São Paulo, sábado, 08 de julho de 2006

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"Ala cristã" aponta negligências

De forma velada, evangélicos da seleção criticam atletas que fumaram e beberam nas folgas da Copa

Ronaldo e Roberto Carlos são os mais visados na "turma da cervejinha" por não cuidarem da forma e se mexerem pouco em campo


DOS ENVIADOS A BERLIM

Alguns jogadores da seleção brasileira não se cuidaram direito antes e durante a Copa. Abusaram das baladas e não deixaram de tomar cerveja e, ao menos dois deles, de fumar. Essa é a opinião de parte dos atletas, a maioria evangélica.
Ninguém fala abertamente, mas, assim que a França despachou o Brasil, a lavagem de roupa suja começou entre alguns deles e, principalmente, nos depoimentos a amigos.
O principal alvo é Roberto Carlos, que estava quase agachado no momento em que Henry fez o gol que eliminou o Brasil. Ainda no vestiário, após o jogo, ouviu queixas de colegas por "não correr" em campo.
Entre atletas, cartolas e empresários, Roberto Carlos e Ronaldo são conhecidos por gostarem de fumar e beber nas folgas. Os colegas evangélicos não têm nada contra. Porém se irritaram porque esperavam que eles mudassem os hábitos pensando na Copa. Tanto Ronaldo como Roberto Carlos estavam fora de forma e pouco se movimentaram em campo.
Entre os descontentes estão Kaká, Zé Roberto e Lúcio, todos evangélicos. Os reservas Cris e Luisão estão nesse grupo.
Um dia após a eliminação, um integrante da delegação brasileira, que pediu para não ser identificado, referia-se a dois grupos no elenco: o pessoal sério e o da cervejinha.
Durante a campanha, nenhum dos jogadores reclamou com o técnico Carlos Alberto Parreira sobre o assunto. Porém havia pressão sobre o treinador, já que os mais velhos não admitiam ser substituídos, apesar de jogarem mal. Os mais novos queixavam-se para gente de fora da delegação.
Nas primeiras entrevistas após a queda começaram a surgir as queixas.
"Tenho consciência de que me doei ao máximo. Cada um precisa fazer a sua análise para ver se também doou tudo o que podia", disse Zé Roberto.
O preparador físico Moraci Sant'Anna, acusado de não colocar o time em forma, sinalizou que alguns jogadores não se cuidavam após as folgas.
Ronaldinho, que não fuma, também incomodou os colegas. Depois de ele se esbaldar na noite de Barcelona no dia seguinte à eliminação, começaram a surgir depoimentos de atletas falando de seus sofrimentos com a derrota. "Choro todas as noites", disse Lúcio. Zé Roberto também falou em choro dele e de sua família.
Sobre Ronaldo, pesa outra acusação. Pelo menos dois atletas disseram a amigos que o atacante estava mais preocupado em quebrar o recorde de gols em Copas do Mundo.
Semelhantes críticas veladas foram feitas ao capitão Cafu, que se tornou o brasileiro com mais jogos em Mundiais.
Para alguns cartolas, faltou pulso a Parreira tanto para controlar o comportamento dos jogadores fora de campo como para barrar veteranos. Na fase de preparação, Roberto Carlos, Ronaldo e Robinho, entre outros -nenhum deles evangélico-, apareceram em fotos de jornais em casas noturnas.
(FÁBIO VICTOR E RICARDO PERRONE)


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