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MELCHIADES FILHO
Fui!
Depois de 529 semanas ininterruptas de artigos, o
colunista se despede deste
espaço -e se enrola todo
ESTA coluna é para dizer adeus.
Pensei em gritar pela última vez que o Brasil precisa
sofisticar os métodos de treinamento. "Os atletas são inteligentes demais para se comover com broncas
ou frases de efeito", diz o técnico da
Nova Zelândia (da Nova Zelândia!).
Na NBA, o empirismo faz tempo não
tem vez. O novo "general manager"
do Houston nunca jogou ou treinou.
É um cientista que estuda a relação
entre estatística, administração e
esporte. Aqui, os nostálgicos e preguiçosos preferem lembrar que Garrincha humilhou os computadores
soviéticos -e esquecem que não
surgiu outro Garrincha. Vão de
Dunga, pela "atitude". Ignoram as
deficiências técnicas e acham que
com "união" (ou "vontade política")
tudo se resolve. Afe.
Não, o texto de partida não poderia ficar assim, impessoal. Foram
dez anos, Melk! Cadê a emoção?
Uma idéia seria imitar o Maguila e
elencar agradecimentos, nomear os
3.247 leitores que me procuraram,
mandar um beijo carinhoso para
Loyde Daiuto, a primeira-dama do
basquete nacional, e um nada carinhoso para Fernanda Belling, a ala
mais sexy de todas. Mas, por mais
que eu espremesse o texto, alguém
bacana ficaria de fora.
Outra, divertida, seria pedir perdão pelos erros aqui cometidos. Não
é que um dia o cara chamou o maior
de todos de Michael... Jackson?!
Rápido, fui para a defensiva. Fale
dos acertos, dos bons momentos, tolo! Lembre as entrevistas de Jordan
e Shaq, as conversas com Chamberlain e Gomelski, a Fanta Uva dividida com Olajuwon, a noite em que
Stockton e Malone fizeram "pick'n
roll" com duas groupies, o amasso
na Lauren Jackson (ok, é cascata), os
furos, as primeiras menções na imprensa a Splitter, Huertas, Iziane e
LeBron (antes do NYT). Ou liste o título das 529 colunas e avise que parte já está no melk.blog.uol.com.br.
Uma saída, mais justa, seria reverenciar os veteranos do bicampeonato mundial, os que plantaram a
semente daquilo que tentei irrigar.
Estou, porém, em falta com eles,
envergonhado. Os depoimentos e
documentos inéditos dormem na
gaveta, mas um dia o livro sai, juro!
Cogitei, então, indicar um sucessor, citar os que, inspirados ou não
pela coluna, rumam contra a maré
e estabelecem o contraditório, todos na internet. O Paulo Murilo, o
Bruno no Diário, a turma do Draft
Brasil, o Bert do PBF, a dupla do
Rebote, o Gian no UOL, o Balassiano, o Marcel no Databasket. Seria,
contudo, audácia de minha parte.
Pensei, finalmente, em me despedir com violência, em reciclar o
artigo histórico do Tarso de Castro
(o maluco que me meteu na profissão): "Grego é um bosta, Lula é um
bosta, Barbosa é um bosta...". Ia fazer sucesso, causar um barulhão.
Só que eu não estaria por perto para ouvi-lo. Lembrei que os surdos
não gritam e realizei que esse jogo
para mim acabou, que preciso me
acostumar com o silêncio. Até!
ANTEPENÚLTIMO...
Que Paula, Hortência, Oscar e Marcel sejam resgatados. Pela primeira
vez os quatro não têm relação direta com um time. Marcel faz tempo
merece a chance de treinar a seleção masculina (a feminina podiam
entregar a Paulo Bassul). Paula devia ser diretora técnica da confederação; Oscar e Hortência, embaixadores (arrecadadores) do esporte.
...PENÚLTIMO...
Que o país tenha campeonatos independentes, organizados pelos
clubes, mas atrelados a um circuito
de base -este, sim, gerenciado pela
CBB, assim como as seleções.
...E ÚLTIMO DESEJOS
Que a Folha não se curve ao diz-que-diz do futebol e mantenha a vigília sobre os "outros" esportes, cada vez mais populares -e ainda financiados pelo dinheiro público.
melk@uol.com.br
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