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Clóvis Rossi
A bola e os políticos
SE VOCÊ pensa que só
no Brasil político pega carona na seleção
em busca de prestígio, precisa ver o que está acontecendo na França.
Suponho que a TV brasileira tenha mostrado o presidente Jacques Chirac na
tribuna de honra, no dia
em que a França eliminou
o Brasil, cachecol tricolor
enrolado nas mãos. Até onde acompanhei, no estádio,
Chirac não chegou a usá-lo,
ao contrário do que aconteceu em 1998, no Stade de
France, quando a França
humilhou o Brasil.
Agora, Chirac prepara-se
para viajar de novo à Alemanha, para a partida final
contra a Itália. Aliás, é bom
dizer que Angela Merkel, a
chanceler alemã, não perdeu um jogo, embora, pela
gesticulação, desse a entender que não é exatamente especialista nesse
esporte. O primeiro-ministro italiano Romano Prodi
também compareceu ao jogo contra a Alemanha.
Deve ser divertido ficar
pertinho das autoridades
nessas horas. Se são fanáticos (e Chirac o é), ficam
obrigados à contenção, para não ferir a suscetibilidade do governante ao lado.
Será que xingam baixinho a
mãe do juiz?
Voltando à França e seus
políticos: é tamanho o
aproveitamento do êxito
da seleção que o pessoal
acaba acreditando em
duendes. Em 1998, na esteira do título francês, as
pesquisas mostraram um
salto de 15 pontos percentuais no prestígio de Chirac. E de 11 pontos para
Lionel Jospin, então primeiro-ministro (socialista,
adversário do presidente).
Agora, quando presidente e primeiro-ministro são
do mesmo grupo político,
apostam em recuperar popularidade à custa de Zidane e companhia. Talvez até
consigam, mas é tão efêmera que nem vale o esforço.
Basta lembrar que o Jospin
dos 11 pontos a mais foi expelido do segundo turno da
eleição presidencial de
2002 pelo voto no ultradiretista e fascistóide Jean-Marie Le Pen.
O primeiro-ministro Dominique de Villepin, candidato a candidato presidencial em 2007, inferiorizado
no seu grupo ante o ministro do Interior, Nicolas
Sarkozy, usa o exemplo da
seleção para dar-se uma esperança: "Uma vitória [da
seleção] teria sobretudo o
mérito de mostrar que
nem tudo está escrito antecipadamente".
Tradução: ainda posso
derrotar Sarkozy. Não é
melhor o blablablá dos técnicos e jogadores?
crossi@uol.com.br
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