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FUTEBOL
O futebol pede socorro
TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA
No passado, o futebol brasileiro destacava-se pela
habilidade e criatividade de
seus jogadores. Os meninos
aprendiam a jogar brincando
nos campos de pelada. Sem regras nem professores.
Nas categorias de base dos clubes, desenvolviam a técnica
(conjunto de fundamentos básicos), a tática e o posicionamento
em campo.
Tornavam-se atletas.
Hoje, por causa da falta de
campos de pelada e da presença
maciça das escolinhas, os meninos, precocemente, aprendem
primeiro as regras, a técnica, a
tática e a disciplina. Nessa idade, ainda não têm um bom desenvolvimento psicomotor para
esse tipo de aprendizado. A habilidade e a criatividade ficam
também prejudicadas.
Porém o futebol brasileiro não
piorou somente porque está menos habilidoso e criativo.
Também não houve um grande avanço na preparação técnica, tática, científica e emocional, como aconteceu em outros
países e nos demais esportes coletivos.
Os esportes estão cada vez
mais exatos. Tudo é estudado e
programado. Os técnicos conhecem todos os detalhes dos adversários. As partidas tornaram-se
um jogo de xadrez. Uma competição tecnológica.
Para que tudo funcione bem,
há, numa comissão técnica, um
grande número de profissionais
dividindo funções.
Por suas múltiplas possibilidades, o futebol continua imprevisível, mas, progressivamente, se aproxima cientificamente dos outros esportes.
Hoje, a técnica, a tática, a preparação física e psicológica são
tão importantes quanto a habilidade e a criatividade.
Por causa desse amplo conhecimento, as decisões técnicas de
uma seleção não deveriam ser
limitadas a um único treinador.
É muito arriscado.
Felipão e outros técnicos brasileiros deveriam conversar com
o Bernardinho e os treinadores
dos esportes coletivos. Muito do
conhecimento e das experiências desses esportes poderia ser
transferido para o futebol.
O futebol brasileiro precisa de
ajuda.
Louca solução
Em 1993, a França ficou fora
da Copa do Mundo após perder
por 3 a 2 de Israel em casa. No
mesmo ano, a Argentina ficou
em quinto lugar nas eliminatórias e quase perdeu a vaga para
a Austrália, na repescagem. Depois desses fracassos, Argentina
e França perceberam que era
preciso mudar. Hoje, são favoritas ao título mundial.
O futebol brasileiro precisa
também de grandes transformações, além de definir uma
nova filosofia na maneira de jogar, antes que a seleção seja desclassificada. Há várias opções.
Uma não exclui a outra.
Não há um sistema tático
ideal. Todos têm vantagens e
desvantagens.
Alguns leitores discordam de
que o esquema tático brasileiro
é ultrapassado. Argumentam
que várias seleções do mundo,
como a francesa, jogam também com uma linha de quatro
zagueiros. Não é esse o problema. Essas seleções trocam o
avanço dos laterais pelo dos volantes e alternam a marcação
por pressão com o recuo e o contra-ataque. Nenhuma delas joga com dois zagueiros, laterais
apoiando e volantes plantados
na frente dos zagueiros.
Todas as variações são conhecidas. Não será nenhuma loucura. Mas, se o Felipão endoidar,
criar algo revolucionário e cometer uma loucura, será bem-vinda. Talvez seja isso que esteja
faltando ao futebol brasileiro.
Uma grande ousadia.
Felipão tem coragem para isso. Se não der certo, pelo menos
tentou. O futebol ficará mais
alegre e prazeroso do que a mesmice, a tristeza e a ineficiência
que estão aí.
Velho e novo Lobo
São Paulo e Flamengo são os
finalistas da Copa dos Campeões. Nenhuma surpresa. São
as duas melhores equipes. Não
há favorito.
Há muito tempo que o Flamengo não tem tantos excelentes jogadores. Gamarra é o melhor zagueiro do futebol brasileiro. Petkovic, Juan, Júlio César
e Edílson estão no mesmo nível
dos melhores jogadores brasileiros de suas posições.
Zagallo adota a mesma filosofia tática dos anos 60 e 70. Seu
time atua com uma linha com
quatro defensores, três armadores e o Petkovic próximo dos
dois atacantes. É um esquema
antigo, mas não é ultrapassado.
Melhor do que o ""moderno" e
tradicional brasileiro. A equipe
utiliza muito o contra-ataque,
aproveitando a inteligência e os
passes do Petkovic e a velocidade e a habilidade do Edílson.
Leandro Ávila, que não joga
hoje, é o único volante fixo da
equipe. Rocha e Beto atacam e
defendem. A maioria das equipes brasileiras atua com dois volantes em linha plantados. Isso é
que está ultrapassado.
O São Paulo não tem tantos
excelentes jogadores como o
Flamengo, mas tem uma equipe
leve, alegre e ofensiva. Rogério e
França estariam na minha lista
de convocados para a seleção.
Muitos vão discordar dizendo
que o França não foi bem no time brasileiro. E quem foi?
Flamengo e São Paulo não farão um jogo de 180 minutos, como gostam de dizer. Serão dois
jogos de 90 minutos. Cada partida tem sua história.
E-mail: tostao.folha@uol.com.br
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