falou desde seu início, a tumultuada passagem pela Ferrari até a vida na Honda. "Por tudo que fiz, eu mereço voltar a ganhar."

 

RICARDO ZONTA (36 GPs) - Qual foi sua melhor temporada?
RUBENS BARRICHELLO
- Independentemente do resultado, a mais competitiva foi a de 2003. Consegui duas vitórias suadas, em Silverstone e no Japão, que deram o campeonato de Construtores para a Ferrari. Naquele ano, foi uma pena ter batido na largada em Hockenheim, depois, tive problemas na suspensão em Budapeste... Foi o ano em que mais tive chance de lutar pelo título [foi quarto].

ENRIQUE BERNOLDI (28 GPs) - Lembra de todos os GPs? Qual o melhor?
BARRICHELLO
- Tem muitos que não aparecem na TV, em que você luta pelo 12º e ninguém vê. Mas considero a de Silverstone-2003 a melhor em termos de corrida, competição, ultrapassagens, em que você dá tudo. Por incrível que pareça, tenho memória fotográfica muito boa. Quando comecei a escrever meu livro, dei uma passada de olho em alguns livros para lembrar alguma coisa, mas tenho boa memória do que fiz.

LUCIANO BURTI (14 GPs) - Quais as vantagens e as desvantagens do inexperiente Rubens de 1993 e as do experiente Rubens de hoje?
BARRICHELLO
- Só vejo vantagens. Poderia destacar o fato de não ser tão jovem como desvantagem, mas isso é para quem vê de fora. Internamente, sinto-me tão jovem e rápido quanto era. Sou um cara que, se não sei, pergunto. Foi assim que aprendi a falar inglês e a mexer nos carros. Desde que comecei a mexer nas agulhas do carburador do kart, aquilo virou paixão. Foi assim que conduzi minha F-1 e por isso conheço o carro de cabo a rabo. E meus seis anos de Ferrari me fizeram um perfeccionista.

ANTONIO PIZZONIA (20 GPs) - Se tivesse que recomeçar na F-1, o que faria diferente?
BARRICHELLO
- Nada. Meu começo foi ótimo, na equipe que tinha de ser [Jordan]. As coisas boas foram boas, as ruins me fizeram ser melhor.

CHRISTIAN FITTIPALDI (40 GPs) - O que seria se não fosse piloto?
BARRICHELLO
- Não tenho idéia. Faço 30 anos de competição neste ano e não sei se conseguiria fazer outra coisa aqui na F-1. Sou um tirador de sarro, capaz de ser um humorista.

ROBERTO MORENO (41 GPs) - Qual experiência o fez orgulhoso na F-1 e ninguém sabe?
BARRICHELLO
- Uma que as pessoas sabem foi em Hockenheim, quando o Ross [Brawn] me chamou para os boxes, eu disse não e ganhei a corrida. Talvez uma que as pessoas não saibam é discutir o acerto do carro com engenheiro, ir contra, você acerta e ganha aquele abraço depois da corrida.

FELIPE MASSA (93 GPs) - Como ainda tem paciência para as coisas chatas da F-1 e se mantém motivado?
BARRICHELLO
- Hoje muitas coisas são mais fáceis do que antes. Morando na Inglaterra, tendo que pegar duas horas de carro até Heathrow, o avião atrasa, aí chega a Paris, aluga carro e mais três horas até Magny-Cours... É um consumo alto de energia. Meu Legacy facilita muito. A motivação é crer que voltará a ganhar. Minha paixão é saber que, com meu trabalho, mereço ganhar de novo. Por ter essa juventude em mim e ter sido um bom competidor.

TARSO MARQUES (24 GPs) - Você nunca teve a sorte para ser campeão. Agora, em uma equipe não competitiva, às vezes não dá vontade de sumir e largar tudo?
BARRICHELLO
- Não me considero uma pessoa com falta de sorte. A quebra no Brasil quando ia ganhar a corrida em 2003 foi erro humano. Teve muitas vezes em que quis sumir porque o erro não é seu, mas você paga o preço. A vez em que fiquei mais bravo foi em 1995, na Hungria. Larguei em 14º e, na última volta, estava em terceiro quando meu motor quebrou na última curva. O motor Peugeot tinha um dispositivo, porque eles não queriam mostrar fumaça, que desligava antes de quebrar. Se ele tivesse estourado, eu teria cruzado a linha de chegada em terceiro. Aquilo foi de uma indelicadeza... Queria sumir.

INGO HOFFMAN (3 GPs) - Quando deixar a F-1, vai correr na Stock Car?
BARRICHELLO
- Essa pergunta não é legal... O Ingo vai parar de correr no fim do ano! Ele foi importante para mim e me deu meu primeiro capacete. Sempre sonhei em correr na Stock com ele. Mas acho que mereço mais uns anos na F-1. Quando o carro melhorar, mereço estar aqui. Saí da Ferrari porque não me davam a chance de ganhar e não estava feliz em ser o segundo. Hoje, o carro não é bom e luto pelo 12º. É pior? É, mas tenho liberdade e a certeza de que, com a reestruturação do time, ele vai virar vencedor.


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