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Poluição ameaça atletas e preocupa em Pequim-08
Ar sujo pode comprometer desempenho de competidores e até induzir asma
Comitê dos EUA pretende enviar delegação à capital chinesa só às vésperas de disputas e sugere o uso de máscaras em treinamentos
ADALBERTO LEISTER FILHO
MARIANA BASTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
A partir de 8 de agosto de
2008, o mundo poderá se deleitar com o que o crescimento da
economia chinesa pode proporcionar a uma Olimpíada.
O Estádio Nacional, conhecido como Ninho de Pássaros, e o
Centro de Natação, apelidado
de Cubo D'Água por simular
bolhas, podem surpreender pela tecnologia. Mas a poluição do
ar, preço alto pago pelo chineses pelo crescimento, provoca
pesadelos no Bocog (comitê organizador dos Jogos).
Paira o temor de que atletas
sejam vistos com inaladores de
oxigênio para recuperar o fôlego ou até com máscaras durante os treinos para impedir o
contato com os poluentes.
"Em geral, o nível de poluição
em Pequim é significativamente pior do que Los Angeles, variando em cada local de competição", disse à Folha Randy Wilber, fisiologista do Usoc
(Comitê Olímpico dos EUA),
citando a cidade que tem pior
qualidade do ar em seu país.
Diante deste cenário inadequado, alguns comitês nacionais, como Reino Unido, Austrália e EUA, mobilizam-se. Estudiosos procuram meios para
minimizar os efeitos nocivos
da poluição principalmente em
atletas de provas de resistência, como ciclismo e triatlo.
"Não esperaria um recorde
mundial na maratona de Pequim", disse Marco Cardinale,
médico do Comitê Olímpico do
Reino Unido, em entrevista à
revista alemã "Der Spiegel".
A maior preocupação está no
nível de CO (monóxido de carbono), que pode se fixar na hemoglobina, impedindo-a de
transportar oxigênio no corpo.
"Mesmo em um dia de céu
azul, pode haver alta concentração de CO, que é incolor e
inodoro", explica Wilber, que já
visitou seis vezes Pequim desde março de 2006 para medir
os níveis de poluentes nos 31
locais onde haverá competição.
Outra grave constatação foi a
alta concentração de dióxido
de nitrogênio (NO2) e de dióxido de enxofre (SO2) que podem
induzir a asma até em atletas
que nunca tiveram a doença.
Um dos remédios para tratamento da asma é o beta-2 agonista, considerado doping. A licença para uso só é permitida após aprovação do COI (Comitê Olímpico Internacional).
"Estamos testando nossos
atletas para avaliar os efeitos
da poluição do ar no funcionamento dos pulmões. Assim, se
houver problemas respiratórios, eles poderão ser medicados a tempo", comenta Wilber.
Segundo ele, sintomas de asma foram observados em 27%
da delegação dos EUA em Atenas-04. A expectativa é que essa proporção aumente consideravelmente em Pequim-08.
Baseado em seus estudos,
Wilber elaborou uma cartilha
de "sobrevivência" para os atletas. Ela os aconselha a levarem
um item a mais na bagagem:
uma máscara de carvão ativado
para minimizar os efeitos do ar
inadequado de Pequim.
Além disso, recomenda que o
Usoc faça aclimatação na Coréia do Sul. O objetivo é chegar
a Pequim só às vésperas dos Jogos, evitando a exposição aos
poluentes. "Não queremos aclimatar à poluição do ar. Queremos evitá-la o máximo possível
antes de competir", afirma ele.
É uma contradição em relação ao projeto da candidatura
de Pequim, que prometia a realização de "Jogos Verdes". Até
agora foram investidos US$
15,7 bilhões (R$ 28,4 bilhões)
para melhorar a qualidade ambiental. Tudo isso, contudo, pode não ser suficiente para remover a faixa cinza de poluentes que paira sobre a cidade.
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