São Paulo, terça-feira, 08 de agosto de 2006

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Festa fará Pan reluzir, diz guru do COI

Michael Payne, que reergueu finanças olímpicas, diz que cartolas valorizam mais atmosfera do que obras ou medalhas

Especialista em marketing esportivo visita Brasil e afirma que Copa em 2014 pode dificultar sonho olímpico do país em 2016


GUILHERME ROSEGUINI
DA REPORTAGEM LOCAL

Não é a qualidade das instalações nem a eficiência do projeto de segurança e o número de medalhas obtidas pelo Brasil.
Para chamar a atenção dos cartolas mais influentes do esporte durante o Pan do Rio, em 2007, é preciso incentivar o público a lotar os estádios e criar um clima de festa nas ruas. Só assim o país conseguirá alavancar o projeto de receber uma Olimpíada em 2016.
A sentença é polêmica, soa até superficial, mas parte de uma das figuras mais importantes na história recente do Comitê Olímpico Internacional. O autor da proposição é Michael Payne, que dirigiu por 21 anos o departamento de marketing da entidade.
Sua história no esporte começa em meados dos anos 80, depois que o boicote político liderado pelos americanos à Olimpíada de Moscou, em 1980, e o revide comandado pela então União Soviética em Los Angeles-1984 enfraqueceram as finanças e quase levaram o COI à falência. Payne precisou profissionalizar os contratos publicitários e remodelar a imagem da instituição.
Em 2004, o inglês deixou o cargo após transformar os cinco anéis olímpicos em uma marca que movimenta US$ 4 bilhões com direitos de TV e receitas de patrocinadores.
"Há três coisas que o Brasil precisa fazer no Pan para chamar a atenção do COI: evitar falhas técnicas graves como organizador, encher os estádios e criar uma atmosfera de festa nas ruas da cidade. É isso que os dirigentes gostam de ver", explica Payne à Folha.
Então, qual a importância das instalações esportivas, do projeto de segurança para proteger locais e forasteiros, fatores que levaram o governo brasileiro a prometer R$ 1,3 bilhão para o evento do Rio?
"Se tudo der certo, será um ponto positivo. Mas uma Olimpíada é muito mais que um torneio esportivo. Hoje, os dirigentes prestam muita atenção na receptividade do público, na atmosfera que o país é capaz de criar. Ter a melhor infra-estrutura não assegura uma edição dos Jogos a ninguém", diz.
Payne chegou ontem ao Brasil para promover o lançamento de seu livro, "Virada Olímpica", que trata de seu período à frente do marketing do COI.
A tradução da obra para o português foi viabilizada pela editora Casa da Palavra em parceria com o Comitê Olímpico Brasileiro, cujo presidente, Carlos Arthur Nuzman, chefia também o órgão responsável pela organização do Pan.
O inglês recorda que o Brasil foi derrotado nas três últimas oportunidades em que tentou abrigar os Jogos -pleiteou as edições de 2000, 2004 e 2012.
"Para 2016, o trunfo de vocês está mais na situação política do que na qualidade dos serviços que podem ser oferecidos", diz ele. "A Olimpíada nunca veio para a América do Sul. A Europa vai receber em 2012 (Londres), a Ásia em 2008 (Pequim). Há um desejo do COI de dar uma roupagem global aos Jogos. Por isso, levar o evento para o público latino-americano é interessante", completa.
Só que Payne encontra um entrave neste cenário: a Copa. De acordo com o especialista, o fato de o Brasil ter intenções de receber o torneio mais badalada do futebol em 2014 pode prejudicar o projeto olímpico.
"Outros países já fizeram, mas é preciso olhar este tema com atenção. São os dois principais eventos esportivos do mundo. Exigem investimentos, exigem esforços. É preciso ter consciência de que organizar ambos satisfatoriamente não é uma tarefa simples."
Investimentos, aliás, integram outro tema controverso de seu discurso. Payne defende a participação do Estado na construção de instalações para eventos como o Pan.
Explica, porém, que o emprego de tanto dinheiro público só vale se a população realmente precisar das piscinas, dos estádios e dos ginásios erguidos. "Esporte é bem-estar social. Mas gastar verba com algo que não vai ser usado é um erro. Na última Olimpíada, em 2004, os gregos ergueram um estádio de beisebol em Atenas. A população local não gosta de beisebol. Então, após os Jogos, tudo acabou abandonado."
Questionado se as obras bancadas pelos governos estadual, municipal e federal no Rio não seriam exageradas, como as preparadas em Atenas, Payne despistou. "Não conheço bem o projeto para opinar. Prefiro falar em conceitos."


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