São Paulo, domingo, 08 de julho de 2001

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

FUTEBOL

O futebol pede socorro

TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA

No passado, o futebol brasileiro destacava-se pela habilidade e criatividade de seus jogadores. Os meninos aprendiam a jogar brincando nos campos de pelada. Sem regras nem professores.
Nas categorias de base dos clubes, desenvolviam a técnica (conjunto de fundamentos básicos), a tática e o posicionamento em campo.
Tornavam-se atletas.
Hoje, por causa da falta de campos de pelada e da presença maciça das escolinhas, os meninos, precocemente, aprendem primeiro as regras, a técnica, a tática e a disciplina. Nessa idade, ainda não têm um bom desenvolvimento psicomotor para esse tipo de aprendizado. A habilidade e a criatividade ficam também prejudicadas.
Porém o futebol brasileiro não piorou somente porque está menos habilidoso e criativo.
Também não houve um grande avanço na preparação técnica, tática, científica e emocional, como aconteceu em outros países e nos demais esportes coletivos.
Os esportes estão cada vez mais exatos. Tudo é estudado e programado. Os técnicos conhecem todos os detalhes dos adversários. As partidas tornaram-se um jogo de xadrez. Uma competição tecnológica.
Para que tudo funcione bem, há, numa comissão técnica, um grande número de profissionais dividindo funções.
Por suas múltiplas possibilidades, o futebol continua imprevisível, mas, progressivamente, se aproxima cientificamente dos outros esportes.
Hoje, a técnica, a tática, a preparação física e psicológica são tão importantes quanto a habilidade e a criatividade.
Por causa desse amplo conhecimento, as decisões técnicas de uma seleção não deveriam ser limitadas a um único treinador. É muito arriscado.
Felipão e outros técnicos brasileiros deveriam conversar com o Bernardinho e os treinadores dos esportes coletivos. Muito do conhecimento e das experiências desses esportes poderia ser transferido para o futebol.
O futebol brasileiro precisa de ajuda.

Louca solução
Em 1993, a França ficou fora da Copa do Mundo após perder por 3 a 2 de Israel em casa. No mesmo ano, a Argentina ficou em quinto lugar nas eliminatórias e quase perdeu a vaga para a Austrália, na repescagem. Depois desses fracassos, Argentina e França perceberam que era preciso mudar. Hoje, são favoritas ao título mundial.
O futebol brasileiro precisa também de grandes transformações, além de definir uma nova filosofia na maneira de jogar, antes que a seleção seja desclassificada. Há várias opções. Uma não exclui a outra.
Não há um sistema tático ideal. Todos têm vantagens e desvantagens.
Alguns leitores discordam de que o esquema tático brasileiro é ultrapassado. Argumentam que várias seleções do mundo, como a francesa, jogam também com uma linha de quatro zagueiros. Não é esse o problema. Essas seleções trocam o avanço dos laterais pelo dos volantes e alternam a marcação por pressão com o recuo e o contra-ataque. Nenhuma delas joga com dois zagueiros, laterais apoiando e volantes plantados na frente dos zagueiros.
Todas as variações são conhecidas. Não será nenhuma loucura. Mas, se o Felipão endoidar, criar algo revolucionário e cometer uma loucura, será bem-vinda. Talvez seja isso que esteja faltando ao futebol brasileiro. Uma grande ousadia.
Felipão tem coragem para isso. Se não der certo, pelo menos tentou. O futebol ficará mais alegre e prazeroso do que a mesmice, a tristeza e a ineficiência que estão aí.

Velho e novo Lobo
São Paulo e Flamengo são os finalistas da Copa dos Campeões. Nenhuma surpresa. São as duas melhores equipes. Não há favorito.
Há muito tempo que o Flamengo não tem tantos excelentes jogadores. Gamarra é o melhor zagueiro do futebol brasileiro. Petkovic, Juan, Júlio César e Edílson estão no mesmo nível dos melhores jogadores brasileiros de suas posições.
Zagallo adota a mesma filosofia tática dos anos 60 e 70. Seu time atua com uma linha com quatro defensores, três armadores e o Petkovic próximo dos dois atacantes. É um esquema antigo, mas não é ultrapassado. Melhor do que o ""moderno" e tradicional brasileiro. A equipe utiliza muito o contra-ataque, aproveitando a inteligência e os passes do Petkovic e a velocidade e a habilidade do Edílson.
Leandro Ávila, que não joga hoje, é o único volante fixo da equipe. Rocha e Beto atacam e defendem. A maioria das equipes brasileiras atua com dois volantes em linha plantados. Isso é que está ultrapassado.
O São Paulo não tem tantos excelentes jogadores como o Flamengo, mas tem uma equipe leve, alegre e ofensiva. Rogério e França estariam na minha lista de convocados para a seleção. Muitos vão discordar dizendo que o França não foi bem no time brasileiro. E quem foi?
Flamengo e São Paulo não farão um jogo de 180 minutos, como gostam de dizer. Serão dois jogos de 90 minutos. Cada partida tem sua história.
E-mail: tostao.folha@uol.com.br


Texto Anterior: Futebol - Rodrigo Bueno: Anarquia da bola
Próximo Texto: Tênis: 'Brasileiro' já foi campeão ma grama de Wimbledon
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.