RODRIGO BUENO
DA REPORTAGEM LOCAL

A Federação Paulista de Futebol aceitou amputar o principal Estadual do país. A Confederação Brasileira de Futebol jogou o calendário do esporte nacional no colo de uma emissora de TV. A Confederação Sul-Americana é uma marionete nas mãos de seus patrocinadores. E a Fifa vive hoje só para abafar seus escândalos.
Essa é a realidade do futebol atual. O sistema está podre desde a federação de menor importância até o ""Olimpo da bola".
No Brasil, as pessoas já estão acostumadas com a falta de competência dos dirigentes. Agora, porém, percebem claramente que muitos dirigentes estrangeiros chegam a ser mais desqualificados que os daqui.
O que aconteceu com a Copa América deste ano apenas no período em que a cúpula da Fifa esteve na América do Sul foi uma palhaçada. A que ponto chegou o torneio mais antigo de seleções que ainda é disputado?
O torneio foi marcado, desmarcado, adiado e ressuscitado em um país que vive guerra civil. Se não havia envolvimento da competição com os terríveis problemas que têm acontecido na Colômbia, depois de todo esse vai-e-vem a ligação é total.
Os guerrilheiros sabem bem agora o que a Copa América da Colômbia representa para o país e para todo o mundo. A chance que os colombianos ""receberam" nos últimos dias pode ter um alto preço, que patrocinadores e emissoras de TV jamais conseguirão cobrir.
Não dá para falar hoje em anarquia colombiana, porque nosso vizinho tem dois governos, um oficial e um marginal.
Um jornalista da rádio Caracol, a mais famosa da Colômbia, foi assassinado quase na mesma hora em que a Sul-Americana definiu a realização do torneio em território colombiano em julho. A notícia mal teve repercussão no país, pois é algo banal.
Deixando o terrorismo um pouco de lado, o que dizer do lado técnico do torneio? Seleções de segunda, como Costa Rica e Honduras, estão sendo pinçadas para a Copa América a menos de uma semana da competição porque pelo menos 2 dos 12 participantes desistiram do evento.
Quase todas as equipes que restaram vão atuar com times mistos, apesar de o calendário ser ""favorável" neste mês, segundo a cúpula organizadora.
A Fifa, na figura de seu presidente, Joseph Blatter, tem acompanhado de perto todos os últimos capítulos da novela sul-americana. Porém ele nada tem falado a respeito, a não ser que nada tem a ver com isso.
Essa é a mesma resposta que o dirigente suíço sugere quando a questão é a falência da ISL, a milionária parceira da Fifa, e a conta ""alternativa" da entidade. Outras tantas interrogações, como o Mundial de Clubes, os passaportes falsos, o racismo e a própria reeleição de Blatter, continuam vivas mesmo após várias reuniões da principal entidade do futebol no planeta.
O melhor remédio contra essa anarquia instalada no mundo da bola talvez seja mesmo a anarquia enquanto ideologia, a ausência de governo. Para que seguir uma organização se a organização que vemos é essa?
Sem nenhuma entidade por trás, eu e mais um grupo de amigos, dentre os quais estão vários jornalistas, nos reunimos para jogar futebol às segundas-feiras à noite, em dia de feriado, com chuva e frio, sem patrocínio e sem TV. Não há melhor futebol no mundo do que esse.

Anarquia na Fifa 1
A máxima entidade do futebol vai passar enfim por auditoria.

Anarquia na Fifa 2
A empresa que fará a auditoria nas contas da Fifa será a mesma que o presidente Joseph Blatter convocou para fazer a auditoria em suas contas particulares em 1998, a KPMG.

Anarquia na Fifa 3
Segundo reportagem do jornal britânico ""The Sunday Times" publicada pouco após Joseph Blatter assumir a presidência da Fifa, o dirigente destinará cerca de US$ 2,7 milhões da entidade para seus gastos pessoais durante a sua gestão -um aumento de quase 70% em relação ao que gastou João Havelange em um mandato na entidade. Blatter também gastaria US$ 960 mil durante seu mandato em suas viagens e acomodações -ele deve elevar em 40% os gastos com esse tipo de despesa na Fifa.

E-mail: rbueno@folhasp.com.br


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