|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Festa fará Pan reluzir, diz guru do COI
Michael Payne, que reergueu finanças olímpicas, diz que cartolas valorizam mais atmosfera do que obras ou medalhas
Especialista em marketing esportivo visita Brasil e afirma que Copa em 2014 pode dificultar sonho olímpico do país em 2016
GUILHERME ROSEGUINI
DA REPORTAGEM LOCAL
Não é a qualidade das instalações nem a eficiência do projeto de segurança e o número de
medalhas obtidas pelo Brasil.
Para chamar a atenção dos
cartolas mais influentes do esporte durante o Pan do Rio, em
2007, é preciso incentivar o público a lotar os estádios e criar
um clima de festa nas ruas. Só
assim o país conseguirá alavancar o projeto de receber uma
Olimpíada em 2016.
A sentença é polêmica, soa
até superficial, mas parte de
uma das figuras mais importantes na história recente do
Comitê Olímpico Internacional. O autor da proposição é
Michael Payne, que dirigiu por
21 anos o departamento de
marketing da entidade.
Sua história no esporte começa em meados dos anos 80,
depois que o boicote político liderado pelos americanos à
Olimpíada de Moscou, em
1980, e o revide comandado pela então União Soviética em
Los Angeles-1984 enfraqueceram as finanças e quase levaram o COI à falência. Payne
precisou profissionalizar os
contratos publicitários e remodelar a imagem da instituição.
Em 2004, o inglês deixou o
cargo após transformar os cinco anéis olímpicos em uma
marca que movimenta US$ 4
bilhões com direitos de TV e receitas de patrocinadores.
"Há três coisas que o Brasil
precisa fazer no Pan para chamar a atenção do COI: evitar falhas técnicas graves como organizador, encher os estádios e
criar uma atmosfera de festa
nas ruas da cidade. É isso que os
dirigentes gostam de ver", explica Payne à Folha.
Então, qual a importância
das instalações esportivas, do
projeto de segurança para proteger locais e forasteiros, fatores que levaram o governo brasileiro a prometer R$ 1,3 bilhão
para o evento do Rio?
"Se tudo der certo, será um
ponto positivo. Mas uma Olimpíada é muito mais que um torneio esportivo. Hoje, os dirigentes prestam muita atenção
na receptividade do público, na
atmosfera que o país é capaz de
criar. Ter a melhor infra-estrutura não assegura uma edição
dos Jogos a ninguém", diz.
Payne chegou ontem ao Brasil para promover o lançamento de seu livro, "Virada Olímpica", que trata de seu período à
frente do marketing do COI.
A tradução da obra para o
português foi viabilizada pela
editora Casa da Palavra em
parceria com o Comitê Olímpico Brasileiro, cujo presidente,
Carlos Arthur Nuzman, chefia
também o órgão responsável
pela organização do Pan.
O inglês recorda que o Brasil
foi derrotado nas três últimas
oportunidades em que tentou
abrigar os Jogos -pleiteou as
edições de 2000, 2004 e 2012.
"Para 2016, o trunfo de vocês
está mais na situação política
do que na qualidade dos serviços que podem ser oferecidos",
diz ele. "A Olimpíada nunca
veio para a América do Sul. A
Europa vai receber em 2012
(Londres), a Ásia em 2008 (Pequim). Há um desejo do COI de
dar uma roupagem global aos
Jogos. Por isso, levar o evento
para o público latino-americano é interessante", completa.
Só que Payne encontra um
entrave neste cenário: a Copa.
De acordo com o especialista, o
fato de o Brasil ter intenções de
receber o torneio mais badalada do futebol em 2014 pode
prejudicar o projeto olímpico.
"Outros países já fizeram,
mas é preciso olhar este tema
com atenção. São os dois principais eventos esportivos do
mundo. Exigem investimentos,
exigem esforços. É preciso ter
consciência de que organizar
ambos satisfatoriamente não é
uma tarefa simples."
Investimentos, aliás, integram outro tema controverso
de seu discurso. Payne defende
a participação do Estado na
construção de instalações para
eventos como o Pan.
Explica, porém, que o emprego de tanto dinheiro público só vale se a população realmente precisar das piscinas,
dos estádios e dos ginásios erguidos. "Esporte é bem-estar
social. Mas gastar verba com
algo que não vai ser usado é um
erro. Na última Olimpíada, em
2004, os gregos ergueram um
estádio de beisebol em Atenas.
A população local não gosta de
beisebol. Então, após os Jogos,
tudo acabou abandonado."
Questionado se as obras bancadas pelos governos estadual,
municipal e federal no Rio não
seriam exageradas, como as
preparadas em Atenas, Payne
despistou. "Não conheço bem o
projeto para opinar. Prefiro falar em conceitos."
Texto Anterior: Melchiades Filho: Fui! Próximo Texto: Frase Índice
|