São Paulo, quinta-feira, 08 de julho de 2010

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Dor de cotovelo

Acostumado a exibir partidas da seleção inglesa, pub londrino é tomado por espanhóis e alemães

FÁBIO SEIXAS
ENVIADO ESPECIAL A LONDRES

Lee Hazell pega o microfone e avisa: "Os espanhóis, aqui no salão do fundo. Os alemães, no bar lá da frente".
No começo, até funciona. Quinze minutos depois, porém, todos estão misturados.
Numa boa.
"É gostoso assistir a um jogo assim, lado a lado com os rivais. Dá para provocar, ver as reações deles na hora", diz Verena Webner, 25, estudante, bandeirinha alemã pintada nas bochechas.
Hazell é elétrico, não para. Sobe e desce as escadas, vai de um canto a outro, dá ordens, brinca com os clientes.
Galês, 40 anos, desde 2002 é gerente do Famous Three Kings, um dos principais representantes de uma instituição britânica: pubs dedicados a exibir jogos de futebol.
O aparato é pesado. Grudado na estação de metrô West Kensington, o bar conta com três telões, 11 TVs de plasma, dois aparelhos convencionais de TV, 12 caixas de som. Tecnicamente, pode mostrar 14 partidas simultaneamente. O foco, claro, são as rodadas de final de semana do Campeonato Inglês.
Mas ontem foi quarta-feira. O jogo era um só. E cliente inglês era mosca-branca.
"Eles estão com um pouco de inveja", afirma Verena.
Hazell confirma. Desde que a seleção da casa foi eliminada, nas oitavas de final, o movimento do pub em jogos da Copa caiu 40%. "Hoje há 350 pessoas aqui. Se fosse jogo da Inglaterra, você não conseguiria andar", conta.
Samuel Reaney, 28, é uma das raridades. "Admito que estou com uma enorme inveja. É óbvio que eu queria estar torcendo como eles hoje."
Londres é a 27ª escala da série "Um Mundo Que Torce". Até agora, foram percorridos 118.972 km desde o início da Copa, em 11 de junho.
No primeiro tempo, o que mais se ouve é a narração da BBC. Torcedores de vermelho e de branco passam todo o tempo em silêncio, tensos, no máximo comentando algo com o compatriota ao lado.
Intervalo, e a calçada da North End Road, diante do pub, fica lotada de fumantes.
"Em casa, não tem TV, então vim torcer aqui. E, embora não se manifestem, os ingleses torcem pela Espanha. Eles têm rixa com os alemães, por conta da guerra. É aquela coisa de "Seu avô matou meu avô, então não gosto de você'", afirma Fernando Antuña, 24, de Sevilha.
Mais gente chega. Ainda não é público de seleção inglesa, mas já se aproxima do quorum de um grande clássico. "Está parecendo Liverpool x Manchester United", diz Hazell, antes de pedir a uma espanhola que saísse de cima da mesa de bilhar.
"E nunca tem briga?", pergunta o repórter. "Quanto tem, é entre ingleses. Estrangeiros não arrumam confusão", responde o gerente.
Ontem não teve.
Nem quando os espanhóis comemoraram o gol, nem quando o jogo acabou, nem quando os alemães começaram a deixar o pub. Sobre a porta, a placa com as imagens dos três reis que batizam o lugar: Henrique 8º, Carlos 2º e Elvis Presley.


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