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China experimenta ressaca olímpica
Um ano após sediar Jogos, chineses veem investimento privado em esporte se retrair e focam apenas o alto rendimento
Especialistas dizem que país não deve ter tanto sucesso em Londres-2012 quanto na última Olimpíada, quando liderou quadro de medalhas
Greg Baker/Associated Press
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Turistas tiram fotos com o Ninho de Pássaro ao fundo, ontem, na véspera do aniversário de uma no da cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos de Pequim
MARIANA BASTOS
MARIANA LAJOLO
DA REPORTAGEM LOCAL
A China organizou a mais
grandiosa Olimpíada para exibir ao mundo seu poder.
Um ano depois, as autoridades chinesas ainda desfrutam
do sucesso da mensagem que
passaram. Mas o esporte não
encontrou o mesmo terreno
fértil para continuar a crescer.
O programa chinês de submeter atletas a intensos programas de treinamento para
vencerem os Jogos continua.
A criação de uma massa de
praticantes, no entanto, parece
não ser prioridade no país.
Atualmente, menos de 30% da
população chinesa pratica esportes regularmente.
"O governo chinês investe a
maior parte do orçamento na
elite, para criar patriotismo, em
vez de desenvolver uma estrutura para que as pessoas comuns pratiquem esporte", afirma Xiaozhou Zhang, especialista em esporte chinês.
"Como no Brasil, o esporte é
mais urbano, e as empresas focam o mercado urbano. Potenciais atletas que surgem nas
áreas rurais são tirados de casa
muito cedo para entrarem no
programa voltado para o alto
rendimento", completa ele.
Atletas chineses que alcançaram a medalha de ouro desfrutam de situação mais confortável no país atualmente. Foram
alçados ao status de heróis.
Mas o investimento nos treinamentos de elite também não
é mais o mesmo do período
pré-Olimpíada. Muitas empresas que ofereciam incentivos
para a busca pelas medalhas de
ouro fecharam as torneiras.
"Por outro lado, muitos empregados do comitê organizador dos Jogos foram transferidos para a administração esportiva. Acho que pode ser dada mais atenção ao dia a dia do
esporte do que antes", diz a antropóloga americana Susan
Bownell, autora do livro "Jogos
de Pequim: O que a Olimpíada
Significa para a China".
Especialistas acreditam que
o desempenho da China em
Londres-2012 não será tão retumbante quando o alcançado
no ano passado. Além de o investimento ter arrefecido, a
motivação de ganhar a medalha
de ouro a qualquer custo não
estará mais presente.
O governo chinês usou a
Olimpíada como forte instrumento de propaganda política.
Além de mostrar força ao mundo, reforçou internamente sua
imagem com a chuva de medalhas de seus atletas e a grandiosidade das instalações.
Fazer parte desse projeto era
uma obrigação dos competidores. Muitos atletas tiveram de
assinar contrato em que se
comprometiam a subir no lugar
mais alto do pódio.
"O modelo de esporte competitivo gerido pelo Estado ainda existe, mas o desejo desesperado de provar que a China é
um grande país diminuiu e o
governo e o povo enxergam o
esporte de uma forma mais racional e menos patriótica agora", diz Guoqi Xu, pesquisador
da Universidade de Harvard.
Sem impulso financeiro tão
grande e com uma causa já
atingida, os esportistas e os torcedores chineses também se
veem um pouco órfãos de seus
maiores astros.
Liu Xiang, que calou o Ninho
de Pássaro ao desistir dos 110 m
com barreiras, está machucado. Não vai disputar o Mundial
de atletismo, neste mês. Seu
técnico culpa o rigoroso sistema de treinamento chinês pela
grave lesão no pé de seu pupilo.
O jogador Yao Ming, astro da
NBA, ainda se recupera de uma
cirurgia no pé esquerdo, realizada no meio de julho. Com isso, não pôde ser aproveitado
pela equipe nacional na Copa
Asiática, que teve início anteontem. Aguarda-se sua recuperação para o Mundial-2010.
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