São Paulo, quarta-feira, 08 de julho de 2009

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

TÊNIS

Para o mundo inteiro ver


E Federer, que não gostava de que ninguém visse seus jogos, fez história diante de Laver, Borg e Sampras


RÉGIS ANDAKU
COLUNISTA DA FOLHA

QUANDO ERA moleque, 13, 14 anos, e disputava torneios infanto-juvenis, Roger Federer não gostava de que vissem seus jogos. Se pudesse escolher, só jogaria naquelas quadras que ficam no fundão dos clubes. Mas, talentoso, subiu ao circuito e imediatamente passou a chamar a atenção. Com menos de 20 anos surpreendeu os que olhavam só Pete Sampras em Wimbledon -bateu o então imbatível americano na grama do torneio mais tradicional do mundo. Aí viriam holofotes, fotos, quadras centrais, títulos, fãs, legiões de fãs. Ganhou então um Grand Slam, dois, depois três, quatro, o respeito de todos os adversários, cinco, seis, marcas, prêmios milionários, sete, oito, nove... Federer virou aposta certa; estrela do circuito, jamais voltaria a jogar em quadras que não fossem as centrais, horário nobre, com TV.
Era questão de tempo saber quando Federer igualaria e bateria os maiores do tênis. Quando passa Bjorn Borg? Quando fecha o Grand Slam e iguala Rod Laver? Quando bate o recorde de Grand Slams de Pete Sampras? Era sempre "quando?", e nunca "será?". Assim, sem surpresas, viriam os Grand Slams 10, 11, 12, 13, mais fãs e admiradores, mais recordes, e sua única pedra no sapato, um sujeito chamado Rafael Nadal. O "quando" dos recordes históricos foi adiado, mas o "será?" nunca deu as caras.
Já homem casado, acostumado a quadras centrais e holofotes, buscou os títulos que lhe faltavam: 14, 15 Grand Slams, Roland Garros, a reconquista de Wimbledon. No jogo em que deixou para trás qualquer discussão à la futebol, sobre quem seria o melhor, estavam todos lá. Laver, professor, dizia: "Não olhem a bola; olhem as pernas, vejam como movem, o movimento de um campeão". Borg sorria, tranquilo, sueco. Sampras saiu de casa à noite, na véspera, atravessou os EUA, o Atlântico e o trânsito para chegar ao clube. E Federer, que não gostava de plateia e preferia as quadras do fundo, passou quatro horas e tanto jogando na central, para o mundo e para os três homens vivos mais importantes da história do tênis, que estavam ali só por causa dele. Assim Federer fez história no tênis e no esporte.
E não sozinho: sem Nadal para criar dificuldades, não teria se fortalecido. Sem Sampras e seus recordes, não teria o que ultrapassar. Sem Borg e seu estilo, não teria em quem se espelhar. Sem Laver e suas conquistas, não teria com quem se emocionar. E mesmo sem Roddick, seu eterno freguês, de quem ganhou quase 20 vezes, não teria tido um duelo fantástico e uma consagração à altura de seu talento no domingo.
O melhor? Federer, sincero, sabe disso e respeita cada um desses senhores, respeita cada minuto da história do tênis. O tênis não poderia ter um "melhor de todos os tempos" melhor que Roger Federer. reandaku@uol.com.br


Texto Anterior: Vôlei: Seleção leva susto em viagem de avião
Próximo Texto: Tostão: Quem manda é o mercado
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.