Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
FUTEBOL
Para magnata que comprou o futebol do Corinthians, salário de jogadores brasileiros é mais "lógico"
"Posso aprender o futebol", diz Hicks
MARCIO AITH
de Washington
Ele não conhece todas as regras
de futebol e até hoje só assistiu a
jogos do esporte pela TV. Mas
Thomas Hicks, 53, afirma ter certeza de que isso não vai prejudicar
o time que comprou, o Corinthians, nem os negócios, no Brasil, de sua companhia, a HMTF
(Hicks, Muse, Tate & Furst).
"Tenho certeza de que posso
aprender as regras muito rápido",
disse à Folha o principal controlador da companhia. "Além disso,
os times brasileiros precisam de
dinheiro, e nós temos planos para
modernizar os estádios, melhorar
as equipes. Seja no Brasil, no Texas ou na Europa, é preciso dinheiro para fazer isso."
Em entrevista concedida por telefone de Dallas, sede de seus negócios, Hicks disse não existir
conflito de interesses entre seus
vários investimentos no Brasil,
que incluem a compra de uma
participação acionária na Traffic
(empresa que controla o Departamento de Esportes da TV Bandeirantes) e de um canal de TV por
assinatura (leia texto ao lado).
"Isso é uma coisa que já fizemos
no Texas. Formamos primeiro
uma rede de TV a cabo e depois
compramos um time de hóquei e
outro de beisebol. A melhor forma de aumentar a audiência e
atrair mais anúncios é melhorar
os times", afirmou.
Hicks disse que sua empresa está ainda negociando a compra
dos direitos sobre o futebol do
Flamengo (o clube, porém, já
anunciou que fechou contrato
com a suíça ISL).
Segundo o magnata texano, a
prioridade de sua companhia é
investir na América Latina, onde
os salários dos jogadores são mais
baixos dos que os pagos aos astros
do Texas Rangers, o time de beisebol que comprou por mais de
US$ 200 milhões. Na avaliação dele, os valores praticados no Brasil
são mais "lógicos".
Leia a seguir os principais trechos da entrevista à Folha.
Folha - Por que o senhor comprou o Corinthians?
Thomas Hicks - Com as experiências em investimentos esportivos que tivemos no Texas,
aprendemos que o mundo esportivo é uma mídia especial. O esporte desperta paixão nas pessoas, e isso as leva a pagar para ver
jogos pela TV a cabo.
Na América do Sul, essa paixão
é ainda maior e por um só esporte, que é o futebol.
Acreditamos que dá para construir uma rede de canais esportivos no Brasil tendo o futebol como o foco central. Isso nos fez
querer comprar um time.
Folha - Mas por que a HMTF
escolheu comprar o futebol do
Corinthians?
Hicks - Porque ele é (tão popular) como o Dallas Cowboys (time de futebol americano), no Texas, e o Yankees (de beisebol), em
Nova York.
Folha - Mas o senhor gosta de
futebol, acompanha o esporte?
Hicks - Bem, é um esporte que
lentamente vai ficando popular
nos Estados Unidos. Mas sempre
me diverti ao assistir a jogos de
Copas do Mundo na TV e vendo o
entusiasmo com o futebol na
América Latina.
Folha - O senhor conhece todas as regras do futebol? A regra do impedimento, por exemplo, sabe como funciona?
Hicks - Não conheço todas as regras, mas sei mais agora sobre futebol do que sabia sobre hóquei
quando comprei um time de hóquei. Tenho certeza de que posso
aprender as regras muito rápido.
Folha - O senhor alguma vez já
assistiu a um jogo de futebol no
estádio? Tem planos de viajar
para o Brasil e assistir a um jogo
do Corinthians?
Hicks - Meu sócio Charles Tate
já foi ao Corinthians, conheceu o
clube e até a sala dos troféus. Eu
pretendo ir até o fim do ano.
Folha - O senhor quer comprar
o Flamengo? Há uma negociação em andamento?
Hicks - Roberto Muller, nosso
representante no Brasil, tem tido
várias conversas a esse respeito.
Vamos ver o resultado.
Folha - Se o senhor realmente
fechar o negócio com o Flamengo, não criará problemas com os
torcedores dos dois times (Flamengo e Corinthians)?
Hicks - Na prática, não estamos
comprando os times. O que estamos comprando são os direitos
sobre as marcas. Isso depende dos
donos de fato.
Folha - Qual é a diferença entre comprar um time de futebol
e um de beisebol?
Hicks - Neste momento, beisebol é um negócio difícil porque os
salários dos jogadores estão muito altos. A folha de salários dos jogadores do Texas Rangers hoje é
de US$ 70 milhões ao ano. No futebol brasileiro parece haver mais
lógica nos valores.
Folha - O senhor comprou o
Texas Rangers do governador
do Texas, George W. Bush, por
cerca de US$ 200 milhões. Pelo
Corinthians o senhor pagou US$
20 milhões. Na sua opinião, esses valores estão corretos?
Hicks - Estão. O grupo que me
vendeu o Texas Rangers o havia
comprado por apenas US$ 60 milhões. O que houve foi uma valorização tremenda.
Folha - O senhor comprou
também a Traffic, que controla
a divisão de esportes da TV Bandeirantes. Existe conflito de interesses em ser ao mesmo tempo dono de um time de futebol
e de parte de uma empresa que
controla as transmissões dos
campeonatos de futebol na TV?
Por exemplo: se o Corinthians
estiver jogando mal, você tira o
time do ar?
Hicks - Não. O mais provável é
que liberemos os recursos necessários para o time melhorar.
Os times brasileiros precisam de
dinheiro. Nós temos planos para
modernizar os estádios, melhorar
as equipes. Seja no Brasil, no Texas ou na Europa, é preciso de dinheiro para fazer isso.
Folha - O senhor não vê mesmo conflito de interesses nisso?
Hicks - Não, isso é uma coisa
que já fizemos no Texas. Nós formamos primeiro uma rede de TV
a cabo e depois compramos um
time de hóquei e outro de beisebol. A melhor forma de aumentar
a audiência e atrair mais anúncios
é melhorar os times.
Folha - Quando o senhor construirá um novo estádio para o
Corinthians?
Hicks - Não tenho detalhes para
comentar o assunto, mas sei que
já tivemos conversas com arquitetos. Estamos comprometidos
com esse objetivo.
Folha - O senhor tem planos
de fazer mais investimentos no
Mercosul?
Hicks - Nós temos interesse especial na Argentina, onde fizermos grandes investimentos em
TV a cabo e telefonia.
Achamos que a Argentina e o
Brasil estarão no foco de nossos
investimentos em futebol. Há
nestes dois países o suficiente para criar algo realmente excitante.
Folha - Nos Estados Unidos, o
senhor também é conhecido pelas suas ligações com o governador Bush, atual pré-candidato
à presidência do país pelo Partido Republicano. Essas ligações
são verdadeiras?
Hicks - Claro que são. Eu sou
um grande fã dele e sou partidário
de sua candidatura.
Folha - Os democratas dizem
que a venda dos Rangers por
Bush ao senhor foi uma negociação suspeita por causa do alto lucro que ele teve. O senhor
teria pago um valor excessivo
pelo time...
Hicks - Houve uma valorização
real dos Rangers.
Folha - O senhor entrou no
mercado argentino de uma maneira considerada polêmica.
Comprou ações numa companhia de telecomunicações (a CEI
Citicorp) que pertenciam a Raúl
Moneda, um amigo do presidente Carlos Menem hoje procurado pela polícia por fraude
fiscal e crime financeiro relacionados com operações de bancos. Isso não prejudica sua imagem na região?
Hicks - Os problemas de Raúl
nada têm a ver com a CEI. Foi um
episódio triste para ele.
No entanto, é curioso perceber
que justamente os problemas nos
quais Raul se envolveu nos permitiram adquirir um controle ainda
maior na companhia. Ele precisou de dinheiro, nós de ações.
Agora controlamos 73% dos votos da CEI.
Texto Anterior: Argentina já viu ofensiva Próximo Texto: No Brasil, o objetivo é comprar TVs Índice
|