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Dor de cotovelo
Acostumado a exibir partidas da seleção inglesa, pub londrino é tomado por espanhóis e alemães
FÁBIO SEIXAS
ENVIADO ESPECIAL A LONDRES
Lee Hazell pega o microfone e avisa: "Os espanhóis,
aqui no salão do fundo. Os
alemães, no bar lá da frente".
No começo, até funciona.
Quinze minutos depois, porém, todos estão misturados.
Numa boa.
"É gostoso assistir a um jogo assim, lado a lado com os
rivais. Dá para provocar, ver
as reações deles na hora", diz
Verena Webner, 25, estudante, bandeirinha alemã pintada nas bochechas.
Hazell é elétrico, não para.
Sobe e desce as escadas, vai
de um canto a outro, dá ordens, brinca com os clientes.
Galês, 40 anos, desde 2002
é gerente do Famous Three
Kings, um dos principais representantes de uma instituição britânica: pubs dedicados a exibir jogos de futebol.
O aparato é pesado. Grudado na estação de metrô
West Kensington, o bar conta
com três telões, 11 TVs de
plasma, dois aparelhos convencionais de TV, 12 caixas
de som. Tecnicamente, pode
mostrar 14 partidas simultaneamente. O foco, claro, são
as rodadas de final de semana do Campeonato Inglês.
Mas ontem foi quarta-feira. O jogo era um só. E cliente
inglês era mosca-branca.
"Eles estão com um pouco
de inveja", afirma Verena.
Hazell confirma. Desde
que a seleção da casa foi eliminada, nas oitavas de final,
o movimento do pub em jogos da Copa caiu 40%. "Hoje
há 350 pessoas aqui. Se fosse
jogo da Inglaterra, você não
conseguiria andar", conta.
Samuel Reaney, 28, é uma
das raridades. "Admito que
estou com uma enorme inveja. É óbvio que eu queria estar torcendo como eles hoje."
Londres é a 27ª escala da
série "Um Mundo Que Torce". Até agora, foram percorridos 118.972 km desde o início da Copa, em 11 de junho.
No primeiro tempo, o que
mais se ouve é a narração da
BBC. Torcedores de vermelho e de branco passam todo
o tempo em silêncio, tensos,
no máximo comentando algo
com o compatriota ao lado.
Intervalo, e a calçada da
North End Road, diante do
pub, fica lotada de fumantes.
"Em casa, não tem TV, então vim torcer aqui. E, embora não se manifestem, os ingleses torcem pela Espanha.
Eles têm rixa com os alemães, por conta da guerra. É
aquela coisa de "Seu avô matou meu avô, então não gosto
de você'", afirma Fernando
Antuña, 24, de Sevilha.
Mais gente chega. Ainda
não é público de seleção inglesa, mas já se aproxima do
quorum de um grande clássico. "Está parecendo Liverpool x Manchester United",
diz Hazell, antes de pedir a
uma espanhola que saísse de
cima da mesa de bilhar.
"E nunca tem briga?", pergunta o repórter. "Quanto
tem, é entre ingleses. Estrangeiros não arrumam confusão", responde o gerente.
Ontem não teve.
Nem quando os espanhóis
comemoraram o gol, nem
quando o jogo acabou, nem
quando os alemães começaram a deixar o pub. Sobre a
porta, a placa com as imagens dos três reis que batizam o lugar: Henrique 8º,
Carlos 2º e Elvis Presley.
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