São Paulo, domingo, 08 de junho de 2008

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TOSTÃO

Mil razões para vencer e perder


Craque não é craque porque é regular. É craque porque, quando brilha, brilha com muito mais intensidade

O RESULTADO de uma partida e a conquista de um campeonato dependem da qualidade dos jogadores, da organização e da disciplina tática, do comprometimento profissional e afetivo dos atletas e das comissões técnicas e de outros fatores previsíveis e imprevisíveis.
O talento individual é o fator mais importante. Repito que nem sempre um elenco com excelentes jogadores forma um ótimo time, mas é impossível formar uma grande equipe sem excelentes jogadores.
O Corinthians possui um time organizado, guerreiro e com bons jogadores. É uma ótima equipe para a Série B e para a Copa do Brasil. Méritos para Mano Menezes.
Nos dois campeonatos, o Corinthians não enfrentou um único adversário com mais talento individual. Portanto não será surpresa a conquista do título. Se isso não acontecer, o que é pouco provável pela vantagem obtida, não mudam, por causa de um jogo, os meus conceitos sobre o técnico e o time.
Nem sempre um time mais organizado e, mais ou menos, com o mesmo talento individual vence, como ocorreu com o Boca Juniors contra o Fluminense. O time argentino dominou as duas partidas, teve mais chances de gol e foi eliminado, mas não foi injusto.
Renato, que faz bom trabalho, errou na organização da equipe. Igor jogou de zagueiro, e Cícero, de atacante. Arouca ficou sozinho no meio-campo. Marcava Riquelme e os outros armadores ficavam livres. Thiago Neves e Conca não sabiam se jogavam perto de Washington ou se recuavam para marcar no próprio campo. Com a entrada de Dodô, Cícero preencheu o vazio no meio-campo.
O grave erro na marcação não impediu a vitória tricolor. O time não poderia decepcionar Chico Buarque, presente no estádio.
Poucas equipes no mundo possuem um reserva como Dodô. Alguns jornalistas implicam com o jogador, porque ele não comemora gols como os outros e é irregular. Realmente é. Mesmo assim, é um excepcional atacante. Se fosse menos irregular, mais marqueteiro e mais simulador, Dodô seria mais festejado.
Além disso, os craques não são craques porque são regulares. São craques porque, quando brilham, brilham com muito mais intensidade. Alguém já disse, com razão e exagero, que a regularidade é virtude dos medíocres.
O Fluminense venceu o Boca porque tem vários excelentes jogadores, teve ajuda do acaso nos dois jogos e também contra o São Paulo, porque buscou forças no fundo da alma e porque existe uma grande cumplicidade dos atletas e da comissão técnica com seus trabalhos e com o clube.
Cada dia mais torcedores se queixam, muitas vezes com razão, que atletas e treinadores não estão nem aí e que só pensam em um melhor contrato com outro clube. A cumplicidade vai muito além de cumprir obrigações e reclamar direitos. Profissionais precisam ter prazer e se envolver afetivamente com as pessoas e com o ambiente onde trabalham. Assim, vão ser mais eficientes.
Assim como podemos nos apaixonar várias vezes, atletas e treinadores podem gostar e serem cúmplices de vários clubes em suas carreiras, um de cada vez.


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