São Paulo, segunda-feira, 08 de outubro de 2007

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Poluição ameaça atletas e preocupa em Pequim-08

Ar sujo pode comprometer desempenho de competidores e até induzir asma

Comitê dos EUA pretende enviar delegação à capital chinesa só às vésperas de disputas e sugere o uso de máscaras em treinamentos

ADALBERTO LEISTER FILHO
MARIANA BASTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

A partir de 8 de agosto de 2008, o mundo poderá se deleitar com o que o crescimento da economia chinesa pode proporcionar a uma Olimpíada.
O Estádio Nacional, conhecido como Ninho de Pássaros, e o Centro de Natação, apelidado de Cubo D'Água por simular bolhas, podem surpreender pela tecnologia. Mas a poluição do ar, preço alto pago pelo chineses pelo crescimento, provoca pesadelos no Bocog (comitê organizador dos Jogos).
Paira o temor de que atletas sejam vistos com inaladores de oxigênio para recuperar o fôlego ou até com máscaras durante os treinos para impedir o contato com os poluentes.
"Em geral, o nível de poluição em Pequim é significativamente pior do que Los Angeles, variando em cada local de competição", disse à Folha Randy Wilber, fisiologista do Usoc (Comitê Olímpico dos EUA), citando a cidade que tem pior qualidade do ar em seu país.
Diante deste cenário inadequado, alguns comitês nacionais, como Reino Unido, Austrália e EUA, mobilizam-se. Estudiosos procuram meios para minimizar os efeitos nocivos da poluição principalmente em atletas de provas de resistência, como ciclismo e triatlo.
"Não esperaria um recorde mundial na maratona de Pequim", disse Marco Cardinale, médico do Comitê Olímpico do Reino Unido, em entrevista à revista alemã "Der Spiegel".
A maior preocupação está no nível de CO (monóxido de carbono), que pode se fixar na hemoglobina, impedindo-a de transportar oxigênio no corpo.
"Mesmo em um dia de céu azul, pode haver alta concentração de CO, que é incolor e inodoro", explica Wilber, que já visitou seis vezes Pequim desde março de 2006 para medir os níveis de poluentes nos 31 locais onde haverá competição.
Outra grave constatação foi a alta concentração de dióxido de nitrogênio (NO2) e de dióxido de enxofre (SO2) que podem induzir a asma até em atletas que nunca tiveram a doença.
Um dos remédios para tratamento da asma é o beta-2 agonista, considerado doping. A licença para uso só é permitida após aprovação do COI (Comitê Olímpico Internacional).
"Estamos testando nossos atletas para avaliar os efeitos da poluição do ar no funcionamento dos pulmões. Assim, se houver problemas respiratórios, eles poderão ser medicados a tempo", comenta Wilber.
Segundo ele, sintomas de asma foram observados em 27% da delegação dos EUA em Atenas-04. A expectativa é que essa proporção aumente consideravelmente em Pequim-08.
Baseado em seus estudos, Wilber elaborou uma cartilha de "sobrevivência" para os atletas. Ela os aconselha a levarem um item a mais na bagagem: uma máscara de carvão ativado para minimizar os efeitos do ar inadequado de Pequim.
Além disso, recomenda que o Usoc faça aclimatação na Coréia do Sul. O objetivo é chegar a Pequim só às vésperas dos Jogos, evitando a exposição aos poluentes. "Não queremos aclimatar à poluição do ar. Queremos evitá-la o máximo possível antes de competir", afirma ele.
É uma contradição em relação ao projeto da candidatura de Pequim, que prometia a realização de "Jogos Verdes". Até agora foram investidos US$ 15,7 bilhões (R$ 28,4 bilhões) para melhorar a qualidade ambiental. Tudo isso, contudo, pode não ser suficiente para remover a faixa cinza de poluentes que paira sobre a cidade.


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