São Paulo, quinta-feira, 08 de outubro de 2009 |
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JUCA KFOURI Um olhar sobre o ufanismo
VISTO CARAPUÇAS quando endereçadas por gente de que gosto e respeito. Pois eis que no domingo passado o querido Sérgio Cabral mandou uma e na segunda-feira o não menos querido Ruy Castro mandou outra. Ambos são figuras de que gosto muito e que, além de respeitar, admiro. Cabral dedicou a felicidade dele pela escolha do Rio-2016 "aos chatos, incluindo jornais e jornalistas (e um tal Alberto Murray) que não escondem sua torcida contra o Rio de Janeiro sob os mais variados pretextos". Não poderia ter sido mais infeliz em sua justa felicidade de carioca da gema e pai do governador do Estado. Primeiramente, porque Murray não só não é "um tal" como é um brasileiro tão valoroso, e tão raro, que, em vez de se aproveitar de eventuais mordomias do COB, preferiu denunciar suas mazelas. E sobre jornalistas cumpre dizer que, como ensina o também carioca da gema Millôr Fernandes, o papel deles é ser oposição, não armazém de secos e molhados, razão pela qual devem mesmo fiscalizar, coisa que Cabral também já fez, até quando membro do Tribunal de Contas do Estado do Rio. Não quero ser mais um jornalista ex-amigo de Cabral por criticar seu filho, que conheci criança, e entendo suas dores quando lê denúncias sobre mansão em Angra dos Reis, propinoduto etc. O suficiente, portanto, para estranhar a imprudência que cometeu no estilo do déspota perfumado Carlos "Zagallo" Nuzman, que, entre um tique nervoso e outro, chamou de "amargurados por sete anos" os que criticam a farra que foi o Pan-Americano de 2007. Ledo ivo engano de Cabral e Nuzman, assim como do mineiro (e nada como um mineiro quando dá para adotar a Cidade Maravilhosa...) Ruy Castro, que andou vendo perseguição aos cariocas como se fossem símbolos de corrupção. Bobagem. Foi em São Paulo que se irrigou o lema do rouba, mas faz, ao contrário do Rio, que elegeu um prefeito tão correto que, dizem, por incompetência na gestão, desmoralizou a honestidade. É claro que o problema da corrupção e da falta de uma política esportiva é nacional e que o Brasil seria um país muito melhor se fosse um imenso Rio de Janeiro, com todos os seus problemas. Problemas, vale repetir, que a Olimpíada-2016 pode resolver, como a de 1992 resolveu em Barcelona -embora a de 2004 não tenha resolvido em Atenas. O que não se pode é mergulhar no clima de ufanismo, do ame-o ou deixe-o, porque isso lembra os tempos em que Cabral era preso político e Castro, não o comandante barbudo, resistia ao seu modo no Solar da Fossa. Recomenda-se, por sinal, a seção de cartas de "O Globo" da última segunda-feira, na qual as três missivas referentes à Rio-2016, todas da cidade do Rio, são críticas e uma delas até apela: "Nossa esperança é a de que a imprensa fique atenta. O Rio merece". Daí me sentir obrigado a dizer que jamais roubei livro em Paris, ou em qualquer outro lugar, nem compro de camelô, como não suborno guardas de trânsito, não sonego impostos e exijo nota fiscal do médico ao posto de gasolina. Enfim, um chato. Que fiscalizará. blogdojuca@uol.com.br Texto Anterior: Time misto faz Santos ganhar e desejar G4 Próximo Texto: Sem "talismã" de Muricy, Palmeiras encara o Avaí Índice |
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