São Paulo, terça-feira, 08 de agosto de 2006

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MELCHIADES FILHO

Fui!

Depois de 529 semanas ininterruptas de artigos, o colunista se despede deste espaço -e se enrola todo

ESTA coluna é para dizer adeus.
Pensei em gritar pela última vez que o Brasil precisa sofisticar os métodos de treinamento. "Os atletas são inteligentes demais para se comover com broncas ou frases de efeito", diz o técnico da Nova Zelândia (da Nova Zelândia!).
Na NBA, o empirismo faz tempo não tem vez. O novo "general manager" do Houston nunca jogou ou treinou.
É um cientista que estuda a relação entre estatística, administração e esporte. Aqui, os nostálgicos e preguiçosos preferem lembrar que Garrincha humilhou os computadores soviéticos -e esquecem que não surgiu outro Garrincha. Vão de Dunga, pela "atitude". Ignoram as deficiências técnicas e acham que com "união" (ou "vontade política") tudo se resolve. Afe.
Não, o texto de partida não poderia ficar assim, impessoal. Foram dez anos, Melk! Cadê a emoção?
Uma idéia seria imitar o Maguila e elencar agradecimentos, nomear os 3.247 leitores que me procuraram, mandar um beijo carinhoso para Loyde Daiuto, a primeira-dama do basquete nacional, e um nada carinhoso para Fernanda Belling, a ala mais sexy de todas. Mas, por mais que eu espremesse o texto, alguém bacana ficaria de fora.
Outra, divertida, seria pedir perdão pelos erros aqui cometidos. Não é que um dia o cara chamou o maior de todos de Michael... Jackson?!
Rápido, fui para a defensiva. Fale dos acertos, dos bons momentos, tolo! Lembre as entrevistas de Jordan e Shaq, as conversas com Chamberlain e Gomelski, a Fanta Uva dividida com Olajuwon, a noite em que Stockton e Malone fizeram "pick'n roll" com duas groupies, o amasso na Lauren Jackson (ok, é cascata), os furos, as primeiras menções na imprensa a Splitter, Huertas, Iziane e LeBron (antes do NYT). Ou liste o título das 529 colunas e avise que parte já está no melk.blog.uol.com.br.
Uma saída, mais justa, seria reverenciar os veteranos do bicampeonato mundial, os que plantaram a semente daquilo que tentei irrigar. Estou, porém, em falta com eles, envergonhado. Os depoimentos e documentos inéditos dormem na gaveta, mas um dia o livro sai, juro!
Cogitei, então, indicar um sucessor, citar os que, inspirados ou não pela coluna, rumam contra a maré e estabelecem o contraditório, todos na internet. O Paulo Murilo, o Bruno no Diário, a turma do Draft Brasil, o Bert do PBF, a dupla do Rebote, o Gian no UOL, o Balassiano, o Marcel no Databasket. Seria, contudo, audácia de minha parte.
Pensei, finalmente, em me despedir com violência, em reciclar o artigo histórico do Tarso de Castro (o maluco que me meteu na profissão): "Grego é um bosta, Lula é um bosta, Barbosa é um bosta...". Ia fazer sucesso, causar um barulhão. Só que eu não estaria por perto para ouvi-lo. Lembrei que os surdos não gritam e realizei que esse jogo para mim acabou, que preciso me acostumar com o silêncio. Até!

ANTEPENÚLTIMO...
Que Paula, Hortência, Oscar e Marcel sejam resgatados. Pela primeira vez os quatro não têm relação direta com um time. Marcel faz tempo merece a chance de treinar a seleção masculina (a feminina podiam entregar a Paulo Bassul). Paula devia ser diretora técnica da confederação; Oscar e Hortência, embaixadores (arrecadadores) do esporte.

...PENÚLTIMO...
Que o país tenha campeonatos independentes, organizados pelos clubes, mas atrelados a um circuito de base -este, sim, gerenciado pela CBB, assim como as seleções.

...E ÚLTIMO DESEJOS
Que a Folha não se curve ao diz-que-diz do futebol e mantenha a vigília sobre os "outros" esportes, cada vez mais populares -e ainda financiados pelo dinheiro público.


melk@uol.com.br

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