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O professor aloprado
Fã das artes e dos astros, sarcástico,
supersticioso e polemista, o francês Raymond Domenech tenta amanhã, em Berlim, na decisão do mais valioso campeonato de futebol do planeta,
seu primeiro título como treinador
Jason Lee - 6.jun.06/Reuters
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O técnico da França, Raymond Domenech, no último treino da sua equipe no Mundial, ontem, em Aerzen |
FÁBIO VICTOR
PAULO COBOS
ENVIADOS ESPECIAIS A HAMELN
Numa Copa com tipos como
Ricardo Lavolpe, Luis Aragonés e Luiz Felipe Scolari no
banco, não é fácil parecer exótico. Mas, visto de perto, o técnico da França, Raymond Domenech, é uma das figuras que o
futebol é pródigo em produzir.
Jogador violento, ator diletante, obcecado por astrologia,
supersticioso, sarcástico e polemista, o homem que tem a
chance de conduzir a França ao
seu segundo título pode entrar
para a história como um raro
treinador campeão mundial
sem nenhum título anterior no
currículo. Em 21 anos de carreira, a máxima conquista que ostenta é um título da segunda divisão francesa à frente do Lyon.
Se der França amanhã, o
Mundial terá premiado a teimosia, pois, se tem algo de que
Domenech não pode ser acusado, é de falta de personalidade.
Soou como bravata todo o
tempo, mas, agora que seu time
está na final, é difícil não recordar que ele foi possivelmente o
técnico que mais mencionou a
data de 9 de julho durante a Copa. Desde o início, e mesmo
com um começo claudicante da
França, repetiu que estariam
no Estádio Olímpico nesse dia.
"Foi a astrologia?", apressaram-se em questionar comentaristas. "Não, é mais profundo,
é uma convicção de verdade,
com tudo o que essa palavra
carrega, é uma crença", disse.
Mas é difícil acreditar que
não, dada a paixão do treinador
pelo tema. Já no Mulhouse, o
primeiro time que comandou,
Domenech, que é de aquário, se
recusava a ter mais de um atleta
de escorpião em seu grupo. Alega que um escorpião anula o
outro. Coincidência ou não, o
meia Pires, um dos craques que
ficaram fora da convocação para a Copa, é de escorpião.
As brigas de Domenech também invadem o campo dos astros terrenos. Ele insistiu em
uma defesa sólida, escalando
um só atacante, Henry, e acabou contestado por atletas, liderados por Zidane e Thuram.
Bateu o pé e foi em frente.
O temperamento forte revelou-se já como jogador. Ficou
marcado pela dureza, que muitas vezes descambava para a
violência. Há a história de que
em seu primeiro jogo pelo
Lyon, aos 16 anos, lateral-esquerdo, quebrou a perna de um
adversário. Não é verdade, mas
jamais se preocupou em desmentir. Disse gostar que rivais
sintam medo de enfrentá-lo.
Quando assumiu o cargo, em
2004, tinha como principal credencial o trabalho com as divisões de base da seleção, que iniciou em 2003. Renovou o time,
com talentos como Ribéry, mas
também acolheu de volta Zidane, Thuram e Makelele, que reviram a aposentadoria.
Já na época que treinava o time sub-21, impunha seu gosto
pela cultura, levando o elenco a
museus. Pouco antes de assumir a seleção, encenou peças,
incluindo montagens de Tchekhov. Fez também um filme para TV, que jamais foi exibido.
Com fina ironia, encena também nas entrevistas coletivas.
Antes de enfrentar o Brasil,
afirmou que achava exagerada
a pressão em torno do árbitro.
Fingindo que o estava defendendo, pressionou-o absurdamente. Fala espanhol, mas diz
que não fala. Ouve e compreende perguntas em inglês, mas as
responde apenas em francês.
Tem 54 anos e é casado com a
jornalista Estelle Denis, 29,
apresentadora de programa esportivo na TV M6, a quem foi
acusado de favorecer com informações privilegiadas sobre a
seleção. Em 2004, tiveram uma
filha, Victoria, ou Vitória.
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