São Paulo, sábado, 08 de agosto de 2009

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China experimenta ressaca olímpica

Um ano após sediar Jogos, chineses veem investimento privado em esporte se retrair e focam apenas o alto rendimento

Especialistas dizem que país não deve ter tanto sucesso em Londres-2012 quanto na última Olimpíada, quando liderou quadro de medalhas

Greg Baker/Associated Press
Turistas tiram fotos com o Ninho de Pássaro ao fundo, ontem, na véspera do aniversário de uma no da cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos de Pequim

MARIANA BASTOS
MARIANA LAJOLO
DA REPORTAGEM LOCAL

A China organizou a mais grandiosa Olimpíada para exibir ao mundo seu poder.
Um ano depois, as autoridades chinesas ainda desfrutam do sucesso da mensagem que passaram. Mas o esporte não encontrou o mesmo terreno fértil para continuar a crescer.
O programa chinês de submeter atletas a intensos programas de treinamento para vencerem os Jogos continua.
A criação de uma massa de praticantes, no entanto, parece não ser prioridade no país. Atualmente, menos de 30% da população chinesa pratica esportes regularmente.
"O governo chinês investe a maior parte do orçamento na elite, para criar patriotismo, em vez de desenvolver uma estrutura para que as pessoas comuns pratiquem esporte", afirma Xiaozhou Zhang, especialista em esporte chinês.
"Como no Brasil, o esporte é mais urbano, e as empresas focam o mercado urbano. Potenciais atletas que surgem nas áreas rurais são tirados de casa muito cedo para entrarem no programa voltado para o alto rendimento", completa ele.
Atletas chineses que alcançaram a medalha de ouro desfrutam de situação mais confortável no país atualmente. Foram alçados ao status de heróis.
Mas o investimento nos treinamentos de elite também não é mais o mesmo do período pré-Olimpíada. Muitas empresas que ofereciam incentivos para a busca pelas medalhas de ouro fecharam as torneiras.
"Por outro lado, muitos empregados do comitê organizador dos Jogos foram transferidos para a administração esportiva. Acho que pode ser dada mais atenção ao dia a dia do esporte do que antes", diz a antropóloga americana Susan Bownell, autora do livro "Jogos de Pequim: O que a Olimpíada Significa para a China".
Especialistas acreditam que o desempenho da China em Londres-2012 não será tão retumbante quando o alcançado no ano passado. Além de o investimento ter arrefecido, a motivação de ganhar a medalha de ouro a qualquer custo não estará mais presente.
O governo chinês usou a Olimpíada como forte instrumento de propaganda política. Além de mostrar força ao mundo, reforçou internamente sua imagem com a chuva de medalhas de seus atletas e a grandiosidade das instalações.
Fazer parte desse projeto era uma obrigação dos competidores. Muitos atletas tiveram de assinar contrato em que se comprometiam a subir no lugar mais alto do pódio.
"O modelo de esporte competitivo gerido pelo Estado ainda existe, mas o desejo desesperado de provar que a China é um grande país diminuiu e o governo e o povo enxergam o esporte de uma forma mais racional e menos patriótica agora", diz Guoqi Xu, pesquisador da Universidade de Harvard.
Sem impulso financeiro tão grande e com uma causa já atingida, os esportistas e os torcedores chineses também se veem um pouco órfãos de seus maiores astros.
Liu Xiang, que calou o Ninho de Pássaro ao desistir dos 110 m com barreiras, está machucado. Não vai disputar o Mundial de atletismo, neste mês. Seu técnico culpa o rigoroso sistema de treinamento chinês pela grave lesão no pé de seu pupilo.
O jogador Yao Ming, astro da NBA, ainda se recupera de uma cirurgia no pé esquerdo, realizada no meio de julho. Com isso, não pôde ser aproveitado pela equipe nacional na Copa Asiática, que teve início anteontem. Aguarda-se sua recuperação para o Mundial-2010.


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